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Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD.
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Confiança: de filhos para pais

Talvez a chave para o sucesso nessa árdua tarefa de respeitar as decisões de seus pais seja, para além da empatia, a confiança

Por Sabrina Nigri
Atualizado em 3 fev 2021, 19h13 - Publicado em 19 jan 2021, 21h40

Vi papai caído no chão. Briguei com ele. Achei que tivesse subido na cadeira e se desequilibrado. Mas não. Simplesmente deu um passo para trás e caiu.

Vi meu herói ali, no chão. Caído. Quem me ensinou o que é caráter. Meu maior exemplo de retidão, honestidade, de trabalho e de luta. Meu companheiro nos melhores e piores momentos. Meu amigo.

Assustei-me… Não apenas pela queda em si, mas por perceber meu pai desamparado. Por não ter podido evitar. Por ter sido impotente diante do acontecido.

Era o dia de seu aniversário. Não o via há muito, já que ele havia adoecido de Covid e, além da quarentena, tinha preferido estar só ainda por algumas semanas. Eu estava com muitas saudades. Não queria que ele comemorasse sozinho aquele dia especial. Desejava ardentemente estar com ele.

Seu quadro de saúde gerou grande ansiedade… Além de todo o terror e o medo que a doença provoca, ainda temos de lidar com todas aquelas questões sobre as quais não tomamos consciência – as referentes ao nosso bem-estar mental.

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Quando adoecemos, sentimo-nos indefesos e desassistidos, mesmo quando isso não é uma realidade. Temos medo de dar trabalho, de ficar com sequelas, de morrer, de deixar nossos filhos…

Como se não bastasse, no caso da Covid, não podemos estar com quem mais amamos, para proteção deles próprios. Experimentamos a solidão. Deparamo-nos com nossa finitude de uma forma amarga, quase cruel…

Dilacerante foi também sentir temor, em mim e no meu pai, quando após sua queda, quis abraçá-lo. Situação perversa. Desumana. Quis colocar meu pai no colo, mas contentei-me em dar-lhe o esboço de um abraço…

Minha raiva, num primeiro momento, era para esconder meu sobressalto; meu pavor de ver meu pai, minha figura de fortaleza, ali, frágil. Sugeri a ele procurar um médico, um neurologista, para avaliar possíveis sequelas advindas do seu quadro.

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Sua resposta negativa me fez lembrar o excelente texto do poeta Fabrício Carpinejar. Nele, relata sua tentativa de persuadir o pai a ficar em casa, quando convidado a um evento importante, e seu fracasso: ‘Ele não me obedeceu’ sentencia. Seu desespero foi ainda maior quando seu pai, constatando que não havia se infectado, concluiu que era imune à doença, e que o filho estava exagerando, abrindo espaço para outras situações de exposição.

É difícil, mas quem exerce a maternidade e a paternidade já descobriu que filhos são criados para o mundo. Assim também acontece nas relações com os pais. Depois de certa idade ficamos, como filhos, preocupados com nossos pais. Ainda mais quando a realidade se mostra tão ameaçadora, com uma Covid. Mas, eles têm pensamentos distintos dos nossos. São regidos por outras crenças. E têm de ser livres para agir de acordo com elas.

O mais complicado é respeitar isso. Sabemos que, se houver consequências, essas cairão sobre quem mais os ama: nós, os filhos! Mas, apesar disso, teremos que nos contentar com os conselhos. É mais fácil respeitar a decisão dos outros quando esses outros não significam tanto para nós (nem o resultado de seus atos), no entanto, devemos fazer isso com todos, inclusive (e sobretudo) com quem mais amamos.

Quando me foi ensinado a respeitar meus pais, aquilo não era uma alegoria. Não era uma frase de efeito para se fazer um belo ‘post’ e ganhar ‘likes’ nas redes sociais. Era um valor. Algo para se introjetar e realizar.

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Respeitar meu pai é vê-lo afirmar que é melhor aguardar antes de procurar por outro médico e acatar.  É vê-lo, se for o caso, subir na cadeira e aceitar. É julgá-lo lúcido, pleno de suas faculdades mentais e direitos de escolha. É considerar que posso discordar, mas que ainda há diante de mim o mesmo homem sábio, no qual confio.

Temos que lembrar sempre que somos humanos, falíveis e impotentes diante de uma série de situações; e uma delas é o comportamento do outro. Colocar a responsabilidade dos atos de outrem sobre as nossas costas nos faz ter a sensação de domínio sobre a realidade, mas isso é meramente ilustrativo. Nem de longe representa a vida real.

Talvez, a chave para o sucesso nessa árdua tarefa de respeitar as decisões de seus pais seja, para além da empatia, a confiança. Ter a habilidade de vislumbrar que, se eles foram capazes de criar filhos aptos de lhes dar suporte, eles têm, afinal de contas, competência e fazem um bom trabalho. Quando olhar seus pais a partir de agora, não veja só o que os olhos percebem. Vá além do óbvio, dos estereótipos.  Enxergue-os. E tudo fará sentido.

 

Sabrina Nigri

CRP 0537453

Psicóloga graduada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Hipnoterapeuta formada pelo Instituto Brasileiro de Hipnose (IBH)

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Pós graduada em Neurociências e Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Escritora e Idealizadora, fundadora e diretora do projeto Em Boa Companhia

Instagram: @emboacompanhia1

Contato: emboacompanhia1@gmail.com

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