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Blog sobre as ruas do Rio de Janeiro
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Rua Smith de Vasconcelos, Cosme Velho

Além da Estação de Ferro do Corcovado, bem ao lado, está a Rua Smith de Vasconcelos. Conheça! Panorama contemporâneo. Após a modificação do sistema de compra dos bilhetes para visitar o Corcovado, sua estação de trem, outrora frenética, agora se mostra mais tranquila. Mesmo assim, a Jornada Mundial da Juventude contribuiu para badalar a região […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h02 - Publicado em 24 jul 2013, 23h35

Além da Estação de Ferro do Corcovado, bem ao lado, está a Rua Smith de Vasconcelos. Conheça!


Panorama contemporâneo. Após a modificação do sistema de compra dos bilhetes para visitar o Corcovado, sua estação de trem, outrora frenética, agora se mostra mais tranquila. Mesmo assim, a Jornada Mundial da Juventude contribuiu para badalar a região com seus peregrinos por toda a parte.

Em tempos de Jornada Mundial de Juventude, saiu de cena o clássico estereótipo do turista gringo perdido pelas ruas do Cosme Velho, na zona sul do Rio, para dar lugar a uma interminável caravana de adolescentes do mundo inteiro afoitos pela chegada do Papa Francisco. Brancos, negros, pardos, falantes, calados, entusiasmados, blasés, todos andam em conjunto, como naquelas excursões que muitos faziam antigamente aos parques da Disney, em Orlando. Deste modo, as calçadas da Rua Cosme Velho se engarrafam de jovens por toda a sua extensão. A fila para o trem do Corcovado, no entanto, só está aparentemente tranquila porque modificaram o sistema de bilheteria recentemente. Já a rua ao lado da estação de trem é movimentada por um vai-e-vém de carros à procura de vagas. Os flanelinhas estão lá, mesmo com a presença da Guarda Municipal. Ordenam, apitam, se escondem, negociam. É nesta rua onde me infiltro e me disperso à medida que seu aclive vai se acentuando.

Para a sua informação, a rua em questão se chama Smith de Vasconcelos. Outro dia estava eu remexendo alguns arquivos antigos – e esquecidos – em CDs quando me deparei com uma foto de julho de 2007. Não recordo a razão pela qual anunciaram que, naquele dia, a visita ao Cristo Redentor seria gratuita. E, de fato, foi! O problema é que, obviamente, o número de interessados era muito maior do que o esperado e suportado pela estrutura, não só, do Parque Nacional da Tijuca, bem como do próprio bairro do Cosme Velho. Resumo da ópera: eu e meus amigos não conseguimos embarcar neste esquema “0800”, mas, pelo menos, algumas imagens ficaram como registro. E numa delas aparecia a típica placa-pirulito, pertencente ao mobiliário urbano da cidade até então, indicando a tal Rua Smith de Vasconcelos. Entonces… por que não visitá-la a fundo? E lá fui eu.

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Primeiras impressões. O palacete na esquina com a Rua Cosme Velho e a convivência da natureza com as residências e os símbolos do trenzinho do Corcovado.
.


Hoje e ontem. A foto à direita mostra, em julho de 2007, o dia em que o Parque Nacional da Tijuca promoveu uma visita gratuita ao Cristo. Houve confusão, é claro.

Como já foi rapidamente comentado, este logradouro, apesar do belo palacete que o embeleza na sua esquina com a Rua Cosme Velho, no seu primeiro trecho, funciona mais como estacionamento para as pessoas que visitam o Cristo do que como rua. É como se existisse, especialmente, para acomodar as demandas turísticas da Estrada de Ferro do Corcovado. Até a muralha do lado esquerdo da via, inicialmente gradeada para depois tornar-se, de fato, um muro, pertence a eles. O cenário, então, é de taxistas que quase se engalfinham por vagas e passageiros, assim como de motoristas paulistas e mineiros ansiosos em suas manobras habilidosas no volante com o objetivo de dar o ponto final naquela trabalhosa baliza. Essa efervescência toda de gente e de preocupações deixa a arquitetura da rua em segundo plano em relação aos olhos do pedestre. Eu mesmo fiquei tão influenciado pelo clima caótico das imediações da Rua Cosme Velho que, ao subir a Smith de Vasconcelos, estava particularmente inquieto. 

