Daniela Alvarenga

Por Daniela Alvarenga, médica, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia

Beira-Mar, Vida Leve

Corra, sem deixar os cuidados com a pele no caminho

De protetor solar a roupas adequadas: as medidas dermatológicas que fazem a diferença na performance e na saúde

Por Daniela Alvarenga SEGUIR SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2025, 17h25 - Publicado em 4 set 2025, 13h30

Exposta ao sol, ao vento, ao suor, a pele sofre agressões durante a corrida: com medidas simples, é possível proteger a pele, aumentar o conforto e evitar complicações a longo prazo

A corrida está em alta! No ano passado, de acordo com pesquisas, foi o esporte “social” que mais cresceu no mundo. No Brasil, um levantamento com usuários do app Strava mostra que grupos de corrida cresceram mais de 100%, em 2024. Não é difícil entender porque a prática vem conquistando tantos apaixonados por aqui. Mais que um esporte, é um estilo de vida. Além de fortalecer os músculos, melhorar o fôlego e o metabolismo, melhora o humor, reduz o estresse e a ansiedade, aumenta a autoconfiança e nos conecta com outras pessoas com quem nos identificamos.

O problema é que, com tantos benefícios, uma parte essencial do corpo costuma ser esquecida pelos corredores: a pele. Exposta ao sol, ao vento, ao suor, a pele sofre agressões constantes durante os treinos e provas. E, sem cuidados específicos, podem surgir desde assaduras e micoses até manchas, queimaduras solares, infecções e um maior risco de câncer de pele.

Muitos praticantes de corrida chegam ao consultório com queixas como essas. A boa notícia é que, com medidas simples, é possível proteger a pele, aumentar o conforto durante os treinos e evitar complicações a longo prazo. Não importa a hora em que você vai correr, o primeiro passo é caprichar na higiene do rosto, antes da corrida, para eliminar resquícios de oleosidade, maquiagem e poluição do ambiente. Uma pele limpa é fundamental para evitar que, com o suor durante a corrida, os poros fiquem entupidos, favorecendo o aparecimento de acne e irritações.

Depois de lavar o rosto e antes de aplicar o filtro solar (item obrigatório no skincare!), use o hidratante recomendado pelo seu dermatologista para o seu tipo de pele. Ele ajuda a criar uma barreira cutânea contra os efeitos do vento, do sol, do calor (ou frio) e do suor, evitando ressecamento, ardência, sensação de repuxamento. Com uma pele hidratada, fica mais fácil espalhar e fixar o filtro, criando uma base mais homogênea, sem deixar a pele craquelada.
Além disso, uma boa hidratação é importante para diminuir o atrito de acessórios, como boné, viseira, óculos, faixa. A dica é usar um hidratante leve, em sérum, oil-free e com probiótico.

A exposição solar prolongada está entre as maiores vilãs da pele do corredor. A recomendação é usar um filtro solar com FPS 50 ou mais, resistente ao suor e à água. Aplique 30 minutos antes da corrida e prefira fórmulas em gel, bastão ou toque seco, que não escorrem nos olhos. Em provas longas, tente reaplicar a cada duas horas: leve um bastão ou sachê.

Continua após a publicidade

O filtro é importante, inclusive, para evitar a temida flacidez no rosto. A ideia de que ela pode ser provocada pelo impacto frequente da corrida não tem respaldo científico. É mito. O que acontece é que, se não for usado filtro solar, a exposição ao sol, durante a corrida ao ar livre, pode acelerar o envelhecimento da pele. Isso, sim, pode levar à flacidez, a longo prazo. Outra razão é que, com exercícios intensos e prolongados, pode acontecer uma rápida perda de gordura corporal, deixando o rosto com aparência mais “murcha” em algumas pessoas, especialmente as que têm pouca gordura facial. Isso pode ser revertido com alguns tratamentos para estimular a produção de colágeno e elastina, com bioestimuladores de colágeno injetáveis, entre outros procedimentos que seu dermatologista pode recomendar.

Mas não é só o rosto que precisa de atenção especial dos praticantes de corrida. Coxas, axilas, mamilos e virilhas são áreas críticas, por causa do atrito da pele com a própria pele ou com a roupa, que pode provocar assaduras. Essas inflamações na pele se manifestam com sintomas como vermelhidão, ardor, coceira e, em casos mais graves, feridas. Para evitá-las, antes de cada treino, você pode passar, nessas áreas mais críticas, vaselina, cremes antiassaduras ou cremes anti atrito desenvolvidos especialmente para atletas.

A escolha da roupa também é um item importante: opte por modelos leves, respiráveis e sem costuras agressivas. Tecidos tecnológicos, que absorvem o suor e evitam o atrito são ideais. Evite o algodão, que retém a umidade e favorece irritações. Bonés, viseiras e óculos com proteção UV ajudam a proteger o rosto e os olhos.

Continua após a publicidade

Após o treino, o ideal é trocar de roupa imediatamente. Roupas suadas mantêm a pele úmida e quente — o ambiente ideal para o surgimento de micoses e foliculites. No banho, use sabonetes suaves ou do tipo syndet, menos agressivos, que respeitam o pH da pele. Evite buchas ou esfoliantes. Após o banho, aplique hidratantes com ingredientes calmantes, como aloe vera, pantenol ou niacinamida.

Todos esses cuidados, antes e após o treino, contribuem para um melhor desempenho durante a corrida. Quanto mais confortável você se sentir, sem dores ou incômodos, mais vai conseguir focar em seus objetivos e alcançar os resultados que deseja. Vai com tudo!