À flor da pele: o que é e como tratar a dermatite atópica
Veja os avanços no tratamento desta doença de pele, que é genética, crônica e causa muito sofrimento físico e emocional

Já ouviu falar em dermatite atópica?
A doença, também chamada de eczema atópico, é tão frequente que até ganhou um dia mundial de conscientização sobre seus sintomas e os tratamentos disponíveis: 14 de setembro.
Apesar de atingir milhões de brasileiros, ainda é uma doença pouco conhecida, que causa muito sofrimento físico e emocional. Os principais sintomas são: lesões avermelhadas, descamativas, pele ressecada e coceira intensa e constante, que prejudicam o sono e a concentração, além de causar irritação. Em casos mais graves, a DA leva à ansiedade e até à depressão.
A campanha de conscientização sobre dermatite atópica também têm o objetivo de combater o estigma em relação à doença. Muita gente acha que ela é contagiosa ou causada por falta de higiene, o que não é verdade. A desinformação leva ao constrangimento e, muitas vezes, ao isolamento social e à baixa autoestima.
Não se sabe a causa exata da dermatite atópica, mas sabemos que ela é influenciada por fatores hereditários, e frequentemente está associada à asma e à rinite alérgica.
A pele atópica é ressecada. Não produz um filme oleoso, que funciona como uma barreira natural de proteção da pele. Com isso, fica mais vulnerável a agentes irritantes e a alérgenos presentes em nosso ambiente, como ácaros, fungos e pelos de animais. Com a barreira cutânea fragilizada, eles conseguem penetrar nas camadas mais profundas da epiderme, provocando uma resposta imunológica exagerada do organismo. Isso faz com que os sinais clínicos da dermatite atópica apareçam: coceira, inflamação e secreção.
Embora, em geral, a doença apareça na infância, ela atinge pessoas de qualquer idade, de crianças a idosos. As lesões surgem, principalmente, nas grandes dobras do corpo como porção anterior dos cotovelos, região atrás dos joelhos e pescoço. Nos bebês, a face é uma região frequentemente acometida.
Não existe uma cura definitiva. O paciente alterna períodos de crise com outros em que a pele está aparentemente normal. Em geral, a dermatose apresenta períodos de melhora e recaídas frequentes, podendo haver intervalos de semanas, meses ou anos, entre uma crise e outra. Mas a inflamação persiste, mesmo quando a lesão não está visível a olho nu.
O tratamento exige cuidados diários e contínuos. A boa notícia é que hoje há opções inovadoras que vão além dos cremes tradicionais e corticoides. Para casos moderados a graves, os biológicos como dupilumabe, tralokinumabe e lebrikizumabe oferecem bloqueio específico da inflamação alérgica (IL‑4, IL‑13, etc.), com resultados que transformam a rotina do paciente. Para quem prefere evitar medicações sistêmicas ou quer algo menos agressivo, os inibidores de JAK tópicos, como ruxolitinibe e delgocitinibe, ou os novos cremes não esteroidais (tapinarof, PDE‑4) são alternativas promissoras.
No entanto, essas terapias de ponta exigem avaliação médica criteriosa — fatores como idade, histórico de saúde, custo e acesso ainda são barreiras, em muitos casos. O ideal é que cada paciente, junto ao dermatologista, construa um plano personalizado: combinando tratamento medicamentoso, cuidados da pele, alimentação e estilo de vida.
Só o médico pode indicar o medicamento mais adequado para o seu caso, a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga rigorosamente as orientações e jamais se automedique. Lembre-se: o tratamento, com acompanhamento do dermatologista, é para a vida toda. Se for suspenso, o risco de retorno da doença é muito alto.
É muito importante manter a pele bem hidratada, não tomar banhos muito quentes e não usar produtos que desequilibram o pH da pele. Prefira, por exemplo, sabonetes neutros e produtos de limpeza hipoalergênicos. Controlar o estresse também é fundamental.
Muitas vezes, é necessário apoio psicológico para lidar com as questões emocionais que, como dissemos, podem surgir em consequência da doença, principalmente quando os sintomas são persistentes e comprometem a qualidade de vida. Portanto, além de contar com seu dermatologista, não hesite em procurar ajuda psicológica. Até porque a DA pode criar um ciclo vicioso: estresse emocional piora os sintomas → sintomas aumentam o estresse → sintomas pioram novamente.
Nos últimos anos, a ciência tem lançado luz sobre uma conexão que, até pouco tempo, era subestimada: a relação entre o intestino e a saúde da pele. No centro dessa descoberta está a disbiose intestinal, um desequilíbrio da microbiota — o conjunto de trilhões de microrganismos que habitam o nosso sistema digestivo — e sua forte associação com doenças inflamatórias da pele, como a dermatite atópica.
Além disso, pesquisadores observam que a disbiose pode aumentar a permeabilidade da mucosa intestinal, permitindo que toxinas e moléculas inflamatórias entrem na corrente sanguínea. Esse fenômeno, conhecido como “intestino permeável”, pode alimentar uma cadeia de eventos inflamatórios em todo o corpo — e a pele, como órgão imunológico ativo, responde a esse desequilíbrio. Cuidar da saúde intestinal é também cuidar da pele.
✅ Veja um checklist com os cuidados diários para tratar a dermatite atópica:
🔲 Hidrate a pele pelo menos duas vezes ao dia
▪ Use cremes hipoalergênicos, sem perfume, logo após o banho.
🔲 Evite banhos quentes e longos
▪ Prefira água morna e sabonetes suaves
🔲 Use roupas confortáveis e respiráveis
▪ Dê preferência a tecidos de algodão e evite lã e sintéticos.
🔲 Mantenha o ambiente limpo e arejado
▪ Controle pó, mofo e ácaros; umidifique o ar, se necessário.
🔲 Não coce a pele (mesmo que dê vontade!)
▪ Aplique compressas frias, mantenha as unhas curtas e converse com seu médico sobre antialérgicos.
🔲 Cuide da alimentação e do intestino
▪ Invista em fibras, frutas, vegetais e alimentos fermentados; evite ultraprocessados.
Prebióticos e probióticos podem ser avaliados e prescritos pelo seu médico.
🔲 Gerencie o estresse e a ansiedade
▪ Pratique atividades relaxantes e procure apoio psicológico, se necessário.
🔲 Siga sempre as orientações médicas
▪ Nada de automedicação — o tratamento ideal é individualizado.
Leve este checklist com você e compartilhe com quem também convive com a dermatite atópica. Pequenos cuidados diários fazem grande diferença!