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Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Covid-19: a mensagem que não foi dada por nenhum país e pela OMS

As doenças crônicas, como a obesidade e a diabetes, são responsáveis por aumentar substancialmente a mortalidade por covid-19.

Por fabiano serfaty
Atualizado em 21 set 2021, 14h12 - Publicado em 21 set 2021, 03h31
veja rio
 (veja rio/Veja Rio)
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  • O mundo está vivendo várias pandemias simultâneas

A epidemia da Covid-19 e a epidemia das doenças crônicas como obesidade, doença cardiovascular, diabetes, câncer e demência.

A relação entre as epidemias é alarmante. As evidências científicas são claras em demonstrar que as doenças crônicas, como a obesidade, são responsáveis por aumentar substancialmente a mortalidade por covid-19. Vale ressaltar, que as doenças crônicas têm relação direta com a população idosa, mas também estão relacionadas com diversos outros fatores além do envelhecimento.

De acordo com o “atlas 2021 COVID-19 and Obesity: The cost of not addressing the global obesity crisis”, publicado pela worldobesity em março deste ano                                                                     (https://www.worldobesityday.org/assets/downloads/COVID-19-and-Obesity-The-2021-Atlas.pdf).

Existe no mundo uma estreita associação entre as mortes por COVID-19 e a prevalência de obesidade e sobrepeso na população adulta. Ao fazer uma comparação entre varios países do mundo, o “atlas 2021 COVID-19 and Obesity:” constatou, que nenhum país, que apresentou o IMC (índice de massa corporal) médio dos adultos menor que 25 kg/m2, apresentou uma alta taxa de mortalidade por COVID-19. A publicação também relata que nenhum país, que menos da metade dos adultos apresenta sobrepeso, possui uma alta taxa de mortalidade por COVID-19. As altas taxas de mortalidade são evidentes nos países onde a prevalência de sobrepeso e obesidade excede cerca de 50% da população adulta.

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covid obesidade mapa mundo
(covid obesidade mapa mundo/Veja Rio)

 

 

Um outro importante estudo recente, conduzido pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, demonstrou que a maioria das internações por Covid-19 nos EUA está relacionada com quatro doenças crônicas pré-existentes: obesidade, hipertensão arterial sistêmica, diabetes e insuficiência cardíaca congestiva. De acordo, com os autores do estudo, das 906 849 internações por covid-19 de adultos nos EUA, ocorridas até novembro de 2020, 30% estavam diretamente relacionadas com a obesidade; 26% com a hipertensão arterial sistêmica; 21% com a diabetes e 12% com a insuficiência cardíaca congestiva, portanto quase dois terços das internações por covid-19 foram atribuíveis às doenças crônicas. 

Ou seja, as internações por Covid-19 poderiam, de fato, terem sido evitadas se os pacientes estivessem focados em prevenir ou tratar suas doenças crônicas. 

 

  • Atividade física e redução da mortalidade por Covid-19

Realmente, não faltam evidências demonstrando que as doenças crônicas aumentam a mortalidade na Covid-19, assim como não faltam evidências científicas que comprovem que medidas simples e práticas estão associadas à reduçao da mortalidade por Covid-19, como é o caso da prática regular da atividade física.

O periódico British Journal of Sports Medicine, avaliou 48 440 pacientes adultos diagnosticados com Covid-19 e demonstrou, que os pacientes que fizeram pelo menos 150 minutos de atividade física por semana, apresentaram incidências significativamente menores de morte, hospitalização e admissão em unidade de terapia intensiva (UTI) por Covid-19. A publicação, relatou um risco de morte por Covid-19 quase 3 vezes maior nos pacientes sedentários comparados com os que praticaram atividades físicas (OR, de 2,49; intervalo de confiança, IC, de 95% de 1,33 a 4,67). 

 

  • Estes dados não são suficientes para guiar as políticas públicas de saúde?
Reitero obviamente aqui a importancia em mantermos as medidas atuais, que são fundamentais para o combate da epidemia, como a vacinação e a utilização de máscaras.

Devemos somar a todas estas medidas positivas e agregar medidas de saúde pública que abordem as doenças crônicas, fazendo uma medicina centrada no pacientes, focada no cuidado pessoal de cada indivíduo de maneira global, que aborde o controle individualizado do peso corporal, da glicemia e da pressão arterial de todos os pacientes por meio de orientações nutricionais e da prática de atividades físicas adequadas.

Atualmente, a tendência é que a prevalência de todas essas doenças crônicas, como a obesidade e a diabetes, continuem a crescer em todo mundo, aumentando a mortalidade tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, portanto, todas as medidas que possam auxiliar no combate à estas doenças crônicas terão implicações positivas mundialmente.

Se o foco da abordagem da saúde global, desde o início da epidemia da Covid-19, tivesse sido o envelhecimento saudável e a abordagem das doenças crônicas, através de uma orientação adequeda dos habitos de vida, provavelmente teríamos uma melhora de todas as doenças crônicas e  uma consequentemente possível redução de mortalidade pela Covid-19, indepente  da variante do SARS-CoV-2. Ainda temos tempo de mudar!

Na minha opinião, uma campanha mundial de saúde pública deveria incentivar às melhores práticas de prevenção em saúde, com a adoção de alimentação saudável e a prática regular de exercícios físicos, que são elementos fundamentais na luta contra todas as pandemias vigentes.

Uma abordagem mais proativa é necessária para que sejam promovidas medidas que preconizem um estilo de vida mais saudável a fim de melhorar a saúde cardiometabólica global e potencialmente minimizar o risco de morte por covid-19.

Devemos aconselhar e estimular nossos pacientes a perderem peso, praticarem exercícios físicos, controlarem suas comorbidades, ou seja, devemos divulgar a mensagem com foco centrado nos pacientes e na mudança de hábitos e comportamentos de todos sem exclusão e sem preconceito.

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Esta mensagem precisa urgentemente ser divulgada mundialmente, pois são medidas simples, baratas e eficazes, capazes de salvar vidas e reduzir a mortalidade mundial por todas as causas.

Fontes:

  1. World obesity. COVID-19 and Obesity: The 2021 Atlas; The cost of not addressing. the global obesity crisis;March 2021; https://www.worldobesityday.org/assets/downloads/COVID-19-and-Obesity-The-2021-Atlas.pdf
  2. Medscape; Dr. Fabiano Serfaty: ‘A orientação que nem os governos nem a OMS se preocuparam em dar’; https://portugues.medscape.com/verartigo/6506411
  3. Coronavirus Disease 2019 Hospitalizations Attributable to Cardiometabolic Conditions in the United States: A Comparative Risk Assessment Analysis.Meghan O’Hearn, MS, Junxiu Liu, PhD, Frederick Cudhea, PhD, Renata Micha, and RD, PhD, and Dariush Mozaffarian. Originally published, 25 Feb 2021                        https://doi.org/10.1161/JAHA.120.019259 Journal of the American Heart Association. 2021;10:e019259
  4. Sallis, R., Young, D., Tartof, S., Sallis, J., Sall, J., & Li, Q. et al. (2021). Physical inactivity is associated with a higher risk for severe covid-19 outcomes: a study in 48 440 adult patients. British Journal Of Sports Medicine, bjsports-2021-104080. doi: 10.1136/bjsports-2021-104080
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