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Por Daniela Alvarenga, médica, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia
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Envelhecer é doença?

Enquanto OMS inclui velhice na Classificação Internacional de Doenças, profissionais de excelência, como Anthony Hopkins, são destaque em suas áreas

Por Daniela Alvarenga Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 jun 2021, 11h58 - Publicado em 25 jun 2021, 11h07

Aos 83 anos, com todas as marcas de uma vida repleta de realizações, Anthony Hopkins ganhou um Oscar pelo filme “Meu Pai”, que retrata um senhor com Alzheimer sob o ponto de vista dele mesmo. Este mês, o ator britânico estampa a capa da revista italiana “Vogue – L’Uomo”, com uma foto em close sem pthotoshop. No mesmo ano em que Hopkins foi destaque nas artes exatamente pela idade com um personagem vítima de uma doença mais propensa em idosos, tomamos conhecimento de que  a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a velhice na Classificação Internacional de Doenças (CID 11), prevista para entrar em vigor em janeiro de 2022. A decisão bastou para gerar uma série de discussões e polêmicas sobre a questão, afinal, soa no mínimo estranho reunir sob um só termo uma série de questões sociais e de saúde relacionadas a pessoas da chamada terceira idade.

Hoje falamos em longevidade e em qualidade de vida. Envelhecer é um destino e as doenças que se pode desenvolver são riscos, não uma certeza. Pessoas como Hopkins e, no Brasil, Fernanda Montenegro, de 90 anos, não pararam de apresentar trabalhos de excelência diante do avanço da idade. Eles, e tantos outros, têm sido fundamentais para quebrar preconceitos.

As pessoas estão vivendo cada vez mais. Conscientes disso e tendo como exemplos idosos super ativos, muitos adultos já começam a se cuidar aos 30, aos 40, em busca de longevidade e saúde mais adiante. Não é raro hoje vermos pessoas começarem nova etapa da vida, seja de trabalho, amorosa ou mesmo tendo filhos, depois dos 50. E a medicina – especialmente a dermatologia, que é minha especialidade – tem acompanhado esta mudança na sociedade, com um número maior de médicos voltando seus estudos e atuação para a prevenção.

Faz algum tempo que na dermatologia o termo antiaging (antienvelhecimento) passou a ser usado com parcimônia, quando não, banido mesmo. Afinal, envelhecer é algo natural para todo ser humano, uma etapa da vida, e não algo que se deve combater. Muito pelo contrário, é algo que se deve celebrar. Entendeu-se que não se deve evitar o envelhecimento como anunciava o termo tão usado em frascos e campanhas de dermocosméticos, mas, sim, melhorar a qualidade de vida, de saúde física e mental e da pele. Não é mais sobre não envelhecer, mas sobre envelhecer bem, cada vez melhor.

Diante da nova classificação do termo pela OMS, muitas entidades e médicos se pronunciaram, questionando a decisão. Há uma preocupação de que ao incluir a velhice como doença pode-se mascarar problemas de saúde específicos da idade e incentivar o preconceito contra idosos. Além disso, há na comunidade médica e científica o receio de que esta classificação tão generalista possa interferir no tratamento e na pesquisa de problemas de saúde e coleta de dados epidemiológicos. A Classificação Internacional de Doenças (CID) é uma tabela editada pela OMS que tem como objetivo padronizar diagnósticos e é utilizada por seguradoras, cujos reembolsos dependem dos códigos de doenças, gestores de programas de saúde, especialistas em estatísticas, entre outros. Três entidades internacionais relevantes, a Federação Internacional do Envelhecimento (IFA), a Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria e a HelpAge International, questionaram a OMS sobre a decisão.

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Você já deve ter ouvido esta expressão pejorativa: “ah, é doença de velho”. Todos sabemos que não, não é “doença de velho” e que velhice não é doença, apesar da classificação da OMS. Existem, sim, doenças e problemas de saúde específicos que podem ser mais propensos com o avanço da idade. Mas nem todos os idosos têm problemas de saúde, nem todos têm as mesmas doenças, nem todos têm doenças ao mesmo tempo. A medicina, a tecnologia, o aumento da expectativa e da qualidade de vida avançaram muito nas últimas duas décadas. Seria interessante que a sociedade, empresários e órgãos reguladores ligados à saúde incentivassem cada vez mais a criação de programas para prevenção multidisciplinar dentro das empresas, ampliando a possibilidade de evitar ou adiar doenças e melhorar qualidade de vida, e, consequentemente, de produtividade. A prevenção é mais barata e mais inteligente que a doença. Classificar velhice como doença soa como um retrocesso.

 

 

 

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