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No entanto, à medida que fui distanciando da Rua Cosme Velho, a Rua Smith de Vasconcelos começou a adquirir uma energia bucólica bastante perceptiva, típica do Cosme Velho. E faço questão de pontuar que é um bucolismo diferente de outros bairros considerados bucólicos, como o Jardim Botânico, a Gávea ou o Grajaú. Dado o valor histórico da região, não só em termos arquitetônicos, mas, também, de simbolismo em relação à formação da cidade do Rio, sua arquitetura é bela e, de certa forma, preservada, remetendo o pedestre a um Rio de Janeiro de outros séculos. Mesmo que localizada em plena urbe, a Rua Smith de Vasconcelos transmite uma sensação de se estar no campo ou em alguma cidadezinha do interior. Isso se corrobora quando o canto dos passarinhos começa a se sobressair ante os ruídos e freadas dos ônibus “lá embaixo”. Eu sei que sempre cito o canto dos passarinhos como um exemplo autêntico – e real – de como as ruas cariocas e bucólicas podem chegar a ser. Dois amigos de São Paulo que estiveram recentemente por aqui concordaram comigo quando nos deparamos com um bando de aves diferentes, além de macaquinhos fugazes, na Rua Bernardino dos Santos, em Santa Teresa. “É, isso aqui é realmente como dizem: as ruas do Rio têm animaizinhos!”, concluiu o Leandro, mais ou menos desta forma. Aliás, um abraço para o senhor Leandro Ishioka, caso ele esteja lendo.


Arquitetura conservada. São poucas as residências na Rua Smith de Vasconcelos; prédios, menos ainda
. Todos os imóveis, no entanto, têm seu estilos e charmes próprios.


Ladeiras. Bairro de ladeiras, a Rua Filinto de Almeida é uma das esquinas da Rua Smith de Vasconcelos. Ao lado, exemplo de casa em nível levemente acima ao da rua.

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E além disto tudo, eu te faço a pergunta: você consegue imaginar que, em plena cidade do Rio de Janeiro, famosa por suas maravilhas naturais, bem como por sua má fama em questões de segurança, ainda existem casas cujo acesso se dá por uma porta de madeira com uma reles maçaneta? Pois é. Os condomínios e as grades parecem não ser tão importantes pela Rua Smith de Vasconcelos, o que elucida ainda mais esse clima meio de cidadezinha histórica. As casas geminadas conservaram seus aspectos originais, incluindo as portas e as maçanetas. Ou, pelo menos, o estilo delas. É curioso se esbarrar com estes detalhes, já que, hoje em dia, vivemos tão enclausurados, não é mesmo? Não só enclausurados, mas igualmente neuróticos com todos os aparatos de vigilância e de segurança doméstica. Estas casinhas se assemelham a antigas residências operárias. Os tons das suas fachadas – uma rosa, outra laranja – aliados ao sol agradável que iluminava o Rio naquela tarde, uniram-se, especialmente, para relaxar meu espírito e fazê-lo esquecer-se do estresse da urbe. A partir dali, sim, o meu modo de apreciação das ruas voltou à sua normalidade, ainda mais após a curva da Smith de Vasconcelos.


No sopé do Morro do Corcovado. O Cristo em meio às fiações.


Legados históricos. Na esquina com a Rua dos Parecis, um bueiro assinala a cidade do Rio de Janeiro ainda como Estado da Guanabara
.

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O trecho final. As casas da Rua Smith de Vasconcelos e o seu final, sem saída.

Aos pés do Cristo, a estreita rua se estende em direção a uma casa verde. Lá é o ponto final – não há saída. Ao seu lado esquerdo, uma nova ladeira surge com o nome de Rua Filinto de Almeida. Este último trecho da Smith de Vasconcelos se assemelha muito com o estilo do bairro de Santa Teresa, sobretudo por esta ladeira. Não se encontram tantos edifícios – apenas um ou dois – e sim casas arborizadas em nível um pouco mais alto que o da rua. Como de praxe, os postes antigos deixam evidências sobre a história do Rio, seja pelo notório estado de deterioração, seja por antigas nomenclaturas. Um bueiro assinala que ele está ali desde os tempos do antigo Estado da Guanabara, por exemplo. A excessiva fiação deixa à mostra um Cristo Redentor enlaçado na perspectiva do pedestre, ou então uma lona de folhas e galhos que se movem timidamente a cada passagem de vento.

Mesmo com toda presença verde, a Rua Smith de Vasconcelos parece usualmente quente. Tem toda uma relação de cores que a tornam um lugar mais caloroso, é claro, mas o que me refiro é que deve ser uma rua onde o sol incide com mais precisão. A sensação térmica corpórea é quem diz isso. A Rua dos Parecis fica à direita, no ponto de vista de quem “sobe” a rua. É uma simpática ruela também sem saída e loteada de casinhas. Adentrá-la permite vislumbrar melhor a cortina montanhosa do Cosme Velho, além de pequenos detalhes arquitetônicos que se sobressaem no meio de outros telhados da Rua Smith de Vasconcelos. Afinal, o desnivelamento do bairro permite essa sobreposição de cores e surpresas, coisa que os turistas lá “de baixo” mal desconfiam. A não ser que tenham um surto de esperteza e decidam subi-la. Bom… não só esta rua, mas como muitas outras ruas do Rio. Estas sim, em sua essência, a maior atratividade desta cidade.   

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