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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.

Medicamento inovador pode mudar o tratamento da disfunção sexual feminina

Cientistas brasileiros desenvolvem gel à base de veneno de aranha que pode melhorar a vida sexual das mulheres.

Por Dr. Fabiano M. Serfaty e Dr. Paulo Lacativa
Atualizado em 2 nov 2025, 14h56 - Publicado em 2 nov 2025, 11h45
O despertar da sexualidade vem em olhar para si mesma em detalhes, explorar o que considera irresistivelmente prazeroso, apreciar-se e fortalecer a habilidade de comunicar o que se deseja.
O despertar da sexualidade vem em olhar para si mesma em detalhes, explorar o que considera irresistivelmente prazeroso, apreciar-se e fortalecer a habilidade de comunicar o que se deseja. (Divulgação/Divulgação)
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Dr. Fabiano M. Serfaty: A disfunção sexual feminina afeta milhões de mulheres em todo o mundo e segue sendo uma das condições mais negligenciadas da medicina moderna. Estudos mostram que até 45% das mulheres enfrentam, em algum momento da vida, redução do desejo, dificuldade de lubrificação ou ausência de orgasmo. Mesmo assim, menos de 10% buscam acompanhamento médico especializado.Essa realidade começa a mudar com o avanço de uma nova geração de terapias fundamentadas em ciência, tecnologia e compreensão mais profunda da fisiologia feminina. Mais do que tratar sintomas, essas inovações devolvem à mulher a conexão com o próprio corpo, o prazer e o direito de viver a sexualidade com equilíbrio e plenitude. Por isso, convidei o Dr. Paulo Lacativa, médico endocrinologista e CEO da Biozeus Biopharmaceutical, para explicar em detalhes o impacto dessa inovação e mostrar como a ciência brasileira está ajudando a reescrever o futuro da saúde sexual feminina. Enquanto existem hoje diversos medicamentos eficazes para o tratamento da disfunção erétil masculina, ainda são raras as opções voltadas à disfunção sexual feminina. Na sua opinião, o que justifica essa diferença tão marcante entre os avanços voltados aos homens e aqueles destinados às mulheres?

Dr. Paulo Lacativa: As mulheres têm sido deixadas de lado quando se trata de problemas específicos de saúde. Por exemplo, usando dados dos Estados Unidos, se excluirmos remédios para câncer de mama, apenas 1% das pesquisas na área de saúde foram investidas em condições específicas da mulher. Na lista de medicações das empresas, menos de 2% eram produtos de saúde da mulher, embora a mulher possua 80% das decisões de compra de produtos para a saúde nos Estados Unidos. Em relação à função sexual não é diferente. Enquanto o órgão masculino foi descrito completamente ainda no Egito Antigo, a anatomia do clitóris só foi corretamente descrita em 1998! Um remédio destinado para a disfunção sexual feminina causa desmaios na mulher que ingere álcool porque o estudo realizado para avaliar esta interação não detectou este problema, pois foi feito em 23 homens e apenas 2 mulheres! Inacreditável um remédio destinado para mulheres ter parte do seu estudo feito em homens. Esta realidade vem mudando nos últimos anos, junto com a Sociedade, e cada vez mais pesquisas são feitas e incentivadas focando na mulher.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Usualmente na cultura popular existem várias anedotas que a função sexual do homem é simples, enquanto o da mulher seria mais complexa. Você concorda com esta afirmação?

Dr. Paulo Lacativa: Acredito que propagar que a função sexual da mulher é complexa pode piorar o estigma. A mulher vai se sentir menos propensa a procurar tratamento se achar que seu problema é difícil, assim como os médicos que passarem esta mensagem também estarão dificultando uma vida sexual saudável. Fica mais fácil dividir em 5 domínios a função sexual: desejo, excitação, lubrificação, ausência de dor, orgasmo e satisfação sexual. Primeiro a mulher tem fantasias ou pensamentos (desejo); e a estimulação dos seus sentidos com o parceiro ou a parceira causa mudanças no corpo, como enrijecimento dos mamilos, aumento do volume de sangue nos clitóris e grandes e pequenos lábios deixando-os inchados (excitação), seguido de lubrificação, que impede que tenha dor durante a penetração, facilitando ao orgasmo e então a mulher tem uma experiência sexual positiva que a faz ter mais desejo e assim o ciclo recomeça. Mas se tiver alguma dificuldade em um ou mais destas etapas, ocorre a disfunção sexual e o ciclo se torna negativo, uma vez que a experiência sexual negativa levará à redução do desejo.

