Agô: mais que um gastrobar, um destino da cidade!
Endereço de Santa Teresa repercute com sua gastronomia repleta de africanidade; Luís Mattos do Let’Sushi participa de entrevista na sessão minhas panelas
Em meio às construções tradicionais de estilo europeu em Santa Teresa, entre as ruas Áurea e Monte Alegre, um gastrobar descolado, repleto de africanidade, vem chamando atenção. O Agô, que significa um pedido de licença de entrada e saída em Iorubá, ganhou filas de espera na porta e desde o ano passado vem sacramentando o seu sucesso na região. É possível encontrar clientes de outras cidades, que se deslocam para conhecer o endereço, que em um passado não tão distante funcionava como farmácia do bairro. A narrativa forte do local, ecoa como um grito de emoção e autoestima de uma África tão demonizada religiosamente. A decoração do ambiente, além de impactante, possui um DNA familiar. Um lindo painel de Yedda Affini, artista contemporânea que vem se destacando no meio das artes plásticas, ganha destaque no restaurante de sua mãe, Kananda Soares.
É marcante observar os consumidores fotografando cada detalhe do cardápio, da decoração ou da lojinha. O brilho nos olhos reflete um reencontro com essências, com ancestralidade, com uma brasilidade pulsante. Exu, Pomba Gira, Seu Zé Pelintra são protagonistas em tudo. Seja na comida ou bebida, com os drinks cheios de nomenclaturas, como nos produtos que estão à venda, como plaquinhas, porcelanas e quadros.
É Padê ou para comer? Uma sessão no cardápio tem uma seleção de padês, que na gira africana representa oferenda para Exu; mas, no bar da encruza, o padê ganha a versão empoderada de churrasquinho misto flambado na cachaça para três pessoas (R$ 98,00); na versão de frutos do mar, acompanha farofa de dendê (R$ 120,00).
Mais que um gastrobar, o Agô é um destino necessário para se entender culturalmente nosso povo, nossa gente, nossa ancestralidade. Laroyê!
Serviço
Quarta à sexta das 18h à 1h
Sábado e domingo das 13 à 1h
Minhas panelas
Gestores, chefs, restaurateurs, ideias e desafios de quem move a gastronomia do Rio
Hoje, a sessão minhas panelas conta a história de Luis Mattos, sócio e gestor da dark kitchen Let’Sushi e Izakaya.
“Comecei a empreender em gastronomia há mais dez anos. Esse lugar de gestor é desafiador e é realmente para poucos. Temos que ter dedicação, paciência, foco e amor pelo projeto. A missão é ainda mais difícil quando se trata do mercado brasileiro, que impõe diversos desafios.
Minha história no setor começou do zero, com o meu sócio à época, Martin Vidal. Iniciamos no segmento da gastronomia asiática, com a abertura do Let’Sushi, com uma “dark kitchen” – termo que se usa para operações do ambiente gastronômico que funcionam apenas para delivery . O objetivo era um delivery japonês que se propunha a entregar uma experiência completa para os clientes, desde o preparo até a organização nas embalagens.
Em 2012, nascia o Let’Sushi, em 2017, o Izakaya. Passo a passo, um dia de cada vez. Ao longo dos anos, os obstáculos foram aparecendo; lojas abriram e fecharam, Martin deixou a sociedade, conceitos e padrões tiveram que ser reinventados e eu segui com o empreendimento.
No Brasil, esse setor não é fácil. Você tem que lidar diariamente com mudanças de preços, principalmente dos pescados, dificuldades na importação, impostos e muitas mudanças de panorama.
Os percalços foram (e ainda são) driblados diariamente, a partir de um modelo de negócio que tenta garantir um controle rígido de todos os setores da empresa para evitar grandes deslizes e desperdícios. No entanto, o otimismo de ser empresário do setor me move diariamente”.