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Blog sobre as ruas do Rio de Janeiro
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Praça Edmundo Rego e Avenida Engenheiro Richard

Essa praça e a essa avenida poderiam ser de qualquer cidadezinha do interior, mas ficam logo ali, no Grajaú, em meio a um ambiente pra lá de bucólico A Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Praça Edmundo Rego, no Grajaú: local de encontro dos moradores e de atividades festivas do bairro. por Pedro Paulo […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h22 - Publicado em 5 jul 2012, 21h48

Essa praça e a essa avenida poderiam ser de qualquer cidadezinha do interior, mas ficam logo ali, no Grajaú, em meio a um ambiente pra lá de bucólico


A Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Praça Edmundo Rego, no Grajaú: local de encontro dos moradores e de atividades festivas do bairro.

por Pedro Paulo Bastos

Estamos em pleno inverno, mas parece que as nuvens e as temperaturas mais baixas estão longe de pairar pelo Rio de Janeiro. O sol tem estado tão intenso e bonito como no verão, embora sem a umidade que lhe é peculiar. A manhã é a minha parte favorita do dia, e o seu sol, mais ainda. É difícil explicar; os raios solares parecem mais amistosos do que os da tarde, como se viessem saudar as ruas e sua gente após um período de escuridão total, de silêncio e pouca movimentação, como é a madrugada. Na Praça Edmundo Rego, no Grajaú, essa camaradagem matutina pode ser bem apreciada. Afinal, é um bairro privilegiado por natureza, está encravado na Mata Altântica, e ainda tem uma bela estética urbana. Suas ruas são verdadeiras alamedas em molde de tabuleiro de xadrez, cortadas por dois bulevares onde, no seu encontro, uma praça em rotatória vira ponto de encontro para o comércio local e de convivência dos moradores. Eis a praça citada, a Edmundo Rego.

Estacionei minha bicicleta em um dos bicicletários recém-instalados na praça, de frente para a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Já havia estado ali há poucos dias, num sábado de manhã (viva a manhã!), e a movimentação era mais intensa. O dia de folga propiciava uma maior congregação de gente e de muitas crianças, também em suas bicicletinhas, só que de rodinhas. O espaço livre era ocupado por barraquinhas prestes a serem ocupadas pelas típicas festas julinas, com fitas azuis e brancas por todos os cantos, inclusive na igreja. O resgate da tradição caipira, sem cair no termo pejorativo, é totalmente encaixável com o clima de bairro de interior que o Grajaú proporciona. Durante a semana, a situação era mais de calmaria. Vovôs e vovós tomavam banho de sol, o parquinho estava menos lotado do que de costume, e as saudações entre vendedores e moradores bem mais em evidência.


A Praça Edmundo Rego em dois momento: com vista para a Avenida Júlio Furtado e o espaço exclusivo de crianças, onde ficam os brinquedos.


A praça é rodeada de um pequeno comércio de apelo regional, atendendo às necessidades domésticas e de lazer.

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Sempre me refiro ao Grajaú como a Urca da zona norte e vice-versa. Até mesmo o Pico do Papagaio, a rocha monumental que é a identidade do Grajaú, se põe como exemplo, já que a Urca tem o mundialmente conhecido Pão de Açúcar nos seus lotes. São dois bairros isolados, cercados por natureza, com poucas ruas e com incríveis ares de cidadezinhas. Alegra-me observar as pessoas dali, como se relacionam, como se comportam. É diferente dos bairros mais agitados, onde todos estão sempre na correria para entrar em uma agência bancária ou pegar um ônibus. É diferente dos bairros turísticos, que por mais bucólicos que sejam, são confusos à sua maneira. Muitas sinalizações, muito trânsito, muito estrangeirismo. A impressão é que você está sempre sendo observado por alguém, seja para reparar no que se está vestindo, seja para logo surgir alguém a fim de te dar um puxão de orelha por aquela breve manobra de bicicleta na calçada. Na Praça Edmundo Rego, pelas minhas experiências acumuladas até agora, o clima é de comunidade. “Entre, chega mais”, anuncia o subconsciente diante da sinestesia local. O convite é de compartilhamento daquele espaço, sendo respeito um item comportamental que não precisa ser anunciado para ser executado. Exageros frutos de preocupações e neuroses individuais não existem por lá.

