Mpox: entenda a doença
Secretário municipal de saúde do Rio esclarece as principais dúvidas sobre a zoonose viral anteriormente conhecida como varíola dos macacos
Com o recente aumento de casos de Mpox, surgiram muitas dúvidas e preocupações na população. Para quem ainda não está familiarizado, a Mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, é uma zoonose viral que ganhou atenção global nos últimos anos devido a surtos fora de áreas tradicionalmente endêmicas. A doença é causada pelo vírus Monkeypox, que pertence à mesma família do vírus da varíola humana, embora tenda a causar uma forma mais leve da doença. Transmitida por contato direto com lesões, fluidos corporais ou materiais contaminados, a Mpox pode afetar tanto humanos quanto certos animais.
Para abordar essas preocupações e esclarecer as principais questões sobre a Mpox, convidei o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Dr. Daniel Soranz, para esta entrevista. Ele, que tem se destacado por sua liderança em momentos críticos da saúde pública e, com sua vasta experiência no combate a surtos e na implementação de políticas públicas de saúde, é a melhor pessoa para explicar as medidas necessárias para proteger a população. Sua visão clara sobre o manejo de doenças infecciosas e seu compromisso com a saúde pública fazem dele uma fonte confiável e essencial para abordar o tema da Mpox com clareza e precisão.
Dr. Fabiano M. Serfaty: O aumento de casos de Mpox tem gerado muitas dúvidas na população. Para começar, você poderia nos explicar o que é exatamente a Mpox e como ela se diferencia da varíola humana, que foi erradicada em 1980?
Dr.Daniel Soranz: A Mpox é uma doença viral causada pelo vírus Monkeypox, que pertence à mesma família da varíola humana, o Poxviridae. No entanto, a Mpox é menos letal e menos transmissível. Enquanto a varíola humana tinha uma taxa de mortalidade elevada e era altamente contagiosa, a Mpox geralmente causa uma doença mais branda, e a transmissão ocorre principalmente por contato direto com fluidos corporais, lesões na pele ou objetos contaminados.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Quais são os principais sintomas aos quais as pessoas devem ficar atentas e como se dá o período de incubação do vírus?
Dr. Daniel Soranz: Os sintomas iniciais da Mpox são semelhantes aos de muitas outras infecções virais: febre, dor de cabeça intensa, dores musculares e uma sensação de cansaço generalizado. O que distingue a Mpox é a erupção cutânea, que geralmente se desenvolve de um a três dias após o aparecimento da febre. Essas erupções evoluem para pústulas e depois para crostas, que acabam caindo. O período de incubação pode variar entre 5 e 21 dias, mas os sintomas geralmente aparecem entre 6 e 13 dias após a exposição ao vírus.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Em relação à transmissão, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre como o vírus se espalha. Como podemos prevenir a disseminação da Mpox, especialmente em áreas urbanas densamente povoadas como o Rio de Janeiro?
Dr. Daniel Soranz: A prevenção da Mpox envolve várias medidas importantes. Como a transmissão ocorre principalmente por contato direto com fluidos corporais ou lesões cutâneas, é fundamental evitar o contato próximo com pessoas infectadas, incluindo o compartilhamento de objetos pessoais, como toalhas ou roupas. Além disso, higienizar as mãos regularmente e evitar tocar em lesões na pele de outros indivíduos são medidas eficazes.
Dr. Fabiano M. Serfaty: E quanto à vacinação? Existe uma vacina específica para a Mpox e quem deve ser vacinado?
Dr. Daniel Soranz: Sim, existe uma vacina específica, que é baseada na vacina contra a varíola, adaptada para prevenir a Mpox. A vacinação é recomendada para pessoas que tiveram contato direto com casos confirmados ou que trabalham em ambientes de alto risco, como profissionais de saúde que atendem pacientes infectados. No entanto, a disponibilidade da vacina pode variar, e as estratégias de vacinação estão sendo ajustadas conforme a evolução dos surtos.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Uma das principais preocupações é quanto às complicações da Mpox. Quais são as possíveis complicações e quais grupos são mais vulneráveis?
Dr. Daniel Soranz: Embora a maioria das pessoas infectadas se recupere sem grandes complicações, algumas podem desenvolver infecções secundárias nas lesões cutâneas, pneumonia, ou até mesmo problemas oculares, se as lesões atingirem essa área. Grupos vulneráveis, como crianças pequenas, gestantes, pessoas imunocomprometidas e aqueles com condições de saúde preexistentes, estão em maior risco de desenvolver formas mais graves da doença.
Dr. Fabiano M. Serfaty: A Mpox tem sido frequentemente associada a animais. Qual é o papel dos animais na transmissão da doença e quais precauções devemos tomar em relação aos animais de estimação?
Dr. Daniel Soranz: A Mpox é uma zoonose, o que significa que pode ser transmitida de animais para humanos. Roedores e primatas são os principais reservatórios do vírus na natureza. No entanto, não há evidências de que animais de estimação domésticos, como cães e gatos, desempenhem um papel significativo na transmissão para humanos. Ainda assim, é prudente manter uma boa higiene ao manusear animais e evitar contato com animais selvagens, especialmente em áreas onde a Mpox é endêmica.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Como a Secretaria municipal de Saúde tem estruturado suas ações para garantir que os profissionais de saúde da rede pública estejam não apenas cientes da doença, mas também adequadamente preparados para diagnosticar e tratar os pacientes de forma rápida e eficiente?
Dr. Daniel Soranz: A Secretaria municipal de Saúde tem trabalhado de maneira proativa para enfrentar esse desafio. Já treinamos mais de 6 mil profissionais de saúde em toda a rede municipal, capacitando-os para identificar precocemente os sintomas da Mpox e aplicar os protocolos adequados de tratamento. Além disso, todos esses profissionais receberam orientações detalhadas sobre medidas de controle de infecção, fluxos de atendimento e o manejo de casos, garantindo que a população tenha acesso a cuidados de qualidade em qualquer ponto da nossa rede de saúde. Nossa prioridade é sempre agir de forma rápida e coordenada para minimizar a propagação e os impactos da doença.
No Rio de Janeiro, estamos intensificando as campanhas de conscientização, treinando profissionais de saúde para o diagnóstico precoce e tratamento, e garantindo que as vacinas estejam disponíveis para aqueles que mais precisam. O objetivo é minimizar o impacto da Mpox na população e impedir que ela se torne uma ameaça maior à saúde pública.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Dr. Daniel, muito obrigado por compartilhar essas informações tão importantes. Tenho certeza de que nossos leitores se beneficiarão muito desse conhecimento.
Dr.Daniel Soranz: Foi um prazer, Fabiano. Agradeço a oportunidade de falar sobre um tema tão relevante e espero que possamos continuar colaborando para proteger a saúde pública.