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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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O que é JOMO? O prazer de se permitir dizer “não” quando todos dizem “sim”

Carnaval é das festas que mais provocam a ideia da “felicidade obrigatória”

Por Analice Gigliotti
27 fev 2023, 13h31

Vivemos no tempo do pertencimento. Todos, de alguma maneira, são instados a aderir a algum grupo, seja por identidade de cor, religiosa, sexual, de classe ou de gênero. O ser humano é coletivo e gregário. Queremos pertencer. Em tempos de redes sociais, o que era instintivo passou a ser estimulado pelo mercado. Uma combinação explosiva.

Em certas datas festivas, em especial o Ano Novo e o Carnaval, impõe-se uma certa “ditadura da alegria”, que alardeia a ideia de que quem não faz parte está por fora. Tal comportamento gerou o FOMO (sigla para fear of missing out, em português algo como “medo de estar perdendo”). “Quem não está no Carnaval de Salvador está perdendo!”, “Quem não está no Sambódromo está perdendo!”, “Quem não está curtindo o bloco está perdendo!”. Essa postura é um convite ao adoecimento da saúde mental de boa parte da população, em especial a dos jovens, mais suscetíveis aos modismos.

Em resposta ao FOMO, surgiu uma outra sigla: o JOMO (joy of missing out, ou “o prazer de perder”), uma atitude libertadora de se permitir dizer “não” quando todos dizem “sim”. Não quer ir ao bloquinho? Não vá. Perdeu o desfile no Sambódromo? Tudo bem. Não foi para Salvador? Problema nenhum. Respeitar os próprios desejos, sem culpas, é bastante saudável para o corpo e a mente.

O JOMO também passa a ser aplicado a outros segmentos da vida e suas “imposições obrigatórias”: o filme da moda, o show que todos querem ir, o livro sensação do momento. Vivemos num mundo com tamanha provocação de estímulos que o dia teria que ter o dobro de horas para darmos conta de tudo que nos impacta. Aceitar essa ideia é um primeiro grande passo para uma vida mais pacificada.

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O JOMO se aplica também às dependências tecnológicas, tão comuns nos dias de hoje. Autorizar-se a se manter alheio às notificações do Instagram, às atualizações do Twitter, não checar imediatamente novas mensagens do WhatsApp e todas essas interferências rotineiras que prejudicam a qualidade da nossa concentração também é uma forma de autopreservação, já que diversos estudos associam o uso excessivo de redes à ocorrências de depressão e ansiedade.

E antes que aquele amigo mais animado se aventure a dizer – sem ter noção do que está falando! – que você “só pode estar deprimido” por não querer acordar às seis da manhã para curtir o calor do bloco de Santa Teresa: mal sabe ele que respeitar os próprios desejos, os tempos internos e ritmos biológicos é um grande gesto de autoconhecimento e, em última instância, de amor próprio. Fazer o que se quer e não o que esperam da gente é a senha para a maturidade.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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