Organização Mundial de Saúde: consumo de tabaco diminui no mundo
No entanto, fumantes ainda são mais de um bilhão de pessoas
Há pelo menos três décadas, instituições, sociedades médicas e pesquisadores insistem em afirmar, baseado em evidências, os terríveis males à saúde impingidos pelo hábito do cigarro. Porém, todo trabalho de conscientização, para ser eficiente, demanda tempo, investimento e persistência. Os frutos começam a ser vistos agora. Dados divulgados neste 2024 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o consumo de tabaco apresentam respostas positivas para o trabalho árduo feito pelos profissionais de saúde acerca do tema.
Segundo a entidade, o consumo de cigarro vem diminuindo ao longo dos anos. Em 2000, 1 em cada 3 adultos era fumante. Agora, em 2022, cerca de 1 em cada 5 adultos tem o hábito do fumar cigarro. Apesar da boa notícia, o mundo ainda tem cerca de 1,25 bilhão de fumantes. É bastante, especialmente se considerarmos que o tabaco é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano, em doenças respiratórias, cardiovasculares e cânceres.
Segundo a OMS, 150 países estão conseguindo reduzir o uso do tabaco. O Brasil se destaca na diminuição do consumo: uma retração de 35% desde 2010. Na contramão do movimento mundial, seis países aumentaram o uso de tabaco: Jordânia, Congo, Egito, Omã, República da Moldávia e Indonésia.
A expectativa é que o mundo chegue a uma redução relativa de 25% no consumo de tabaco até o ano que vem, embora a meta esperada seja de 30%. A diferença se dá, especialmente por conta do Sudeste Asiático, região que tem maior percentagem de fumantes: 26,5%, seguido da Europa, com 25,3%.
O relatório da OMS concluiu que, em 2000, 16,3% das mulheres e 49,1% dos homens com mais de 15 anos eram fumantes. A previsão para 2025 é de queda: 6,7% (mulheres) e 32,9% (homens). Os números são ainda mais animadores para 2030: 5,7% para o público feminino, e 30,6% para o masculino.
No documento, a Organização Mundial de Saúde ressalta que as medidas eficientes para reduzir o consumo de tabaco já são conhecidas. Cabe, pois, aos países aderirem às políticas de proteção da população contra o tabaco. Quando isso acontece, fica evidente a redução na taxa de prevalência do consumo e o aumento da qualidade de vida e saúde das populações. A OMS criou, em 2009, uma lista de medidas para combater o fumo, o MPOWER. O Brasil está entre os países que cumpriram inteiramente essas metas. Isso explica muito significativamente a razão do êxito do Brasil em diminuir o número de fumantes.
As autoridades da OMS lançam um alerta: apesar dos avanços nos últimos anos, não se pode abaixar a guarda. Quando pensamos que a luta está ganha, a indústria cria novos produtos, demandas e ofertas para continuar existindo. O melhor exemplo disso é a disseminação veloz e perigosa dos vapes, que nada tem de inofensivos, especialmente entre os jovens. Estar atento aos novos riscos é tão importante quanto comemorar vitórias significativas, como a anunciada agora pela OMS.
Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.