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Paixão por encrencas

A história não autorizada da empresária Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso e porta-voz do grupo Procure Saber

Por Carla Knoplech e Sofia Cerqueira
Atualizado em 2 jun 2017, 13h19 - Publicado em 30 out 2013, 19h12

Empresária, produtora e ex-mulher de Caetano Veloso, Paula Lavigne se notabilizou pela atuação nos bastidores do showbiz. Nas quase duas décadas que ficou casada, geriu com mão de ferro a carreira e contratos do músico baiano e transformou o patrimônio de ambos em um pequeno império. É sócia da Uns Produções e Filmes (substituta da antiga Natasha Records) e, além de representar até hoje o ex-marido, participou da produção de campeões de bilheteria do cinema nacional como 2 Filhos de Francisco, O Bem Amado e Lisbela e o Prisioneiro. Nas últimas semanas, o que se viu foi uma guinada em sua trajetória.

De coadjuvante no mundo da cultura e entretenimento, ela virou protagonista ao assumir o papel de porta-voz da Procure Saber, agremiação que reúne medalhões da música popular brasileira (entre eles Caetano, Chico Buarque, Roberto Carlos e Gilberto Gil), e defender a obrigatoriedade de autorização a biografias ? um ataque à liberdade de expressão e uma forma mal disfarçada de censura. Acostumada a polêmicas, desta vez ela se viu no meio de uma tormenta, disparando com a habitual agressividade algumas grosserias na defesa apaixonada da sua cruzada. Tamanha entrega não é novidade para Paula, dona de uma trajetória que impressiona pela maneira aguerrida com que toca seus negócios e pela colossal capacidade de se envolver em barracos e confusões. Nas próximas páginas, VEJA RIO conta um pouco da história dessa carioca temperamental de 44 anos, agora no olho do furacão. A equipe da revista debruçou-se sobre arquivos de jornais, entrevistas concedidas por Paula (e não refutadas) e ouviu mais de trinta pessoas próximas à empresária. Procurada, ela não quis falar.

Fotos Jorge Cysne (Vale Tudo), Ana Stewart (Cazuza), Silvio Viegas (Anos Dourados), reprodução (lisbela)
Fotos Jorge Cysne (Vale Tudo), Ana Stewart (Cazuza), Silvio Viegas (Anos Dourados), reprodução (lisbela) ()

Capítulo I MULHER DE UM ÍDOLO

O Caetano Veloso que conhecemos e admiramos hoje talvez não existisse se não fosse Paula Lavigne. Assim que se casaram, ela assumiu as rédeas da carreira do músico, controlando shows e produzindo videoclipes, além de trilhas sonoras de filmes. À época sócia na empresa Natasha Records, imprimiu um estilo profissional aos negócios, tratou a produção do artista como um ativo e retomou a propriedade de 95% de sua obra. Em uma entrevista à revista TPM, em 2003, ela afirmou que, desde o casamento, a fortuna do baiano fora multiplicada por dez. “Até conhecê-la, Caetano tinha uma vida financeira tímida e meio atrapalhada. Ela mudou isso”, confirma o empresário Ricardo Amaral, dono da antiga boate Hippopotamus, onde os dois foram fotografados pela imprensa juntos pela primeira vez, em agosto de 1986 ? ela com 17 anos e ele com 44. Eles haviam se conhecido quatro anos antes, após a apresentação de uma peça teatral em que ela atuava. Em uma declaração bombástica à revista PLAYBOY em 1998, Paula contou que perdeu sua virgindade com o cantor quando tinha apenas 13 anos. Mais recentemente, afirmou ter feito um aborto aos 16 anos ao engravidar de Caetano. “Não queria ter um filho adolescente”, disse à revista Status no ano passado. O filho mais velho do casal, Zeca, tem 21 anos e o caçula, Tom, 16.

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Capítulo II ASPIRANTE A ESTRELA

O talento que Paula Lavigne demonstra nos bastidores é inversamente proporcional ao que exibe quando está em um palco ou à frente das câmeras. E ela não tem nenhum problema com isso, a ponto de reconhecer que sempre foi uma atriz medíocre. O envolvimento com o teatro se deu quando ainda era menina, ao entrar para o Tablado, com 7 anos. A arte dramática, nesse caso, era uma alternativa para ajudar a controlar seu temperamento indomável (é, vem de longe). Ali, fez parte da turma da qual saíram vários atores, como Malu Mader, Felipe Camargo e Alexandre Frota. Contratada da Rede Globo, teve seu primeiro papel de destaque em Anos Dourados, minissérie em que vivia a normalista Marly. Participou de várias produções na emissora, entre seriados e novelas, como Vale Tudo e Pátria Minha. Além de atuar, aprendeu a cobrar caro pelos cachês. Segundo ela, a reação mais comum das pessoas quando ouviam sua proposta era: “Tá maluca, só porque é mulher do Caetano?”. Ao que Paula respondia: “Claro, estão achando que eu sou mulher do Wando?”. A carreira na Globo se encerrou em meados dos anos 1990. “Ela tinha um ar de garota muito novinha, encantador. Mas na verdade nunca foi propriamente uma atriz. Como é superinteligente, pulou fora”, comenta Gilberto Braga, autor de várias produções em que ela atuou. Um de seus últimos trabalhos foi no filme Lisbela e o Prisioneiro, dirigido por Guel Arraes. Produtora da fita, Paula faz uma ponta como Monga, a mulher que vira gorila.

