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Surfe na laje

Aventureiros desbravam as ondas gigantes que se formam mar adentro sobre rochas submersas ao longo da costa

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 2 jun 2017, 13h03 - Publicado em 6 ago 2014, 17h51

Por mais que o surfe faça parte da paisagem carioca, o Rio não está entre os destinos favoritos dos profissionais do esporte. Para os atletas, a razão é a própria condição do mar. A falta de ondas tubulares e constantes nas praias da cidade faz muita gente boa de prancha preferir treinar em lugares como Havaí e Austrália. Há, porém, alguns picos altamente cobiçados pelos feras do circuito mundial quando estão na cidade ? e também pelos cariocas mais aventureiros. São as lajes submersas, pedaços planos de pedra ou de concreto, escondidos longe da costa ou entre as rochas que dividem as faixas de areia da orla. Nesses pontos quebram bombas que não fazem feio quando comparadas a paragens da Califórnia ou do Peru. Para quem se dá ao trabalho de chegar até lá, de barco, jet ski ou até mesmo remando, é a garantia de formações perfeitas. A cereja do bolo fica por conta da frequência: diferentemente do que acontece no Arpoador, no Quebra-Mar ou na Prainha, onde em geral a disputa é grande, na maioria das vezes, não há ninguém na área para dividir a brincadeira. “O lugar mais legal e inusitado no Rio fica no meio da Baía de Guanabara”, afirma Carlos Burle, pioneiro em ondas grandes no país. “Já encarei 15 pés (cerca de 4,5 metros) ali, embaixo do Morro da Urca, com o Cristo Redentor me olhando, a Ponte atrás, os barcos desviando. É incrível!”, empolga-se.

Rick Werneck
Rick Werneck ()

Existe um motivo que torna essas lajes tão pouco visitadas. E não se trata apenas da dificuldade de chegar até lá. O que as faz tão especiais ? a rocha plana, no caminho da ondulação ? é justamente o que pode machucar seriamente os surfistas menos experientes. Que o digam os habitués da laje do Shore Break, localizado entre o Arpoador e Copacabana, uma das mais perigosas. “O mar quase seca na pedra quando a onda se forma, e qualquer erro joga você com toda a força no fundo, sem água nenhuma para amortecer”, conta o bodyboarder Gustavo Amarante, vencedor do único campeonato que já aconteceu por lá, há cinco anos. “Já perdi muitos pedaços ralados por causa daquele tubo”, brinca. Outro problema desses picos é a frequência das ondas. Se a laje do Castelinho, na altura do Posto 8 de Ipanema, rende uma boa caída sempre que o mar cresce, a do Sheraton, na encosta da Avenida Niemeyer, só funciona quando entra uma grande ondulação de sudoeste, o que a torna bem mais rara. “Quando isso acontece, às 4 e meia da manhã o mirante já está lotado de gente esperando. É nossa Waimea”, diz Marcelo Trekinho, protagonista do filme Surf Adventures 2, fazendo referência à mítica praia havaiana.

A formação de ondas perfeitas para a prática do esporte depende de uma série de fatores. Entre eles, ondulação, vento e maré. Outro aspecto decisivo é o fundo do mar, que, a partir de sua configuração e rigidez, vai determinar o formato da onda. Em outras palavras, é o que define se o esportista vai ter um tubo lisinho para escorregar ou uma montanha disforme de água onde ele terá de se equilibrar. É principalmente nesse quesito que o Rio perde. Do Leme ao Pontal, a maior parte do nosso litoral é feita de areia, que muda de acordo com os ventos e as marés ? ao contrário de Metawai, na Indonésia, e Teahuppo, no Taihi, dois dos melhores picos do mundo, onde as pedras e os corais garantem a formação perfeita para a prática do esporte. “Em Ipanema ou Copacabana, a própria ondulação mexe no fundo de areia, provocando ondas irregulares. Com as placas de pedra ou concreto, uma variável negativa é eliminada”, explica Tulio Silva, oceanógrafo e professor da UFF. Garantindo as melhores ondas da cidade, as lajes cariocas viraram local de peregrinação da turma da prancha no Rio. Só é preciso, entretanto, que as condições meteorológicas colaborem para abrir o parque de diversões mar afora.

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