As cores do ano são o cinza “ultimate gray” e o amarelo vibrante “illuminating”, diz a Pantone, as ombreiras pontudas serão o assunto dessa estação e um jornal americano jura que o sabor do ano é um cheesecake basco queimado. Será?
A despeito de ter passado os últimos 22 anos estudando tendências, está cada vez mais difícil buscar certezas.
Tendências andam de mãos dadas com o tal do ceteris paribus, aquele termo latino que aprendemos cedinho na escola, o “tudo mais constante”. Teríamos casado ou feito aquela viagem, quem sabe comprado a casa ou mantido o emprego se o bendito ceteris paribus comparecesse. Mas não…
A comida compartilhável, uma das tendências para o ano passado, foi a primeira a ser abolida pelos restaurantes pós-covid. De uma hora para a outra não havia mais petiscos para compartilhar ou sobremesa no centro da mesa. Comer com o vizinho? Um covidzinho pra dividir? Eca! Não, obrigada.
Minha filha comprou um canudo daqueles reutilizáveis de metal (que se limpa com escovinha), bem no fim de 2019. Era uma das apostas na guerra pelo fim dos canudos plásticos. Disse a ela que mais valia abolir o utensílio de vez porque aquilo não ia prestar. Bidu…. o troço está mofando no armário faz um ano. Não pegou nas casas, nos restaurantes, em canto algum. Era tendência? Claro! Mas também uma impossibilidade econômica para restaurantes ou para qualquer pessoa prática, dentro de casa.
Muitos apostaram no boom dos alimentos à base de plantas, mas talvez não contassem com a velocidade da concorrência. Agora em dezembro, Cingapura foi o primeiro país do mundo a aprovar a venda de carne produzida em laboratório. E o que é isso? É carne feita na placa de petri a partir das células de uma vaca que seguirá pastando feliz. Com uma única cartada tecnológica acabam tanto com o sofrimento animal quanto com a emissão de gases estufa por conta da criação bovina em larga escala.
E mais: os alimentos plant-based, que miram no mesmo público que busca a agricultura orgânica, esbarram em outro grande desafio. É claro que todos desejamos um mundo livre de pesticidas e agrotóxicos, mas como alimentaremos os 10 bilhões de seres, incluindo os pobres e mal nutridos que passearão pelo planeta em 2050, dado que aproximadamente 40% da colheita mundial é perdida por conta de pragas e doenças?
Não… o futuro não é para principiantes.
Com os avanços tecnológicos e a velocidade das mudanças, profecias prescrevem cada vez mais rápido. Os negócios só sobreviverão se abraçarem a incerteza e considerarem “tudo mais inconstante”, reagindo rapidamente às mudanças.
Se é pra seguir um profeta, ouça Raul Seixas e seja uma metamorfose ambulante.
Feliz Mundo novo!