Capítulo III INFINITO ENQUANTO DUROU

Traumáticas por sua própria natureza, as rupturas de relacionamentos conjugais costumam ser um teste de sangue-frio para os envolvidos. Nesse teste, Paula acabou reprovada. Em maio de 2005, alguns meses depois de Caetano deixar o apartamento da família em Ipanema, ela demonstrou o altíssimo teor de combustão de seu temperamento ao lançar uma BMW blindada contra o portão do prédio onde o ex-marido vivia, no Arpoador. Com o impacto, o portão que pesava 270 quilos foi derrubado (foto ao lado). Paula entrou pela garagem, quase atropelou um funcionário e só parou ao bater com o carro em uma pilastra. Segundo sua versão, seguranças a impediram de entrar e, como seguiram armados em sua direção, ela se assustou e acelerou o automóvel. Em outro episódio, partiu para o ataque ao descobrir que o compositor jantava com uma mulher em um restaurante. “Vesti uma roupa de ginástica daquelas. Eu estava podendo, estava gostosa. Cheguei à mesa e joguei um copo de refrigerante na cara dela. Acabei com a festa deles”, disse a VEJA, em 2009. Apesar dos conflitos, o casal fez as pazes e ela continuou a gerir a carreira do ex-marido. “A separação foi a pior coisa que já enfrentei na vida. Mas fazer o quê? Tinha de ser. Mas se nós não continuássemos trabalhando juntos seria pior”, disse ela no ano passado.

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Oscar Cabral
Oscar Cabral ()

Capítulo IV O TRATOR DO SHOWBIZ

Sem travas na língua, do tipo que fala sem pensar muito, a ariana Paula Lavigne é conhecida por um estilo muito peculiar de fazer negócios. Gosta de ter tudo sob controle e de impor suas opiniões, nem sempre de um jeito afável. “Nasci para mandar”, afirmou certa vez, referindo-se ao talento herdado do avô materno, um general. Com 16 anos de idade, já havia sido emancipada pelos pais ? o bem-sucedido advogado criminalista Arthur Lavigne e a psicanalista Irene Mafra. Ainda jovem, revelou-se uma fera na negociação de contratos, e, no fim dos anos 80, já era dona da empresa Uns, criada para cuidar dos negócios do marido e de projetos especiais. Depois se tornou sócia da Natasha Records, que entre outras atividades produziu CDs de trilhas sonoras cinematográficas e filmes, agenciou carreiras de artistas como Lulu Santos e Adriana Calcanhotto, cuidou da administração do acervo de Vinicius de Moraes e representou, por algum tempo, as músicas de Chico Buarque no exterior. Com um currículo que inclui mais de dez filmes, Paula tornou-se uma das mais eficientes captadoras de recursos no país. “Ela é uma produtora enérgica, correta e empenhada”, atesta o cineasta Cacá Diegues, com quem trabalhou nos longas Tieta do Agreste e Orfeu. “Virei uma prostituta cultural para fazer filme. Eu ofereço sociedade às empresas, mostro as possibilidades de retorno. É troca de interesses”, resumiu ela em uma entrevista em 2005, com toda a sutileza que a caracteriza.

Ana Stewart (O Bem Amado), reprodução (Guel Arraes), Luiz Maximiliano (Criolo), Rafael Cusato (Cacá Diegues)
Ana Stewart (O Bem Amado), reprodução (Guel Arraes), Luiz Maximiliano (Criolo), Rafael Cusato (Cacá Diegues) ()
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Capítulo V RIQUEZA E PODER

Paula Lavigne nunca escondeu o pendor para ganhar e acumular dinheiro. Quando criança, sempre que aparecia uma visita em casa tentava vender as peças de artesanato que produzia. Na mesma época, costumava cobrar uma taxa dos meninos da escola interessados em espiar por baixo da saia de sua irmã. “Eram 10 centavos a bunda e 20 a frente”, explicou a PLAYBOY. Hoje a empresária usufrui dos confortos da riqueza, com armários repletos de roupas de grife, mais de 100 pares de sapatos e compartimentos refrigerados para seus cremes de beleza. Entre seus bens estão um apartamento na Avenida Vieira Souto, um apartamento no East Village, em Nova York, e uma fazenda na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, que chama carinhosamente de Mainha?s Farm. “Acho que mereço ser rica. O que a pessoa deve fazer com o dinheiro eu faço”, afirmou à revista TPM. Paula também impressiona com suas conexões. Posa com frequência ao lado de políticos em Brasília e já foi cabo eleitoral para a área de cultura do candidato à Presidência José Serra (PSDB), em 2002. “Ela é boa de carteirada e sempre soube usar muito bem o fato de ser mulher do Caetano e filha do advogado Arthur Lavigne”, diz o cantor Lobão.

