Longevidade em xeque: Como a obesidade redefine o envelhecimento?
Congresso no HUPE/UERJ foca em longevidade e saúde, com ênfase em obesidade e envelhecimento.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Em um país onde a expectativa de vida se aproxima dos 80 anos, impulsionada por avanços em saúde pública e medicina, surge um paradoxo alarmante: a obesidade, que afeta mais de 60% da população acima do peso ideal segundo o Censo de Obesidade 2023, e com prevalência de 20% em adultos conforme estudos recentes, ameaça converter esses ganhos em uma carga de doenças crônicas. Essa condição inflamatória não só eleva o risco de hipertensão, resistência à insulina, doenças cardiovasculares e diabetes ,responsáveis por 70% das mortes em idosos, de acordo com o Ministério da Saúde, mas projeta um futuro sombrio: até 2044, quase metade dos brasileiros adultos pode viver com obesidade, conforme relatórios da World Obesity Federation. O desafio não é apenas viver mais, mas envelhecer com vitalidade em uma nação que acelera seu envelhecimento demográfico.
É nesse panorama que o 63º Congresso Científico do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), se posiciona como um catalisador de transformações. Programado para 25 a 29 de agosto de 2025, sob o tema Longevidade & Saúde, o evento atrai mais de 3.000 participantes e registra um recorde de 551 trabalhos submetidos, reunindo debates sobre ciência de ponta, tecnologias emergentes e políticas inovadoras. A mesa-redonda “Hipertensão Arterial e Obesidade no Indivíduo Idoso” desponta como epicentro, explorando interseções entre essas patologias e o envelhecimento saudável. Para esclarecer as inovações e os desafios relacionados a longevidade convidei, o Professor Dr. Mario Fritsch Neves, Professor Titular de Clínica Médica na UERJ e coordenador do Centro Biomédico da UERJ. Com o 63º Congresso do HUPE batendo recordes de submissões e focando em longevidade, por que a interseção entre hipertensão arterial e obesidade no idoso emerge como um tema pivotal, especialmente em um Brasil onde projeções indicam 48% de adultos obesos até 2044?
Dr. Fabiano M. Serfaty: A gordura visceral, prevalente em idosos, não só agrava a hipertensão como promove resistência à insulina, conforme suas pesquisas. Quais avanços em arterial health e metabolismo, apresentados no congresso, oferecem novas estratégias para mitigar esses riscos e estender o healthspan?
Dr. Mario Fritsch Neves: Os trabalhos apresentados demonstram que estamos avançando para além da simples perda de peso. Há novos agentes farmacológicos capazes de atuar simultaneamente na glicemia, pressão arterial e inflamação. A avaliação da gordura visceral por métodos de imagem avançada permite estratificação precoce de risco, e protocolos personalizados de intervenção metabólica oferecem perspectivas de extensão do healthspan. Esses resultados só se tornaram mais visíveis pela qualidade científica do congresso e pelo esforço coletivo da organização.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Suas contribuições em hipertensão destacam o papel da tecnologia: como a inteligência artificial e a medicina de precisão, integradas no HUPE, revolucionam o tratamento de obesidade e hipertensão em idosos, e quais caminhos viabilizam sua expansão no SUS apesar de restrições orçamentárias?
Dr. Mario Fritsch Neves: A aplicação da inteligência artificial já mostra resultados concretos, como a previsão de risco cardiovascular baseada em dados clínicos de rotina. A integração desses algoritmos a prontuários eletrônicos viabiliza terapias individualizadas. O desafio é a incorporação em larga escala no SUS. Caminhos promissores incluem o desenvolvimento de modelos simplificados para atenção primária e o uso de algoritmos de baixo custo. Ressalto que essa discussão foi viabilizada pela organização exemplar deste congresso, que reuniu especialistas em tecnologia da informação, ciência de dados, medicina e saúde pública.
Dr. Fabiano M. Serfaty: A obesidade acelera a sarcopenia, comprometendo a autonomia: quais evidências de intervenções nutricionais e exercícios resistidos, discutidas no congresso, provam eficácia em reverter fragilidade inflamatória sem sacrificar mobilidade em populações envelhecidas?
Dr. Mario Fritsch Neves: A obesidade acelera a perda de massa muscular e funcionalidade. Evidências recentes, discutidas neste congresso, demonstram que o exercício resistido associado a suplementação proteica adequada reduz inflamação, melhora sensibilidade à insulina e restaura força muscular. A progressão gradual da carga, com atenção a limitações articulares, é fundamental para preservar mobilidade e independência. A integração entre fisioterapeutas, nutricionistas e médicos, estimulada pela estrutura multidisciplinar do evento, é determinante para validar essas estratégias.
Dr. Fabiano M. Serfaty: O Harvard Study of Adult Development revela conexões sociais como preditores chave de longevidade, superando fatores como dieta. Como o isolamento, exacerbado pela pandemia, interage com obesidade e hipertensão para elevar riscos cardiovasculares, e quais modelos comunitários inovadores o congresso propõe para combatê-lo?
Dr. Mario Fritsch Neves: O isolamento social intensificou o sedentarismo, aumentou obesidade e agravou hipertensão, elevando riscos cardiovasculares. O congresso destaca soluções baseadas em redes comunitárias híbridas, combinando interação presencial e digital para promover atividade física, orientação nutricional e suporte psicológico. A inclusão do tema no programa reforça a visão abrangente da comissão organizadora, que soube incorporar fatores sociais como determinantes críticos da longevidade.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Biomarcadores como proteína C-reativa e marcadores de resistência à insulina ganham tração em suas publicações: quais novidades em monitoramento inflamatório para idosos obesos estão sendo debatidas no congresso, e como eles podem prever e prevenir eventos arteriais precoces?
Dr. Mario Fritsch Neves: Além da proteína C-reativa, novos marcadores, como IL-6 ultrassensível e derivados da microbiota intestinal, estão sendo explorados para prever risco cardiovascular precoce em idosos obesos. O uso de painéis multimarcadores integrados à inteligência artificial permite estratificação mais precisa e antecipação de eventos arteriais. Essa abordagem preventiva representa um avanço significativo e foi amplamente discutida graças ao elevado nível científico deste congresso.
Dr. Fabiano M. Serfaty: Diante de um evento que redefine paradigmas, qual mensagem disruptiva a mesa-redonda do 63º Congresso transmite a profissionais de saúde, pacientes e policymakers para forjar um envelhecimento equitativo e resiliente no Brasil, integrando ciência global a realidades locais?
Dr. Mario Fritsch Neves: A obesidade redefine o envelhecimento no Brasil e constitui um dos maiores desafios para a sustentabilidade do sistema de saúde. A mensagem central desta mesa é que não basta aumentar a expectativa de vida, é necessário garantir longevidade com vitalidade e equidade. O congresso demonstra que ciência global pode ser aplicada à realidade local, oferecendo soluções preventivas, tecnológicas e comunitárias. Quero registrar meu reconhecimento à comissão organizadora, professores, residentes e pesquisadores que tornaram este evento um marco para a medicina brasileira.
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