Conheça a rotina e o grande sonho do tricampeão amador da Maratona do Rio
Miguel Morone conta como equilibra a vida de bombeiro, pai e atleta de alta performance com disciplina e flexibilidade. E quer mais: correr na elite em 2026

Já cruzei com ele algumas vezes correndo na Lagoa. Sempre acessível, gentil, com aquele jeito leve de quem corre fácil e por puro prazer. E foi assim que, no último domingo, o bombeiro militar Miguel Morone escreveu mais um capítulo marcante em sua trajetória, tornando-se tricampeão da Maratona do Rio na categoria amador. Com o tempo impressionante de 2h22min52s, ele foi o quinto atleta mais rápido da prova e o terceiro melhor brasileiro da prova.
Agora, Miguel mira um novo desafio. E compartilha, pela primeira vez, um sonho até então guardado: disputar a Maratona do Rio entre os atletas da elite em 2026.
“Quero buscar o índice e viver essa experiência. Correr na elite da Maratona da minha cidade seria um marco na minha vida”
Para alcançar esse feito, ele precisa baixar o tempo em quase três minutos. Nada fácil. Mas Miguel é o tipo de pessoa que transforma rotinas desafiadoras em combustível para seguir motivado. Subcomandante do 3° Grupamento Marítimo do Corpo de Bombeiros Militar do Rio, ele tem a vida profissional intensa por natureza, e ainda a divide com o papel de pai, marido e atleta de alto rendimento. “Conciliar tudo exige muita organização e paixão. Trabalho praticamente todos os dias, sou pai, marido, e tenho o esporte, que começou como hobby e hoje é um dos pilares da minha vida. O tempo é precioso e cada escolha conta. Planejo bem a semana para equilibrar minhas obrigações”, ensina.

Ele acorda cedo e muitas vezes faz o primeiro treino do dia antes de sair do quartel. Quando precisa de uma segunda sessão, encaixa o treino entre o fim do expediente e a hora de buscar o filho na creche.
“Equilibrar tudo é, sem dúvida, o maior desafio. Mas a corrida, para mim, nunca foi só sobre só competir, é sobre estilo de vida, propósito e constância. Sou bem flexível com os horários e adapto tudo ao ritmo da semana junto com meu treinador. E procuro não negligenciar o descanso, porque penso em longevidade”.
“O descanso é fundamental. Se eu quero performar bem, não só na corrida, mas em todas as frentes, tenho que estar inteiro”

Correr com propósito
A corrida ganhou um espaço especial em sua vida em 2020, ano em que seu filho, Pedro, nasceu. Foi também quando Miguel foi promovido na carreira. E tudo em plena pandemia. Ou seja, claro que sua rotina virou de cabeça para baixo.
“Vi tudo mudar de repente e senti precisava voltar a equilibrar os pilares mais importantes da minha vida: família, trabalho e esporte. A corrida encaixava perfeitamente nessa nova fase. Me deu foco, saúde, e a sensação de estar no controle”.
Desde então, a paixão pelo esporte virou pilar. “Continuei treinando em alto rendimento, com desafios grandes, mas de forma consciente, respeitando meus limites e buscando evolução. A corrida é hoje um dos meus principais pontos de apoio”.
“A Maratona do Rio é muito mais que uma prova, é reencontro, é emoção pura, é raiz”

Para Miguel, correr no Rio é mais do que competir. “É mágico. Cada rua tem uma lembrança, cada trecho carrega parte da minha história. É onde trabalho, treino, vivo. Estar ali, competindo no lugar que me formou como atleta e como pessoa, transforma tudo”.
E na largada, ele é como nós, mortais, sente a energia do momento. “Vem muita coisa na cabeça. É como se toda a preparação passasse em câmera rápida. Isso me enche de energia. E aí vem a respiração funda, olho para frente e penso: agora é comigo!”
Exemplo de campeão
A emoção de vencer três vezes não se mede pelos tempos nas provas, apesar dele ter fechado esse ano mais uma vez abaixo de seu recorde pessoal (RP). “Eu já estava em primeiro, abaixo do meu RP, pensei em controlar o ritmo, mas não consegui tirar o pé. Lembrei de todo apoio que recebo das pessoas e fui até o fim, entregando tudo. É uma emoção absurda, porque tem muita dedicação por trás”.
“Eu corro pra vencer, mas também pra inspirar, conectar e estar próximo das pessoas”
No ano passado, ele realizou o sonho de encontrar a mulher e o filho no km30. Esse ano, viveu outro momento inesquecível com a esposa no fim da prova. “Tive o prazer de esperar para entregar a medalha para ela. Uma emoção gigante. Cada prova tem sua história. Vou vivendo intensamente cada uma”.

Com essas conquistas, a trajetória de Miguel ganhou projeção além do pódio. A visibilidade que veio com os títulos abriu novas portas e ampliou o alcance da sua mensagem como atleta e como pessoa. “Vieram novas oportunidades. Conquistei parcerias importantes que acreditam na minha história e projetos. Mas o mais valioso é o impacto: ver que minha trajetória inspira e motiva pessoas comuns a se superarem. Isso não tem preço”.
“Encontrei no esporte uma forma de me doar e ajudar ao próximo, mostrando que, independente do ritmo e pace, o mais importante é estar em movimento”
Rumo à elite em 2026
Comandado pelo treinador Cláudio Morgado há dez anos, Miguel treina com planilhas estruturadas, mas abertas à flexibilidade. “Faço a maioria dos treinos sozinho, por conta dos horários malucos. Mas nos longões, tento juntar os amigos. A resenha é a melhor parte”, admite.

Agora, além do objetivo de conquistar o índice para correr entre os profissionais da Maratona do Rio em 2026, ele segue firme no projeto de completar as Majors Marathons. Já concluiu Chicago, Berlim, Boston, Londres e correrá Nova York em novembro deste ano. “Falta apenas Tóquio para fechar a mandala. Mas o sonho de correr na elite da Maratona do Rio me move. Seria a realização de um ciclo”.
Treino base de Miguel Morone, sob orientação do técnico Cláudio Morgado:
– Segunda-feira: Rodagem progressiva leve + treino de força
– Terça-feira: Fartlek ou blocos progressivos intensos
– Quarta-feira: Intervalado (ex: 6x1000m, 10x400m ou pirâmide)
– Quinta-feira: Regenerativo + treino de força funcional
– Sexta-feira: Rodagem moderada com ritmo sustentado
– Sábado: Longão progressivo ou com variação de ritmo (incluindo treino de montanha)
– Domingo: Regenerativo ou descanso total (day off)
Obs.: Em algumas fases da periodização, Miguel realiza treinos em dois turnos. O segundo treino do dia é sempre leve, com foco em mobilidade ou rodagem solta.