O conceito de ESG e sua interligação com a saúde
Abordagem redefine o capitalismo, buscando equilibrar lucro com responsabilidade ambiental e social, reinventando práticas sustentáveis e inclusivas
O conceito de ESG (Environmental, Social and Governance ou, na tradução do inglês, Ambiente, Social e Governança Corporativa) representa uma evolução transformadora no mundo dos negócios, que vai muito além da simples busca pelo lucro. Este modelo de gestão integra de forma estratégica as dimensões ambientais, sociais e de governança, com o objetivo de gerar impactos positivos para a sociedade e o planeta. E quando se fala em ESG, uma das vozes mais influentes no Brasil é a de Luis Wolf Trzcina, advogado, economista e contador. Trzcina é autor de uma obra pioneira que estabelece conexões inovadoras entre os temas de ESG, tributos e propósito empresarial. Sua publicação, intitulada “Conectando tributos a propósito”, já se encontra disponível para pré-venda na Amazon (Conectando Tributos a Propósito | Amazon.com.br) e nos traz seus valiosos insights sobre essa abordagem holística para os negócios. Por isso, tenho o prazer de recebê-lo como nosso convidado especial nesta conversa.
Dr. Fabiano M. Serfaty: O que exatamente significa ESG?
Luis Wolf Trzcina: A sigla ESG representa “Environmental, Social e Governance” (Ambiental, Social e Governança). Vamos desmembrar esses conceitos:
1. Ambiental (E): Refere-se à preocupação com o meio ambiente. Empresas ESG buscam práticas sustentáveis, redução de emissões de carbono e preservação dos recursos naturais.
2. Social (S): Envolve questões sociais, como diversidade, igualdade de gênero, saúde e segurança dos funcionários. O foco é criar um ambiente de trabalho saudável e inclusivo.
3. Governança (G): Trata da estrutura de gestão da empresa. Isso inclui transparência, ética, conformidade com regulamentos e boas práticas de governança corporativa.
A governança é fundamental para implementar essa nova mentalidade ESG, indo além das boas intenções e tornando-as realidade. Por exemplo, regulamentos internos que proíbem práticas abusivas e planos de carreira que promovem a diversidade são indicadores de uma boa governança.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Poderia explicar de forma mais concreta como o ESG funciona?
Luis Wolf Trzcina: O ESG representa um capitalismo revigorado, consciente e com objetivos mais amplos do que apenas o lucro financeiro. Imagine um líder empresarial questionando: “De que adianta gerar lucro se o ambiente de trabalho é tóxico, com assédio sexual e moral?” Ou ainda: “É positivo lucrar enquanto emitimos grandes quantidades de gases de efeito estufa?” Em resumo, o ESG vai além da “caixinha” dos resultados financeiros e considera o impacto holístico da atividade empresarial na sociedade. É uma abordagem que busca equilibrar lucro com responsabilidade ambiental e social.
Dr. Fabiano M. Serfaty: E por que este conceito ganhou tanta notoriedade no pós-pandemia?
Luis Wolf Trzcina: Curiosamente, lembro que ainda em 2020 antevimos o potencial deste assunto, ao publicarmos um artigo conjunto neste mesmo veículo tratando de ESG. Fantástico notar a relevância que o assunto tomou desde então. A meu ver, foram três os principais elementos que levaram o ESG a uma posição de protagonismo de 2020 em diante: 1) uma maior preocupação dos líderes do capitalismo global (o que inclui os executivos das grandes empresas brasileiras) em deixarem um legado; 2) o temor do cancelamento em virtude de ações que possam ser encaradas como afronta ao meio ambiente e ao social (por exemplo: rompimentos de barragens e práticas racistas); e 3) as mudanças climáticas serem cada vez mais evidenciadas pelos estudos de diversas autoridades especializadas no assunto.
Dr. Fabiano M. Serfaty: E como ESG se correlaciona com a saúde, sob o ponto de vista do “E”, isto é, sob a lente ambiental?
Luis Wolf Trzcina: Pelo que tenho acompanhado, os hospitais, empresas farmacêuticas e provedores de serviços médicos em geral têm adotado ações ambientais bem positivas para o planeta. Isso inclui o uso racional dos recursos naturais, promovendo o reuso de água e a utilização de fontes limpas de energia, bem como uma adequada gestão dos resíduos, desde a sua coleta até a destinação final, evitando-se desperdícios e estimulando a reciclagem.
Dr. Fabiano M. Serfaty: E quanto ao “S”, de Social, como o setor de saúde se conecta com isso?
Luis Wolf Trzcina: A busca por um ambiente de trabalho amigável e colaborativo acaba gerando maior satisfação dos colaboradores e uma atenção mais humanizada aos pacientes. Note-se que a saúde mental é um item de cuidado crucial e isso abrange não só o cuidado com os pacientes, mas também para quem cuida do bem-estar dos outros, pois o “burnout” acaba sendo um efeito das exaustivas condições de trabalho a que os profissionais médicos por muitas vezes estão submetidos.
Dr. Fabiano M. Serfaty: E qual a sua visão sobre o papel da telemedicina nos pilares ESG?
Luis Wolf Trzcina: A telemedicina também é parte do “S”, pois a expansão da abrangência dos cuidados médicos acaba contemplando comunidades remotas, além de pessoas que antes estavam sob cuidados escassos e que agora podem ter maior acesso a orientações médicas. Além disso, reduz a necessidade de deslocamento e, consequentemente, a emissão de gases de efeito
estufa (o que se conecta com o “E”).
Dr. Fabiano M. Serfaty: Como você vislumbra o futuro do ESG?
Luis Wolf Trzcina: Entendo que o ESG é parte inseparável do futuro das organizações, a despeito das tolas divagações, que tentam politizar este bem-vindo avanço na consciência coletiva. Ser ESG não é só questão de ser “bonzinho” ou “querer ficar bem na fita”. Vai bem além disso, pois empresas com governanças bem estruturadas acabam gerando resultados mais positivos, tanto aos acionistas (pois são mitigados os riscos de perdas ambientais e sociais vultuosas), bem como para a sociedade como um todo. Indo além, as novas gerações são bem zelosas quanto ao futuro do planeta, o que torna os pilares ESG de condução obrigatória pelos líderes que querem manter suas atividades realmente sustentáveis. Vale notar, por fim, que esse “novo capitalismo” necessita de ações governamentais firmes, como, por exemplo, no sentido de aumentar a tributação sobre os alimentos que provocam a obesidade e na criação de estímulos financeiros e fiscais para a inovação e para a adoção de práticas de sustentabilidade dos negócios.