Aspectos míticos do Rio narrados por Alberto Mussa ganham coletânea
Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, lançado pela editora Record, reúne cinco livros policiais do escritor. Cada história se passa num século diferente
Vencedor de diversos prêmios, a exemplo do renomado Casa de las Americas e o da Biblioteca Nacional, o escritor carioca Alberto Mussa inspira pensadores e estudiosos. Uma de suas obras, Meu Destino é Ser Onça, é utilizada como base do enredo da Acadêmicos do Grande Rio para o Carnaval 2024. Recentemente, Mussa afirmou que uma cidade não se define pelo temperamento de seu povo ou pela sua cultura, mas pela história de seus crimes.
Não a toa, o escritor tem cinco romances policiais instigantes, um para cada século desde a fundação da cidade, trazendo um recorte que expõe as entranhas e a poderosa mistura de culturas e povos da capital fluminense. Agora, esses livros estão reunidos na coletânea Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, lançado pela editora Record no dia de São Sebastião, padroeiro do Rio. As histórias, independentes, podem ser lidas a qualquer momento, em qualquer ordem. Cada um dos livros se debruça sobre temas caros ao escritor, como o carioca, o histórico, o fantástico, o policial e o adultério. Um deleite para os leitores.
Primeiro livro da coletânea, A Primeira História do Mundo, de 256 páginas, remonta ao período pós-fundação do Rio de Janeiro, traçando, a partir de 1567, o primeiro registro formal de um assassinato no Rio de Janeiro. Um homem encontrado morto a flechadas, um crime passional, que, entre suspeitos, acusados e testemunhas, envolveu 15% da população da cidade à época. O livro recria o Brasil em formação em um romance que mescla aventura, piratas, pilantras, heróis e aventureiros destemidos e ambiciosos numa terra sem lei.
Já em O Trono da Rainha Jinga, de 128 páginas, Mussa narra cinco crimes supostamente engendrados por uma irmandade secreta de escravos, conhecida como A Heresia de Judas. Para elucidar os fatos, o juíz Unhão Dinis se une ao armador e baleeiro Mendo Antunes para solucionar o complexo quebra-cabeça dos delitos. Cada capítulo é narrado por um personagem diferente, com sua própria visão da história. Nesta viagem pelo Rio do século XVII, O Trono da Rainha Jinga tece um enredo envolvente sobre a influência da África na formação do Brasil.
Terceiro livro da coletânea, Histórias da Biblioteca Elementar, de 192 páginas, traz a narrativa de um crime cometido em 1733 no Largo da Carioca.
Há ainda Hipótese Humana, de 176 páginas, ambientado no século XIX, narra o assassinato de Domitila, filha do coronel Chico Eugênio, dentro da chácara da família no Catumbi. A investigação fica a cargo do detetive Tito Gualberto, primo da vítima e hábil capoeira, que tentará completar o quebra-cabeça do crime.
O arremate do compêndio se dá com o Senhor do Lado Esquerdo, que conta a história de um assassinato do secretário da presidência da República na Casa das Trocas, um prostíbulo de luxo no Rio de Janeiro, em 1913.
“Os romances procuram focar os aspectos míticos do Rio de Janeiro, uma cidade de contradições, extremamente violenta desde a sua fundação, mas que, ao mesmo tempo, desenvolveu um espírito de enfrentamento, devolvendo tudo isso numa ironia, numa forma leve, descompromissada, que seria o estereótipo do carioca, sempre alegre, levando a vida numa boa, malandramente”, diz Alberto Mussa.