Receita de Quindim: O doce criado pelas freiras no século XV
Criado em Portugal, a sobremesa ganhou mais sabor com o coco, que foi acrescentado nas primeiras referências abrasileiradas, já na Bahia, no século XIX

O paladar e a cor me encantam… é solar e espelha luz! O quindim, de origem lusitana, chegou para nós com a alcunha de “Pudim de São Bernardo”. A história nos remete ao século XV, em Portugal, quando surgiam os primeiros conventos femininos. As freiras utilizavam as claras dos ovos na goma das roupas litúrgicas. Outro uso era na fabricação do vinho: a albumina, proteína presente na clara, era utilizada para clarificar a bebida, eliminando impurezas e taninos antes do engarrafamento. Sobravam, então, as gemas, que precisavam ser aproveitadas.
Adicionando o açúcar que chegava da Ilha da Madeira e, mais tarde, do Brasil, ou mesmo o mel, as freiras criaram sobremesas maravilhosas que eram chamadas de “doces conventuais”. Entre eles, o tal “Pudim de São Bernardo”, uma versão mais próxima do nosso quindão. Com a colonização, essa doçaria foi trazida para cá e as primeiras referências abrasileiradas aparecem na Bahia, século XIX, onde agregamos o coco, fruta farta por aqui.
O nome “quindim” teria origem do quimbundo, idioma banto de Angola que teve grande influência no português falado no Brasil no período colonial. Significa delicado, encantador. O quindão, sua versão numa fôrma maior, tornou-se ainda mais popular em todo o Brasil. A receita é para quem não domina a cozinha, pois é fácil. Só diria que há de ter manejo no momento de desenformar, mas estou aqui para dar dicas!
Abaixo, segue a receita dessa delícia que é espelhada na parte de cima e, na parte de baixo, nos surpreende com o coco que ativa nossas papilas. Ah, sim… Tem gosto de gema, afinal é feito com gemas!
Ingredientes: 15 gemas coadas na peneira, 1 colher de sopa de manteiga em temperatura ambiente, 1 vidro (200ml) de leite de coco, 1 saquinho de coco ralado em flocos e ½ kg de açúcar.
Modo de Preparo: Separe a clara da gema uma a uma, com cuidado para não deixar misturar ovo estragado. Ao separar as gemas, coloque sobre uma peneira e vai deixando coar. Com ajuda de uma colher, pressione um pouco para acelerar o processo, mas não esmague as gemas que não passarem. À parte, coloque numa tigela o coco ralado com o leite de coco para hidratar. Adicione o açúcar às gemas coadas; depois, a manteiga e, por último, o coco já hidratado com o leite de coco. Misture delicadamente, tornando essa mistura homogênea, e deixe descansando por alguns minutos. Unte uma fôrma de alumínio com manteiga e polvilhe açúcar. Adicione a massa pronta. Leve ao forno 180°C já aquecido em banho-maria, coberto com papel alumínio. Lembre-se de que a água do banho-maria já deve estar bem quente. Asse coberto por 1 hora. Depois, retire o papel alumínio e deixe dourar por mais alguns minutos. Retire do forno e espete um palito para ver se está pronto. Deixe esfriar e coloque na geladeira ainda na fôrma.
Dica: A fôrma tem que ser alumínio, pois já fiz na de silicone e de porcelana e não dá certo. E nunca desenforme enquanto estiver quente, somente antes de servir! Para ajudar a soltar o quindim da fôrma, você pode aquecê-la um pouco na boca do fogão, mas não muito, hein?!
Elisa Mendes de Almeida, jornalista carioca e criadora de conteúdo, é autora de dois livros de receita – Cozinhar é Doar e Cozinhar é Amar. Foi apresentadora de telejornais da TV Globo, TV Manchete, Rede TV e TVE, e hoje se dedica à sua paixão pela gastronomia e à boa mesa. Siga o perfil no Instagram e o Canal no Youtube para mais receitas.