Um dos bulevares que a circunda é a Avenida Engenheiro Richard, abreviação de Antônio Eugênio Richard Júnior, o construtor do bairro do Grajaú. Há muito que os canteiros centrais das suas avenidas já não são ajardinados, no entanto. Talvez seja esse um dos indícios de decadência vivenciado por antigos bairros bucólicos da zona norte, principalmente após a expansão da política rodoviarista de meados do século passado. Em meio a um lugar onde tudo pode ser feito a pé ou em bicicleta, os canteiros da Avenida Engenheiro Richard funcionam como estacionamento para dezenas de automóveis. Um mal necessário, só que mal aproveitado, não é mesmo? Em alguns trechos do canteiro, ainda há uma utilização mais coletiva, como no caso de uma simpática pequena vendinha de frutas e hortaliças, em frente à Praça Edmundo Rego.


O início da Avenida Engenheiro Richard, onde o seu canteiro central é, infelizmente, usado como estacionamento. Apenas no trecho em frente à praça é que existe uma vendinha ambulante de frutas e hortaliças.


No Grajaú, as ruas são comumente livres de trânsito intenso, permitindo a prática de esportes como corrida, caminhada e ciclismo nas próprias vias.


A Avenida Engenheiro Richard, sombreada por tantas árvores. As casas datam das décadas de 40 e 50.


O trecho final da Avenida Engenheiro Richard: observe a proximidade com o Pico do Papagaio e, à direita, a Rua Comandante Martinelli, que também se repete na foto ao lado, no caminho que leva à Reserva Florestal.

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Eu segui a Avenida Engenheiro Richard em direção à Reserva Florestal do Grajaú, pouco lembrada nos guias turísticos, o que a torna um parque de apelo mais regional. É nessa direção onde fica o Pico do Papagaio, rocha pela qual sou apaixonado. De qualquer ângulo da avenida é possível avistá-lo, muito de perto. As casas antigas de lá, umas mais bem conservadas do que outras, e escuras pela sombra abundante proporcionada pelas árvores, não teriam o mesmo charme se o Pico não pudesse ser visto detrás delas. Os prédios, datados dos anos 80 e 90, são altos em relação ao gabarito original do Grajaú. Tendo em vista que os prédios não são maioria por lá, imagina o vistaço que os andares mais superiores devem ter do Pico do Papagaio e do resto do bairro? Lá vem eu de novo paparicando a Pedra do Andaraí, como é também conhecida.

Da esquina com a Rua Canavieiras para cima, a Engenheiro Richard vai se transformando em um pequeno aclive de arquitetura verticalizada. As casas, até então majoritárias na paisagem, dão lugar a edifícios mais antigos. A lógica é compreensível: a demanda devia ser altíssima para estar cada vez mais perto do morro. O canto dos passarinhos é mais notório e os ares são mais amenos, inclusive. Curiosamente nesse trecho do Grajaú não há favelas, o que oferece uma visão original da mata. No passado, num Grajaú sem favelas, morar ao lado do morro devia ser privilégio. É apenas na Rua Comandante Martinelli, parcialmente fechada ao público, que se verifica melhor o tal do privilégio: casas de padrão mais elevado vão se espraiando pela via, bem no pé do Pico do Papagaio e da mata verde. A outra parte da rua, de acesso livre, vai em direção à Reserva Florestal, numa subida íngreme, em meio a casas tão boas quanto às do vale. A diferença é a paisagem avistada lá de cima, que supera a dos edifícios da Avenida Engenheiro Richard. Dependendo da altura que se alcance, é possível ver o Maracanã, a Ponte Rio-Niterói, o Elevado Paulo de Frontin e a Quinta da Boa Vista. Bem modesto esse Grajaú.

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