Desafio da Ponte Rio–Niterói: as dicas de ouro da campeã Vanessa Protasio
A atleta que venceu a prova em 1982 e segue ativa nas pistas aos 72 anos dá conselhos a quem vai encarar a travessia com vento, altura e muita emoção
Domingo vou estrear no Desafio da Ponte, a Meia Maratona que atravessa os 13km de extensão da imponente Ponte Rio–Niterói, a maior do hemisfério sul.
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Apesar de eu já ter corrido várias provas de 21km, sinto um frio na barriga. O percurso é conhecido por sua altimetria dura, o vento teimoso e a largada com uma longa subida em Niterói. Mas não é só isso. Há algo de simbólico nessa travessia sobre a Baía de Guanabara, em um raro momento em que carros dão lugar a corredores.
Realizada de 1981 a 1986 e retomada entre 2011 e 2013, essa prova ficou marcada na memória dos corredores, e agora, mais de uma década depois, retorna ao calendário esportivo do Rio de Janeiro em um cenário ainda mais bonito, sem a Perimetral.
Não tenho dúvida de que essa corrida exige um preparo extra, tanto físico quanto mental. Para encarar o medo das alturas — a altimetria chega a impressionantes 72 metros! — e entender melhor o que nos espera, fui ouvir quem mais entende do assunto: a campeã da prova e psicóloga do esporte, Vanessa Protasio.
Aos 72 anos, ela é uma lenda viva das corridas de rua. Venceu a prova em 1982, com o tempo de 01h29, numa época sem GPS, sem relógio de pace, sem patrocínio. “Todos tinham medo do vento. Eu corri desgovernada (risos). Mas lutei por um grande lugar. E consegui”.
Sempre vencedora, na primeira edição, ela se classificou no topo da sua faixa etária. Na segunda, levou o troféu no geral feminino. Como estratégia, Vanessa conta que correu atrás de um pelotão para escapar do vento, calculou os momentos certos para ultrapassar as adversárias e se impôs – mais uma vez, “desgovernada” – no trecho final.
“Correr na ponte Rio–Niterói exige estratégia. Não pode gastar energia na subida, nem soltar tudo na descida. Depois da ponte, ainda tem sete quilômetros pela frente. A hora de acelerar é na reta, na parte mais estável”.
A corrida na ponte desafia não só as pernas, mas também a mente. “O primeiro passo é entender que você vai lidar com as forças da natureza – vento, altura, instabilidade -, e nada disso está sob seu controle. A chave é reduzir o medo e ampliar a confiança. E como se faz isso? Pensando, se adaptando, escutando o corpo quilômetro a quilômetro. É uma prova difícil do começo ao fim, mas é justamente isso que a torna tão marcante”, resume.
“O Desafio da Ponte tem um percurso desafiador, repleto de subidas, descidas e um cenário único, afinal, estamos falando de cruzar uma das maiores pontes do mundo. E é essa combinação que torna a prova tão atraente para atletas acostumados à alta performance e à superação de limites”, resume João Traven, diretor da Spiridon, organizadora do evento ao lado da Dream Factory.
Vanessa ressalta ainda a vista para as belezas do Rio de Janeiro vistas de um ângulo privilegiado. Até quem costuma correr focado no pace, como ela, se vê obrigado a olhar para a paisagem.
“Você corre vendo o Pão de Açúcar, o Centro, e agora ainda tem o Museu do Amanhã, a Roda Gigante. Mas o melhor é o mar a seus pés. É como se você estivesse voando e, de repente, mergulha no Rio de Janeiro. Isso é de uma beleza difícil de descrever”.
A vitória de Vanessa em 1982 foi um divisor de águas para a atleta. Na sequência, ela venceu a Maratona do Rio e, no mesmo ano, bateu seu recorde nos 42k na Maratona de Nova York, em 3h00m39.
“A Corrida da Ponte aconteceu pouco antes da maratona, o que acabou ajudando no meu ciclo. A Ponte me deu confiança. Ali, percebi que podia mais”, reconhece ela, que se tornou uma das maiores referências femininas da corrida no Brasil, em uma época em que as mulheres ainda precisavam lutar para marcar seu espaço nas pistas.
Antes de encarar a ponte, vale anotar os conselhos que só a experiência e o vento na cara são capazes de ensinar:
Largue longe da mureta
“Nunca largue perto da mureta. Lá de cima, o mar parece um abismo. Dá enjoo, você perde a referência. O ideal é largar no meio da pista: ali você se sente mais seguro e ainda se protege melhor do vento”.
O maior inimigo é o vento
“O problema da ponte não é o sol, nem a subida. É o vento. E você não vence o vento, você se associa a ele. Se estiver contra, se abriga atrás de alguém. Se vier lateral, se ajusta. Aprende a conviver com ele”.
Controle o que está ao seu alcance
“Foca no que você controla: seu posicionamento, sua estratégia, sua mente. A corrida exige presença e adaptação constante. O resto é natureza, e com ela, a gente negocia, não briga”.
Eu ainda não sei o que me espera no domingo. Mas vou correr ansiosa por algo novo, pensando nesse novo mergulho na cidade, como inspirou a Vanessa. E que essa travessia simbólica também me impulsione no próximo desafio.
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