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Ao deus-dará

Entidades laicas reclamam das indefinições da Jornada Mundial católica

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 jun 2017, 13h59 - Publicado em 12 jun 2013, 16h40
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Há dois anos, quando o papa Bento XVI anunciou durante a Jornada Mundial da Juventude de Madri que a próxima edição do encontro seria no Rio, a cidade se encheu de orgulho com a perspectiva de receber, pela quinta vez na história, a visita de um sumo pontífice. O que já era um evento de grande porte ganhou outra dimensão após a renúncia de Bento XVI e a escolha de um cardeal argentino para liderar o rebanho católico. Naturalmente, a novidade adicionou nitroglicerina ao alvoroço, que promete reunir, por baixo, mais de 1 milhão de pessoas. Por sua logística complexa, um acontecimento dessa magnitude requer minucioso planejamento, impossível de ser feito de afogadilho. É justamente aí que mora o pecado. A apenas dois meses do início, pairam mais dúvidas do que certezas sobre o encontro. Algumas das instituições laicas envolvidas na organização da jornada se queixam de que a Arquidiocese do Rio parece não ter controle total da situação e sistematicamente sonega informações importantes sobre a programação. “A impressão é que a Igreja quer que haja confusão, para mostrar ao mundo que é capaz de parar uma metrópole como o Rio”, relata uma pessoa próxima ao comitê organizador.

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Na última semana de abril, o responsável no Vaticano pelas viagens internacionais do chefe da Igreja Católica, Alberto Gasbarri, veio ao Rio para definir o roteiro do papa Francisco. Ele se reuniu com a cúpula da organização e ficou combinado que, de volta à Itália, mandaria suas resoluções para a Arquidiocese do Rio, que, por sua vez, repassaria as informações aos demais órgãos. Não foi o que aconteceu. Peça fundamental no quesito segurança, as Forças Armadas deram a entender que só tomaram conhecimento dos detalhes da viagem do papa por meio da Secretaria Geral da Presidência. Como se não bastasse, a agenda incluía procedimentos que iam de encontro às recomendações militares. Para surpresa geral, todos os deslocamentos estão previstos para ser feitos no papamóvel, o que exige uma ampla varredura do percurso, a colocação de grades em todo o trajeto e ao menos um policial a cada 10 metros nos dois lados da calçada. Um dos pontos altos dos festejos, a oração do Angelus com alocução do Santo Padre foi marcada para o balcão central do Palácio São Joaquim, na Glória, poucas horas antes da via-crúcis, em Copacabana. “Não é possível deslocar todo o contingente de segurança de um lugar para o outro nesse curto intervalo”, avalia um membro do Exército.

A cada quinzena é realizada no Palácio da Cidade uma reunião abrangente, com a participação de 150 pessoas envolvidas no projeto. Costumam estar presentes o prefeito Eduardo Paes, o chefe da Casa Civil fluminense, Regis Fichtner, militares de alta patente, representantes de órgãos municipais, estaduais e federais, e dom Antônio Augusto, vice-presidente do comitê organizador do encontro. Criada em 1986 para celebrar a religião católica e promovida de dois em dois anos, a Jornada Mundial da Juventude é o primeiro megaevento que o Rio vai sediar até 2016. Ela acontecerá de 22 a 29 de julho e tem na programação uma via-crúcis e uma missa, ambas na orla de Copacabana, e uma romaria pela Zona Oeste, que também é motivo de divergências. Sob o argumento de que o público católico é ordeiro, o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, sugeriu que o Exército tomasse conta do Campus Fidei, área privada onde serão feitas a peregrinação e a vigília de encerramento. Contrariados com o pedido, os militares convenceram a Mitra Diocesana a contratar 2?500 seguranças particulares para isso. Ainda não se sabe onde ficarão hospedados os peregrinos e quais os locais da catequese que acontecerá todas as manhãs. Muito provavelmente para demonstrar pujança, os delegados da jornada reiteram que são aguardados 3 milhões de fiéis no Campus Fidei, ante estimativa bem mais modesta das autoridades laicas (veja o quadro acima). Tanto é que a própria Secretaria Municipal de Transportes já anunciou que vai interromper o fluxo de pessoas caso a quantidade de individuos no local atinja 1,3 milhão. No mês passado, surgiu o rumor de que o comitê organizador negociava com Roberto Carlos um show na Praia de Copacabana. Já pensou? Depois de algum suspense, dom Antônio Augusto refutou a possibilidade de juntar o papa e o rei. A assessoria do cantor, no entanto, confirma que ele foi procurado e só não aceitou a proposta por problemas de agenda. Diante de tantos desencontros, há quem já esteja rezando para que tudo dê certo.

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