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Alô? Alô? Caiu…

Com número insuficiente de antenas para dar vazão a tantos aparelhos, a cidade possui áreas de sombra onde é um perrengue falar ao celular

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 jun 2017, 14h26 - Publicado em 8 ago 2012, 13h00

Trata-se de uma situação bem mais frequente do que se imagina. A pessoa está falando ao celular e, sem mais nem menos, a ligação cai. Em certas áreas da cidade, o quadro piora e nem adianta tentar usar o aparelho. Com média superior a um celular por habitante, o Rio vê aumentar o número de reclamações sobre o mau serviço prestado pelas operadoras de telefonia móvel. As queixas se referem a cobranças indevidas, a quedas de chamada e também à ocorrência das denominadas regiões de sombra, aonde o sinal não chega de jeito nenhum. Mesmo bairros valorizados sofrem com o apagão. Moradora da Rua Conde Bernadotte, no Leblon, a cirurgiã plástica Camila Matos tem de deixar o aparelho na varanda de seu apartamento. Do contrário, fica incomunicável. “É a solução quando tenho um paciente internado”, conta, resignada. No hospital onde trabalha, ao lado do Morro da Mangueira, na Zona Norte, há também um buraco negro, bem como em parte da Lagoa, Centro, Copacabana e São Conrado (veja o mapa ao lado). O mesmo problema aflige a geóloga Priscilla Pimentel. Em sua residência, na Rua Leopoldo Miguez, em Copacabana, o sinal se mostra inconstante. Para conseguir completar a ligação, muitas vezes ela tem de descer até a rua. “Neste ano piorou. Às vezes, até caminhando pelo bairro fico no vácuo”, lamenta. Embora seja uma queixa trivial dos clientes de todas as companhias, o transtorno culminou com a punição imposta pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) à Tim, que está proibida de vender novos chips.

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Cercado por morros de rara beleza que alçaram a paisagem carioca à condição de Patrimônio Mundial da Humanidade, o Rio possui topografia ímpar. Ao longo de séculos, complexos conhecimentos de engenharia foram aplicados para desenvolver a metrópole em meio à sua morfologia acidentada, o que incluiu o desmonte de montanhas à base de jatos de água e a construção de uma intrincada malha de túneis. Agora, o desafio se dá no terreno da tecnologia de transmissão de dados. Composto de uma rede de 2?835 antenas instaladas em edifícios, postes e torres, o sistema carioca de telefonia móvel se revela saturado, como comprova a relação de celulares por antena. De acordo com a União Internacional de Telecomunicações, o recomendável para evitar falhas de sinal e interrupções é que cada estação radiobase (ERB), unidade responsável pela transmissão das ondas eletromagnéticas, atenda em média a 1?000 linhas. No entanto, essa proporção no nosso estado já extrapolou em quatro vezes o limite. Na capital fluminense, o panorama se agrava. Em razão de seu relevo sinuoso, é preciso uma grande quantidade de antenas para reverberar o sinal de forma satisfatória, o que, consequentemente, demanda investimentos vultosos.

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Em sua defesa, as empresas culpam a prefeitura pelo problema. “Um decreto municipal do ano passado impede a colocação de novos equipamentos em postes de luz ou perto de hospitais, escolas, creches e asilos”, revela Eduardo Levy, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviços Móveis Celular e Pessoal. Ele critica ainda a demora na concessão para novas instalações, cujo processo pode levar seis meses. “É tempo demasiado para acompanhar a expansão do setor”, diz. Uma vez liberada, cada nova unidade custa às empresas de 300?000 a 400?000 reais. “Infelizmente, não há outra maneira de expandir o sistema”, atesta Gláucio Lima Siqueira, professor do Centro de Estudos de Telecomunicações da PUC. A prefeitura, por sua vez, devolve as críticas do sindicato. “Essas antenas são uma verdadeira aberração que você não vê nas capitais europeias e americanas”, protesta o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório. “A Champs-Elysées, por exemplo, tem uma cobertura perfeita para celular, e sua paisagem está totalmente preservada”, compara ele, citando a mais famosa avenida parisiense.

Iniciada a contagem regressiva para acolher as maiores competições esportivas do planeta, a cidade vive o desafio de melhorar sua infraestrutura. Diversas obras já estão em andamento, a maioria delas no âmbito viário. Para dispor de um serviço telefônico à altura desses grandes eventos, a cidade terá de adicionar cerca de 1?000 antenas ao seu sistema. Elas deverão atender à nova tecnologia 4G, permitindo uma conexão de internet em altíssima velocidade. Se as operadoras cumprirem o cronograma divulgado pela Anatel, o serviço deverá estar em funcionamento já em abril do próximo ano, a tempo de atender os turistas que vão desembarcar para a Copa das Confederações, um aperitivo do Mundial de futebol. A prefeitura deu prazo até outubro para as operadoras compartilharem seus equipamentos, uma medida comum no exterior e que reduziria substancialmente a quantidade de antenas necessárias para distribuir o sinal. Em paralelo, tramita no Congresso um projeto de lei que estabelece o mesmo procedimento em nível nacional. É esperar para ver. E ouvir.

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