Dr. Fabiano M. Serfaty: A disfunção sexual é um problema muito comum nas mulheres?

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Dr. Paulo Lacativa: Um estudo brasileiro da Carmita Abdo, o ECOS, mostrou que mulheres tem 3 vezes mais falta de desejo e dificuldade de orgasmo comparado aos homens. Cerca de metade das mulheres do estudo apresentaram algum tipo de disfunção sexual.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Vocês estão desenvolvendo um novo medicamento brasileiro para o tratamento da disfunção sexual feminina. Quais foram os principais resultados observados até o momento nos estudos realizados?

Dr. Paulo Lacativa: Sim, se trata de um gel que tem um composto ativo que veio da biodiversidade brasileira. Da observação que o veneno da aranha armadeira causava um grande aumento no volume de sangue nos órgãos genitais, pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de Minas Gerais conseguiram isolar o composto e melhorá-lo, e até o momento tem o nome de BZ371A. Já se contam 10 anos até o isolamento do composto e mais 10 anos de desenvolvimento do remédio. Um estudo feito na UERJ, capitaneado pelo Dr. Marco Aurélio Oliveira e pela Dra. Leila Brollos, professores de ginecologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, selecionou mulheres que tinha disfunção sexual feminina, tanto na pré-menopausa como mulheres que já estavam sem menstruar. Para se ter uma ideia, antes de entrarem no estudo, apenas 46.1% dos encontros sexuais eram satisfatórios em relação ao grau de excitação, e a taxa de desejo era de 41%. Ao usarem placebo, isto é o gel sem o composto ativo, que funcionaria como um lubrificante comum, a satisfação com o nível de excitação subiu apenas para 51%, enquanto com o BZ371A foi de 84%. Nenhuma medicação no mundo fez isto em mulheres na pré-menopausa até hoje. É um resultado surpreendente. E, com a melhora da excitação, toda a “roda” voltou a girar: o BZ371A, comparado com as taxas que as mulheres apresentavam antes de entrar no estudo, aumentou desejo, excitação, lubrificação, reduziu dor, aumentou as taxas de orgasmo e consequentemente a satisfação sexual. Em relação à segurança, o gel com BZ371A se mostrou seguro e foi bem tolerado, não sendo diferente do placebo.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Quando este medicamento estará disponível no mercado brasileiro? Conte com exclusividade quais serão os próximos passos para que esse tratamento inovador chegue à prática clínica.

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Dr. Paulo Lacativa: Ainda estamos esperando a aprovação da ANVISA para realizar os últimos estudos. O estudo da UERJ serviu para escolhermos a melhor dose, e mesmo utilizando o menor volume de 0,5ml a medicação foi eficaz. Então agora testaremos esta dose em mais mulheres, em mais centros do Brasil, separando em dois estudos as mulheres na pré-menopausa com aquelas que já não menstruam mais. Esse será o passo final de um processo científico rigoroso que une pesquisa, inovação e esperança. Com a conclusão desses estudos, teremos dados sólidos que poderão comprovar, de forma definitiva, a segurança e a eficácia dessa nova terapia hormonal voltada à saúde da mulher. O objetivo é oferecer um tratamento inovador, acessível e transformador, capaz de melhorar o equilíbrio hormonal, o bem-estar e a qualidade de vida de milhões de mulheres brasileiras em diferentes fases da vida, da pré-menopausa à pós-menopausa. Essa conquista representa um avanço importante na medicina preventiva e na saúde feminina, fortalecendo o protagonismo da ciência nacional e abrindo caminho para um futuro mais saudável e equilibrado para todas as mulheres.

 

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