Reprodução
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Capítulo VI ELA NÃO FOGE DA BRIGA

A polêmica em torno das biografias não autorizadas deixou evidente, como nunca, o estilo belicoso da ex de Caetano Veloso. Se há uma coisa que não se pode dizer sobre Paula Lavigne é que ela é covarde. Sempre parte para cima. Em 2004, durante a cerimônia do então Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro, o cineasta pernambucano Cláudio Assis, diretor de Amarelo Manga e Febre do Rato, chamou Hector Babenco de imbecil. Estava irado com as críticas que o diretor de Carandiru havia feito aos brasileiros em uma entrevista na Argentina. Em sinal de deboche, e tomando as dores de Babenco, Paula atirou um papel nas costas de Assis durante o evento. “Quando eu mando o Babenco se danar, eu mostro a cara. Ela fez pelas minhas costas. Só pensa em ganhar dinheiro”, afirma Assis. Outro entrevero envolveu o cantor Marcelo D2. Nos bastidores do prêmio MTV Video Music Brasil, em 2000, os dois discutiram feio depois de um desentendimento envolvendo as gravações da trilha sonora do filme Orfeu. A ampla lista de amizades abaladas inclui ainda Gilda Mattoso, ex-assessora de imprensa de Caetano, e o empresário Guilherme Araújo (1936-2007). O mais recente embate público se deu com a ex-sócia Conceição Lopes. Paula perdeu na Justiça, em junho, o direito de usar o nome Natasha em sua empresa. A ex-parceira pleiteia ainda 2,7 milhões de reais pelo uso indevido da marca.

Reprodução (Conceição Lopes), Rafael Kent (Marcelo D2), Guillermo Giansanti (Claudio Assis)
Reprodução (Conceição Lopes), Rafael Kent (Marcelo D2), Guillermo Giansanti (Claudio Assis) ()

Capítulo VII OBSESSÃO POR GINÁSTICA

Se alguém quiser deixar Paula Lavigne irritada, é só chamá-la de mulherzinha. A resposta vem de imediato: “Olha, ?inha? eu não sou em nada. Não sou mulherzinha, boazinha, nenhuma ?inha??”, já declarou. De fato, ela é adepta do jogo duro até em questões que envolvem um aspecto tipicamente feminino, a aparência. É obcecada por ginástica e principalmente por musculação. “Ela não é fresca; malha pesado. Quer se manter sarada e com os músculos definidos”, conta Monika Lucena, sua personal trainer há catorze anos. Também não teme o bisturi. Ainda jovem, corrigiu o nariz adunco para se adequar ao padrão Globo e acabar com a gozação do ex-marido (ele dizia que Paula se parecia com sua irmã, Maria Bethânia). Depois aderiu à lipoaspiração e ao implante de silicone nos seios. “Eu deixei de ser magrela e ganhei fama de gostosa”, disse ela a VEJA em 2002. Recentemente, aderiu a um implante de hormônios para reduzir os efeitos da tensão pré-menstrual e o stress que a levava a tomar remédios de tarja preta, como o ansiolítico Frontal. “Mudou minha vida! É uma dose de homem em você”, disse ela à revista Status. Nada mau para quem proclama aos quatro ventos que odeia ser mulher em um mundo dominado pelo sexo masculino.

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Capítulo VIII AMIGAS E AMIGOS DO PEITO

A empresária Paula Lavigne e a atriz Paula Burlamaqui não têm apenas o nome em comum. Elas comungam de hábitos e gostos muito parecidos. Vão juntas à malhação, à praia e aos eventos sociais, além de viajarem com assiduidade. É uma amizade longeva que remonta aos bastidores da novela Explode Coração, em 1995. Desde o princípio, tamanha afinidade despertou comentários maledicentes sobre um possível affair entre as duas e, mais ainda, um triângulo amoroso com Caetano. A empresária ri das fofocas. A atriz, por sua vez, já afirmou que não é homossexual. Muitos desses rumores decorrem da maneira liberal como Paula Lavigne encara a relação conjugal. “O ser humano tem todas as possibilidades. Eu não acredito que exista um casamento só”, afirmou à revista TPM, ao falar sobre relacionamento aberto. Desde que se separou do cantor, foi flagrada com dois namorados, o médico paulista Marcelo Marins e o fotógrafo peruano Pedro Koechlin, bem mais novo do que ela. Mas a lista de amigos do peito que ela recebe no Rio, na fazenda e em Nova York é bem extensa. Paula vive cercada de celebridades, seja nos saraus, seja nas festas que promove. Entre os frequentadores estão o cantor Seu Jorge, o rapper Emicida, o casal Angélica e Luciano Huck, a atriz Carolina Dieckmann e, como não podia faltar, Paula Burlamaqui.

Rafael Campos
Rafael Campos ()
Reprodução (Pedro), Reprodução (sarau)
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