Imagem Blog

Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
Continua após publicidade

Desafios e inovações na medicina brasileira: o futuro do CFM

Conselho Federal de Medicina é responsável por guiar a prática médica no país, assegurando que ela se mantenha dentro de padrões éticos e de qualidade

Por Dr. Fabiano M. Serfaty e Dr. Raphael Câmara
Atualizado em 14 ago 2024, 21h35 - Publicado em 14 ago 2024, 15h20
Executivo de terno e gravata segura uma arte que remete à tecnologia da inteligência artificial.
Inteligência Artificial: responsabilidade do uso da I.A. na Medicina está em discussão em todo mundo. (Shutterstock/Reprodução)
Continua após publicidade

A medicina no Brasil atravessa um período de intensas transformações e desafios. O país enfrenta questões como a necessidade de modernização das práticas e tecnologias, de melhoria da qualidade do ensino médico, e de busca por soluções para a sustentabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS). A ascensão da telemedicina, o uso crescente de inteligência artificial e os avanços na Medicina de Precisão estão moldando rapidamente o campo, exigindo que tanto profissionais quanto instituições se adaptem a essas novas realidades. Ao mesmo tempo, a disparidade no acesso à saúde entre diferentes regiões do Brasil e a judicialização da prática médica continuam a ser problemas urgentes.

Nesse cenário, o Conselho Federal de Medicina (CFM) tem a responsabilidade de guiar a prática médica no país, assegurando que ela se mantenha dentro de padrões éticos e de qualidade. Com a eleição recente de sua nova gestão para o quinquênio 2024-2029, liderada pelo conselheiro federal reeleito do Rio de Janeiro, Dr. Raphael Câmara, é fundamental discutir os rumos da medicina no Brasil, as prioridades desta nova gestão, e como o CFM pretende enfrentar os desafios contemporâneos.

Com essa premissa, convido para esta entrevista o Dr. Raphael Câmara , que além de conselheiro federal reeleito, foi ex-secretário nacional de atenção primária do governo Bolsonaro, é médico ginecologista, mestre em epidemiologia, doutor em Ginecologia e MBA em gestão em saúde. Nosso objetivo é explorar suas visões e estratégias para o futuro da medicina no Brasil, abordando questões técnicas e estruturais que impactam diretamente a saúde da população e a prática médica no país.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Considerando o avanço acelerado das tecnologias de saúde, como inteligência artificial e telemedicina, quais são os principais desafios regulatórios que o CFM enfrentará, e como você pretende garantir que essas inovações sejam integradas de forma ética e segura na prática médica?

Continua após a publicidade

Dr. Raphael Câmara: Cabe ao CFM regulamentar a medicina com ética em prol dos médicos e da sociedade. Regulamentamos a telemedicina na atual gestão, e ela hoje está incorporada no atendimento à população, mas sempre preservando a importância do exame físico e da consulta presencial. A inteligência artificial já é realidade nos centros mais avançados e estamos monitorando para permitir que essa tecnologia seja usada de forma que somente auxilie o paciente e o médico.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Como você analisa o resultado desta última eleição do CFM, devido ao alcance nacional com grande interesse da mídia, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo?

Dr. Raphael Câmara:  O resultado mostrou que os médicos são em sua maioria defensores da boa medicina, a favor da ciência por terem eleito um médico da UFRJ com mestrado e doutorado e dezenas de artigos publicados, que participou do ministério da Saúde no momento mais desafiador da história, durante a pandemia, tendo revolucionado a história do SUS dobrando o orçamento e implantado a primeira carreira de estado médica na atenção primária. Que os médicos defendem a vida desde a concepção e que votam em quem os defende, e não em pessoas apoiadas por pessoas com conflitos de interesses com indústrias farmacêuticas e com gestores. Tive contra mim os secretários estadual de saúde e o da capital e ganhei, mostrando que seus trabalhos foram reprovados pelos médicos. A municipalização dos hospitais federais é um erro absurdo, assim como as organizações sociais (OSs), muitas caloteiras explorando os médicos. Denunciei isso na campanha. A mídia se interessou porque houve uma tentativa de partidos de esquerda, vendo que suas políticas contra a medicina e a saúde tinham no CFM uma trincheira contrária, de dar um golpe para tomarem o CFM se utilizando de mentiras de que éramos contra a ciência. Nossa gestão no Ministério da Saúde vacinou cinco vezes toda a população brasileira para covid-19 em dois anos, enquanto a atual gestão do Ministério da Saúde não consegue vacinar 1% da população uma única vez para dengue em dois anos e produziram a maior mortandade de dengue da história do Brasil, com mais de 5000 mortes em 2024. Mas os médicos não caíram nessa lorota e, tanto no Rio quanto em São Paulo, elegeram médicos com um histórico de defesa intransigente da medicina e de perfil conservador. Os dois estados perfazem cerca de metade dos médicos do país, mas pela lei de 1957, que criou o CFM, todos os estados têm o mesmo peso, o que provoca uma subrepresentação de Rio e São Paulo no CFM.

