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Quebrando preconceitos com o Rio Comprido

Com fama de abandonado, bairro mostra que ainda tem lugares aprazíveis, como a Rua Japeri A Rua Japeri, no Rio Comprido, ainda conserva um pouco do caráter agradável do bairro, duramente afetado pela violência e favelização Em Girândola de Amores, romance de Aluísio Azevedo, a personagem Olímpia morava com seu pai, o Comendador Ferreira, em […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h31 - Publicado em 19 dez 2011, 22h13

Com fama de abandonado, bairro mostra que ainda tem lugares aprazíveis, como a Rua Japeri



A Rua Japeri, no Rio Comprido, ainda conserva um pouco do caráter agradável do bairro, duramente afetado pela violência e favelização

Em Girândola de Amores, romance de Aluísio Azevedo, a personagem Olímpia morava com seu pai, o Comendador Ferreira, em um belo palacete próximo à Praia de Botafogo, na segunda metade do século XIX. Após um casamento mal sucedido, Olímpia adoece, preocupando o pai, disposto a arcar com os custos de todas as necessidades e caprichos da jovem moça. Por ordens médicas, a enferma deve respirar novos ares, com passeios que distraiam a alma. A filha exige que o pai a leve para a sofisticada Avenida Estrela, no arrabalde do Rio Comprido. Lá funciona uma espécie de hotel, comandado por um francês, um ambiente perfeito para descansar, rodeado pelo verde dos morros, que, em suas matas, conta ainda com uma gruta misteriosa, que não me cabe explicá-la nesse momento.

Diferente dos românticos, Aluísio Azevedo tempera suas narrativas com boas doses de realidade ao descrever personagens e lugares por onde passam. O bairro do Rio Comprido, um dos cenários de Girândola de Amores, é nivelado à Botafogo como bairro de boas famílias, rico em arquitetura, com o adicional da natureza estonteante.

Casa em rosa e pedra: conforto

Voltando à nossa realidade, o ano de 2011 (quase 2012, feliz ano novo!), já não se pode dizer o mesmo do Rio Comprido. Afetado pela favelização e pela degradação do seu espaço urbano, após a abertura do Túnel Rebouças, na década de 1960, a região virou mais zona de passagem do que propriamente lugar atrativo para moradia. Para os não tão acostumados com o bairro, a escuridão empoeirada da Avenida Paulo de Frontin é um convite a não explorá-lo a pé. O mesmo acontece com a Rua Itapiru, na fronteira com o Catumbi, que exala um pouco de insegurança, mesmo depois da pacificação das comunidades do entorno.

O pensamento e ideia mais recorrente para todo carioca sem vínculos com o Rio Comprido é: o bairro não tem nada de bom. Nada restou.

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Edifício, quase uma exceção na Japeri

Equivocam-se os tais. Uma vez, percorrendo a Paulo de Frontin a pé, para fotografar alguns dos palacetes e sobrados em estados lastimáveis que ainda estão de pé pela avenida, adentrei a Rua Sampaio Viana. De cara, é uma das partes menos depredadas do Rio Comprido, pois conta com muitos edifícios residenciais de classe média em melhor estado de manutenção. Há outros mais velhinhos, glamorosos em seu nascimento, mas meio pancados hoje. Descaracterização dos acessórios originais é uma atitude pecaminosa ante os prédios antigos do Rio.

Em direção à Rua do Bispo, a Sampaio Viana é cortada por algumas ruas pequenas, estritamente residenciais. Entrei numa delas, à direita. Estava sem pressa – queria mais era desbravar esse bairro que, por muitos anos, forçava-me a evitá-lo.

Japeri é o nome da rua. Ela tem o desenho de uma reta torta, contínua, sem cruzamentos, que termina na Rua Barão de Itapagipe. A primeira impressão para aquele lugar era “Uau, uma rua assim no Rio Comprido!“. Ainda estava dominado pelos pré-conceitos de bairro abandonado. Esse logradouro é um passeio de casas residenciais, frutos de projetos bem cuidados, e que, para a alegria da nação, a grande maioria está em ótimo estado de manutenção. Têm cara de residências com vida, habitáveis, e serei sincero: são muito atrativas. Bom, eu particularmente acho um barato essas casas dos anos 40 e 50. Elas têm um desenho todo interessante e sofisticado, com detalhes sutis que oferecem à casa uma considerável imponência.

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O desenho das casas na Rua Japeri tem um ar elegante e vintage

 

Outras casas têm um estilo mais parecido com aquelas típicas do Grajaú, que são espaçosas e bem divididas, mas, ao mesmo tempo, compactas. Área livre para garagem, um certo ajardinado, elementos de pedra. Alguns poucos edifícios que estão pela Rua Japeri também são antigos e charmosos. Todos sem garagem. O Irene, logo na esquina com a Sampaio Viana, foi muito descaracterizado, embora ainda seja notável a sua distinção. Pelo menos nos primórdios. Meu conhecimento específico em arquitetura é pouco, o que nao me permite ir além nos comentários. Fiquemos apenas com as impressões pessoais.

As árvores, já muito antigas (um vídeo de 2008, no Youtube, denuncia o impressionante tamanho de uma raíz), apresentavam flores, formando uma bela e aprazível alameda. Alinhado a isso, na manhã em que estive lá, o movimento era bem família, com muitas crianças, e a vizinhança mostrou-se simpática. Barulho, só mesmo o das obras de um grande condomínio em construção no terreno de trás. Ou então das freadas dos ônibus na Paulo de Frontin. Sons, esses, abafados por um ou outro passarinho que, de galho em galho, ainda pia musicalmente sem nem ter ideia da quantidade de coisas que nós, criaturas humanas, nos preocupamos, criticamos, taxamos, exigimos de uma rua ou bairro para que seja perfeito. O Rio Comprido pode não estar lá essas coisas, mas a Rua Japeri é uma joinha.

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