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Analice Gigliotti

Por Analice Gigliotti, psiquiatra Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Comportamento

Adultos de chupeta: o que significa esse comportamento?

Moda de adultos usarem utensílio infantil seria uma espécie de regressão

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 26 ago 2025, 10h50 - Publicado em 26 ago 2025, 10h26
Foto de uma chupeta branca sobre bancada.
Adultos de chupeta: alegação de ser antiestresse e evitar a ansiedade. (Freepik/Reprodução)
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Muito ser falou na semana passada da “adultização” de crianças. Depois da denúncia do influencer Felca a respeito da exploração de adultos dos corpos de crianças e adolescentes em posts na internet, o assunto foi parar no Congresso e caminha para uma nova legislação que proteja um pouco mais o uso de imagem de menores.

Mas na contramão desse movimento, vemos a tendência, ou a trend, como se diz hoje em dia nas redes, de adultos recorrendo ao velho hábito infantil de chupar chupetas. Sob a alegação de ser antiestresse e evitar a ansiedade, além de colaborar para reduzir a vontade de fumar ou manter a abstinência. Quanto a este último argumento, minha área de especialização, posso assegurar que uma chupeta em nada é capaz de auxiliar a manter a distância do cigarro. Além disso, dentistas e outros especialistas em saúde bucal tem insistido na ideia de que a chupeta deforma os dentes e compromete a saúde da região.

O fato é que recorrer ao utensílio é uma forma de regressão à infância. Uma espécie de tentativa de administrar a pressão emocional valendo-se de um comportamento que remonta à segurança e ao conforto do início da vida. Um adulto de chupetas remete a uma certa ideia de exaustão com a fase adulta. A a verdade é que não faltam razões atualmente para se sentir exausto. Mas colocar uma chupeta na boca, definitivamente, não resolve o problema – apenas serve de alerta de que algo está errado e que é preciso elaborar novas maneiras de enfrentar desafios.

Diria mais: adulto chupar chupeta é uma coisificação das conexões. Para os bebês, chupetas são substitutos do peito, da mamada, um recurso para tranquilizar diante da ausência materna.

Desconfio que, nessa era de comunicações digitais, o item mais necessário é contato humano. Quanto mais amigos se tem online, maior o sentimento de solidão. E é nesse vazio que a chupeta tem espaço. Na falta. Na ausência.De certo modo, se assemelha ao papel do bebê reborn, só que às avessas.Ao invés de simular um filho, simula-se uma mãe.

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A situação fica ainda mais complicada quando estes comportamentos são reproduzidos ad nauseam nas redes, posicionando-os como uma tendência de comportamento justificável. Essa lógica confirma a relevância de se criar uma estrutura emocional fortalecida, com discernimento, capaz de fazer escolhas orientadas pela vontade própria e não pelo comportamento da massa – ou da força das redes sociais.

A vantagem (ou desvantagem) é que chupeta e bebê artificial não reclamam, não choram, não brigam. Dão menos trabalho e não tem vontade própria. Mas não preenchem, não suprem a necessidade de afeto. E o vazio continua.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp (CRM 5249669-2 e RQE 21502); professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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