Continua após a publicidade

Dr. Fabiano M. Serfaty: O ensino médico no Brasil tem sido alvo de críticas, especialmente no que diz respeito à disparidade na qualidade entre as instituições de ensino. Na sua próxima legislatura, como o CFM pretende atuar para harmonizar e elevar o padrão de ensino em todo o país, especialmente com a crescente abertura de novas faculdades de medicina?

Dr. Raphael Câmara: Minha defesa é do exame de ordem. Só poderá exercer a medicina quem passar na prova no estilo da OAB. A bagunça já está generalizada, com centenas de faculdades de medicina sem condições, formando médicos muitas vezes mal formados, colocando em risco a população por desmandos da lei do Mais Médicos, que permitiu essa abertura indiscriminada.

Dr. Fabiano M. Serfaty: A Medicina de Precisão, que envolve tratamentos personalizados baseados em perfis genéticos e biomarcadores, está ganhando espaço globalmente. Como o CFM pode incentivar essa abordagem no Brasil, ao mesmo tempo que regula sua aplicação para evitar práticas não comprovadas cientificamente?

Continua após a publicidade

Dr. Raphael Câmara: o CFM tem um departamento muito rigoroso que avalia novas tecnologias, e picaretagens não são autorizadas. Quem as faz, caso denunciado, responde à sindicância. Já as comprovadas são sempre muito bem vindas.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Em relação à judicialização da saúde, muitos profissionais se veem em situações de litígios complexos, especialmente relacionados à negativa de tratamentos ou à conduta médica. Quais são as suas propostas para reduzir o impacto da judicialização na prática médica e para proteger tanto os médicos quanto os pacientes?

Dr. Raphael M. Câmara: Está ficando muito difícil exercer a medicina. Processos muitas vezes somente com o objetivo de tirar dinheiro do médico em situações absurdas claramente advindas de que a medicina não é uma ciência exata. Mesmo com o médico agindo perfeitamente, o organismo não reage bem. É importante sensibilizar o judiciário para entender isso, e os parlamentares para fazerem leis nos protegendo dessas arbitrariedades que vêm desestimulando colegas a exercerem a profissão. Quanto ao litígio para medicamentos e procedimentos, é importante diálogo forte entre o CFM e o judiciário e planos de saúde.

Continua após a publicidade

Dr. Fabiano M. Serfaty: A sustentabilidade do SUS é um tema recorrente. Considerando os desafios financeiros e estruturais do sistema, qual o papel do CFM em colaborar com a formulação de políticas públicas que garantam a sustentabilidade e a qualidade do atendimento no SUS, sem comprometer a dignidade do trabalho médico?

Dr. Raphael Câmara: Fundamental. Ainda mais nesse momento em que temos um governo que ataca a medicina. Enquanto secretário nacional de atenção primária, eu dobrei o orçamento da atenção primária, que é fundamental para evitar doenças, e dobrei o orçamento da saúde materno-infantil. Também consegui a menor mortalidade materna dos 524 anos do Brasil, meu orgulho máximo. Então para termos um SUS forte é preciso orçamento e gestão. Coisa que não estamos tendo. E cabe ao CFM usar seu poder para pressionar.

Dr. Fabiano M.Serfaty: O Brasil enfrenta desafios importantes em áreas como a Atenção Primária à Saúde (APS) e a saúde em regiões remotas. Quais são as suas propostas para fortalecer a APS e garantir que médicos sejam incentivados a trabalhar em áreas menos assistidas, mantendo a qualidade do atendimento?

Continua após a publicidade

Dr. Raphael Câmara: Como eu já disse, orçamento forte e carreira de estado. Eu criei o Médicos pelo Brasil,  uma carreira de estado diferente do Mais Médicos, que é bolsa para muitos não-médicos. Nosso programa está sendo destruído pelo atual governo. É preciso fortalecê-lo para levar médicos de qualidade para onde o Brasil mais precisa.

Dr. Fabiano M. Serfaty: Em relação à atualização contínua dos profissionais de saúde, como o CFM pode atuar para garantir que os médicos brasileiros tenham acesso às melhores práticas e ao conhecimento mais recente, especialmente em um cenário onde o volume de informações científicas cresce exponencialmente?

Dr. Raphael Câmara: nós fazemos isso por meio de educação continuada com eventos, fóruns e congressos e devemos fortalecer as estratégias

Dr. Fabiano M. Serfaty: Para concluir, Dr. Raphael, quais são suas expectativas para a medicina no Brasil nos próximos cinco anos, e como o CFM, com sua força, experiência e prestígio, pretende influenciar positivamente o futuro da prática médica no país?

Dr. Raphael Câmara: Lamentavelmente, na gestão do atual governo, maus presságios. Porque é objetivo desse governo destruir a medicina por meio de trazer pessoas sem CRM e abrir faculdade de medicina sem critérios e qualidade, colocando a população pobre em risco. Mas fomos eleitos para impedir isso e é o que vamos fazer! Com o apoio da população e dos médicos. E lutando também pela vida para fazer valer a resolução de que fui relator, que proíbe matar bebê de nove meses, referendada pelos votos dos médicos do Brasil todo. Quem a defendeu ganhou em sua maioria.

Dr. Fabiano M.Serfaty: Muito obrigado pela entrevista, Dr. Raphael. Tenho certeza de que sua reeleição trará avanços significativos para a medicina brasileira.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de 39,96/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.