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Tombado? Derrubado

Símbolo de descaso, o Largo do Boticário se degrada em meio a brigas e polêmicas

Por Renan França
Atualizado em 5 dez 2016, 16h13 - Publicado em 7 jun 2011, 13h40
Divulgação
Divulgação (Redação Veja rio/)
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Citado nos principais guias internacionais como uma atração turística pitoresca, o Largo do Boticário, no Cosme Velho, já não faz jus à fama. Cobertos por manchas, musgo, rachaduras e com janelas, portas e sacadas em petição de miséria, os casarões são uma sombra do que eram há alguns anos. Na semana passada, a placa metálica com informações sobre o local, instalada há pouco mais de uma década logo à entrada do conjunto, veio ao chão, vencida pela ferrugem e falta de manutenção ? o cabo de vassoura que a escorava nos últimos tempos caiu, levando-a junto. “Assim como já aconteceu com outros imóveis no Centro, que simplesmente ruíram por falta de cuidado, isto aqui está fadado a desaparecer se nada for feito”, afirma o historiador Nireu Cavalcanti, especialista em prédios antigos.

Constituído por sete construções erguidas no século XVIII e ampliadas entre os anos 1920 e 1930, o Largo do Boticário foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) em 1990. Quatro anos antes, já havia sido declarado Área de Proteção do Ambiente Cultural do Cosme Velho. Os títulos e honrarias, porém, não têm ajudado na sua conservação. Entre os imóveis da área, os que se encontram em pior estado são justamente os quatro mais imponentes, pertencentes a Sybill Bittencourt, de 85 anos, herdeira de Silvia e Paulo Bittencourt, antigos donos do jornal Correio da Manhã. Nos anos de glória, o complexo chegou a ter hóspedes como Walt Disney e a servir como locação para equipes de cinema ? em 1978, foram filmadas ali cenas de 007 contra o Foguete da Morte. “As casas estão tão degradadas que prejudicam todo o conjunto”, diz Lúcio Beleza, vizinho de Sybill e proprietário da casa 32, onde funciona um hotel-butique, frequentado principalmente por estrangeiros. “Eles acham o lugar lindo, mas se assustam com o ar decadente.”

A conservação do Largo do Boticário é hoje um imbróglio sem perspectiva de solução. O governo do estado e a prefeitura dizem que nada podem fazer, uma vez que a responsabilidade é da proprietária. Procurada, Sybill não quis falar a VEJA RIO, mas pessoas próximas dizem que ela não pretende mais investir seus recursos em obras nas casas. “Na última vez, cerca de quinze anos atrás, foi gasto mais de meio milhão de dólares nos imóveis sem que houvesse nenhum tipo de apoio do poder público”, conta um amigo que pediu para não ser identificado.

Trata-se de uma meia verdade. Em casos de tombamento, os proprietários têm isenção de IPTU justamente para auxiliar no custeio da manutenção. “Ela já foi notificada, mas não ajuda nem um pouco”, declara Paulo Vidal, coordenador de conservação e projetos especiais da Secretaria Municipal da Cultura. “Até arrumamos compradores para as casas, mas a proprietária não quer vender e nem investir. Ela só quer mesmo continuar com o problema.” Como a maioria das brigas, não existe apenas um responsável. Os equipamentos públicos também se acham em péssimo estado, como é o caso dos postes antigos e da placa apodrecida que caiu na última semana. Revoltados, moradores dos arredores colaram um cartaz em um marco situado no centro do local, com a seguinte inscrição: “Bem-vindo ao Largo do Boticário abandonado, graças a D. Sybill Bittencourt, dona das quatro casas, ao Inepac e à Prefeitura do Rio”. Em português e inglês.

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