Janeiro Branco: a importância do equilíbrio na vida
Movimento de conscientização alerta para a saúde mental
Janeiro, tradicionalmente, é o mês em que as pessoas “recalculam rotas”: avaliam o ano que passou, examinam o que deu certo e o que deu errado, criam novas metas e traçam novos planos. É como se o cronômetro da vida fosse zerado e a partir do novo ano, tivéssemos todos a chance de uma nova vida. “Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um individuo genial: industrializou a esperança”, já resumiu Carlos Drummond de Andrade.
Por isso, diante de tantas novas expectativas, o primeiro mês do ano foi justamente o escolhido abrigar uma campanha anual de conscientização da importância da saúde mental. O Janeiro Branco tem como objetivo chamar a atenção dos indivíduos, das instituições, das sociedades e das autoridades para as necessidades relacionadas à Saúde Mental.
E os últimos anos não foram fáceis. É fato que a pandemia mexeu demais com a saúde mental das pessoas, independente de idade ou classe social – embora nota-se que o impacto foi ainda mais profundo entre os mais pobres. Soma-se a isso o violento embate político a que nós brasileiros fomos submetidos nos últimos anos. O resultado se traduziu na saúde mental da população.
De acordo com a pesquisa Global Health Service Monitor, apenas 18% dos brasileiros diziam que tópicos como depressão e ansiedade eram fontes de inquietude em 2018. Esse número subiu para 27% em 2019, 40% em 2021 e 49% em 2022 — um salto de 2,7 vezes num período de quatro anos. A preocupação não é injustificada: o Brasil tem apresentado um aumento significativo na incidência de casos de depressão, segundo levantamentos nacionais de saúde. De acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, um dos mais amplos estudos do país sobre saúde, 11,3% dos brasileiros relataram ter recebido diagnóstico médico de depressão. A estatística vai de encontro à quinta posição que o Brasil ocupa entre os cinco países com maiores taxas de depressão no mundo, segundo o World Population Review.
Para o Janeiro Branco 2023, os organizadores se valeram do lema “A vida pede equilíbrio” para abordar as constantes mudanças que se aplicam a vida de todos nós, cada vez mais desafiadoras e aceleradas, que exigem novas posturas, habilidades e inteligências. Talvez o mais urgente deles, face à urgência imposta pela tecnologia, é o entendimento do tempo.
A atenção plena no presente é um comportamento com nome próprio: mindfullness, técnica psicoterápica criada por John Kabat-Zinn, que ganha cada vez mais adeptos justamente porque é um poderoso aliado na pacificação interna contra a ansiedade e a depressão.
Na busca pelo equilíbrio da vida, a atitude mais acertada é viver a melhor versão de nós mesmos, agora. E não apenas no janeiro que se encerra, mas em todos os meses do ano. Experimente. Tudo ficará bem mais leve e suportável sob esta ótica.
Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.