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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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Traições amorosas dos artistas: faz bem sofrer diante do público?

As polêmicas exposições de assuntos da vida íntima em redes sociais denotam uma mudança de percepção da mulher na sociedade

Por Analice Gigliotti
25 set 2023, 12h38

Tornou-se uma constante: de vez em quando algum artista – a maioria das vezes, mulheres – vai à mídia dizer que foi traído e chora suas dores aos olhos do público. O comportamento impõe uma série de questões, que falam muito sobre o nosso tempo. Será que faz bem viver um sofrimento assistido por milhões de pessoas?

Há alguns anos – desde a criação das tais “revistas de celebridades”, ainda nos anos 1990 – a fronteira entre o público e o privado na vida dos artistas é bastante borrada. Como cravou o jornalista Tutty Vasquez: depois da invasão de privacidade, vivemos a era da “evasão de privacidade”. Mostrar a casa, o quarto e o banheiro passou a ser uma forma de fazer-se presente em uma indústria com disputa acirrada por atenção.

O surgimento das redes sociais nas últimas décadas apenas intensificou este processo. Com uma diferença fundamental: agora quem escolhe o que e quando mostrar é o próprio artista em suas páginas, com milhões de seguidores (alcance muito maior do que qualquer mídia tradicional pode oferecer hoje). O raciocínio é simples: se vão falar de mim, falo eu antes, com o controle sobre a forma e o conteúdo da mensagem.

A consequência, porém, é que tudo fica meio embolado. Entre uma publicidade de geladeira bem remunerada e uma presença paga em evento comercial, chora-se pelo amor perdido. Expõe-se e vende-se sentimentos íntimos – bons ou ruins – como um produto qualquer. Um “escândalo” midiático, como uma traição, tem o potencial ainda de atrair novos negócios e anunciantes – além dos tão valiosos seguidores.

Mas compartilhar na mídia a dor de uma traição também pode ser empoderador porque é a contramão do modus operandida cultura machista e patriarcal em que estamos inseridos. Mulheres não são mais traídas como antigamente: enquanto elas demonstravam fraqueza, eles tinham a masculinidade festejada. Agora, enquanto eles são expostos como pessoas tóxicas, não merecedoras do amor e da confiança a eles devotado, elas mostram-se resilientes e, por mais que doa, são capazes de dar a volta por cima. Um enorme avanço.

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Também é digno de nota a enorme rede de apoio de outras mulheres que saem em defesa da traída. A tão falada sororidade exercida na prática, seja por outras pessoas famosas, na mídia ou entre anônimas.

Certas ou erradas em seu modo de demonstrar sofrimento, testemunhamos uma revolucionária mudança de entendimento da figura do feminino na sociedade. E isso não é pouca coisa.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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