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Violência dificulta adesão feminina a programas de sócio-torcedor

Especialista em marketing sugere parceria público-privada para assegurar às mulheres uma experiência segura, do deslocamento à arquibancada

Por Anna Luísa Souza e Maria Clara Patané*
14 jul 2022, 11h14

Já é – ou deveria estar – ultrapassado o papo de futebol não ser “coisa para menina”. Vemos a participação ativa do público feminino no ambiente do futebol na expressiva quantidade de mulheres nas arquibancadas e nas torcidas. Essa realidade, porém, ainda não se reflete na adesão delas a programas de sócio-torcedor: nos quatro principais clubes cariocas, as mulheres representam uma média de menos de 15% do total de pagantes.

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“Tenho muita vontade de ser sócia, porque acredito que a maior vantagem é conseguir ir com facilidade em todos os jogos”, pondera a botafoguense Nathália Bellusci. Da conveniência no acesso a ingressos e experiências exclusivas, esses programas apostam em benefícios tangíveis e intangíveis para efetivar, apesar das oscilações, a trajetória crescente de adesões conquistada nas últimas temporadas. 

Ainda assim, a entrada de mulheres mostra-se relativamente modesta em relação ao grande volume de torcedoras de Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo. Esbarra, em parte, na percepção de violência que assombra o estádio e outros ambientes relacionados ao futebol. 

Foto mostra tabela com números de sócio-torcedoras
Número de sócio-torcedoras: público feminino é minoria (Anna Luisa Souza./Divulgação)

Não são raros casos de agressão – física e simbólica – e assédio relatados por frequentadoras, derivados de discriminações machistas, sexistas, misóginas naturalizadas, ao longo do século passado, na sociedade e em espaços futebolísticos. Em que pesem os esforços para dirimir preconceitos e melhorar a segurança, muitas receiam encontrar hostilidade dentro e fora dos estádios, do transporte público à arquibancada:

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“Frequento o Maracanã pela facilidade de ir com o meu irmão. O ambiente muitas vezes fica ruim para as mulheres. A gente ainda encontra com meninos não entendem [o direito das mulheres de torcer no estádio], não respeitam. Já passei por diversas dificuldades neste sentido”, conta a tricolor Gisele Felix, sócia do Fluminense.

Para o publicitário e consultor esportivo Luiz Leo, professor de Marketing Esportivo da PUC-Rio, é preciso garantir, às torcedoras, segurança e tranquilidade na experiência integrada de acompanhar um jogo – não só no estádio, mas em todos os ambientes do programa. Ele sugere uma parceria entre os clubes e a prefeitura: 

“Por que não criar um tipo de acesso diferenciado ao estádio, oferecer transporte público de forma mais exclusiva a um público feminino? E as que vão de carro passariam a ter um estacionamento específico. Isso é possível numa parceria público-privada”.

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O medo de frequentar estádio não é o único obstáculo ao crescimento das adesões femininas aos programas de sócio-torcedor. Parte das consumidoras considera ainda um tanto limitados, em geral, os benefícios para mulheres. Torcedoras como a rubro-negra Maria Clara Barbieri cobram descontos maiores em ingressos e outros produtos, além do incremento nas coleções esportivas femininas: “Camisas femininas são sempre modelos péssimos, e limitados. Não cabem em pessoas plus size”, critica.

Torcedores propõe também uma ampliação das experiências exclusivas, como assistir a treinos, e de sorteios de ingressos para partidas fora do Rio. “Nos jogos fora de casa, os clubes deveriam oferecer benefícios que envolvam ingressos e outros aspectos da viagem. Esses incentivos ajudariam a atrair mais sócios-torcedores, inclusive mulheres”, sugere a vascaína Gabrieli, que costuma acompanhar as partidas do time em São Januário. 

Os clubes reconhecem a importância de investir em atrativos para expandir a participação feminina nos programas de sócio-torcedor. Nas lojas do Vasco, por exemplo, a maioria das compras é feita por mulheres. O clube anima-se com o consumo de produtos licenciados para o público feminino, que cresceu 135% no último ano.

*Anna Luísa Souza e Maria Clara Patané, estudantes de Jornalismo da PUC-Rio, com orientação de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.

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