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Consulados da bola

Torcedores forasteiros transformam botecos e até um pub carioca em estádios de futebol

Por Rachel Sterman
Atualizado em 5 jun 2017, 14h29 - Publicado em 27 jun 2012, 12h41
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bar-futebol-01.jpg (Redação Veja rio/)
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Nos dias de jogo do Inter, popular time gaúcho, a pacata esquina das ruas Bolívar e Leopoldo Miguez, em Copacabana, se transforma. Nessas ocasiões, uma legião de camisa vermelha se espalha pela calçada, entoando gritos de guerra como se estivesse no Beira-Rio, o estádio do clube, em Porto Alegre. Uma bandeira colorada e outra com as cores do Rio Grande do Sul penduradas numa banca completam o clima de arquibancada. Ali funciona há quatro décadas o Bar Copinha, autêntico pé-sujo que tem pouco movimento, exceto quando o Inter está em campo. O endereço foi adotado pelos torcedores daquele estado, moradores ou de passagem pelo Rio, que assistem às partidas em pé na calçada, saboreando um churrasquinho e com os olhos grudados na TV de tela plana instalada no lado de fora do botequim. “Aqui, os clássicos cariocas não têm vez”, provoca o jornaleiro gaúcho Marcelo Peralta, “exilado” na nossa cidade desde 2000. Ele é o líder da turma, que chegou a experimentar outros botecos do bairro antes de se fixar nesse ponto. Graças a sua iniciativa, a casa começou a abrir aos domingos, e no início eram os próprios torcedores que bancavam o pay-per-view do Campeonato Brasileiro. Com o tempo, o estabelecimento viu que era um ótimo negócio exibir os jogos e passou a assinar o pacote de transmissão. Como acontece nas grandes arenas, quanto maior o apelo da partida, mais numeroso o público presente. Na decisão da Copa Libertadores de 2010, cerca de 200 torcedores se aglomeraram no lugar. Ao apito final, que sacramentou o título do Inter, até morteiros foram disparados no céu de Copacabana.

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Torcer é uma atividade eminentemente gregária. Comemorar um gol, reclamar do juiz ou caçoar do adversário são atitudes que ficam ainda mais saborosas quando feitas em coro. Movidos pelo mesmo sentimento que reúne a galera colorada em frente ao Copinha, outros grupos de torcedores forasteiros elegeram determinados bares cariocas e até um pub como seus consulados da bola. Oponentes figadais do Colorado, os gremistas se reúnem no Botequim do Léo, na Avenida Prado Júnior, numa distância segura de 3 quilômetros da sede rival. A representação do Atlético Mineiro fica no bar Fala Sério, em Botafogo. É lá que o grupo de sessenta simpatizantes, batizado de Cariogalo, vem se reunindo para ver o recém-contratado Ronaldinho Gaúcho em ação. Como é praxe nessas ocasiões, eles enfeitam o ambiente com pavilhões do clube e do estado natal. “Estou negociando com o dono a inclusão de itens da culinária mineira no cardápio”, conta o advogado Custódio Pereira Neto, comandante da algazarra. Seu outro desejo, mais difícil de realizar, é atrair o jornalista Chico Pinheiro, fiel admirador do Galo das Alterosas. “Nossa turma começou a se encontrar por causa do time. Mas todos nós ficamos amigos e hoje fazemos programas além do futebol”, afirma Custódio.

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O processo de formação dessas embaixadas esportivas guarda sempre semelhanças. Começa com uns gatos pingados que manifestam sua solidão numa rede social. Aos poucos, eles descobrem que são mais numerosos do que imaginam e decidem fazer uma corrente em torno da TV. À medida que os eventos se sucedem, de preferência com vitórias, outros se juntam à patota. Foi assim o passo a passo da embaixada são-paulina no Rio, salvo um toque especial. Fazendo jus à fama de clube de elite, seus adeptos escolheram um espaço diferente para dar vazão à paixão: o Guimo?s Pub, em Copacabana. Foi no salão da casa que Marcelo e Fabiana Correa, devidamente uniformizados, se conheceram há dois anos. Iniciaram um namoro, que evoluiu para casamento, e hoje ela está grávida. O nome do bebê? Raí, em homenagem a um dos maiores ídolos da história recente do tricolor paulista. “Nossos encontros viraram o modelo que o São Paulo quer instituir em outros lugares”, orgulha-se o sociólogo Rodrigo Marques, um dos mentores do grupo, que se mobiliza tanto para vibrar com o time quanto para ações de cunho ecológico e social. Como reconhecimento por seu esforço de divulgar a agremiação, Marques foi nomeado embaixador oficial do clube no Rio.

Em um universo cada vez mais globalizado como o do futebol, as diretorias dos clubes tratam de se movimentar por outros estados para agradar e atrair admiradores. Com 1% dos torcedores cariocas, segundo pesquisa do Datafolha divulgada em 2010, o Corinthians procura oficialmente um endereço etílico na cidade para transformar em reduto de sua principal facção organizada. No ano passado, os proprietários do Bar Copinha foram homenageados com uma placa dada pessoalmente pelo vice-presidente do Inter, Gelson Pires, em função dos bons serviços prestados ao clube. Afinal, seja no futebol, seja no amor, a distância não pode ser desculpa para esfriar uma paixão.

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