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Prefeitura promete integrar ciclovias, ciclofaixas e transporte público em 2022

Estão previstas 54 conexões para este ano, 25% do total a ser implementado até 2024

Por Vitória Lemos*
Atualizado em 6 jan 2022, 16h53 - Publicado em 6 jan 2022, 16h52

As bicicletas multiplicam-se pela paisagem carioca. Na orla, no subúrbio, nas trilhas. Como esporte, locomoção, diversão. Só no Aterro, a quantidade delas saltou 277% de 2019 para 2020, aponta o aplicativo Strava Metro, rede social que monitora a movimentação de ciclistas.

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O crescimento não chega a Amsterdã, onde 60% da população se desloca sobre bikes, mas impõe ao poder público e aos cidadãos deveres de casa que se estendem de aperfeiçoamento e ampliação dos 458 quilômetros de malha cicloviária até o amadurecimento da educação no trânsito.

Para conciliar a cidade com o uso crescente das bicicletas – favorável ao trânsito, ao meio ambiente, à saúde – a Prefeitura pretende consumar, a partir de 2022, dois avanços: expansão da rede de mobilidade por bikes, indicada no decreto 49.461, publicado em junho; e interligar ciclovias (pistas exclusivas a ciclistas), ciclofaixas (espaços delimitados em pistas compartilhadas com outros veículos) e os transportes coletivos.

A administração pública e especialistas em mobilidade consideram esta integração determinante para melhorar não só a vida sobre duas rodas, mas o trânsito e os indicadores ambientais

Não menos estratégica, afirma o presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), Joaquim Dinis, são a reforma e a ampliação das ciclovias e ciclofaixas. programadas no próximo ano. Ele as considera fundamentais para diminuir os congestionamentos:

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“Quando incentivamos o uso da bicicleta, reduzimos os carros nas ruas. Quando temos uma rota cicloviária segura, isso estimula as pessoas a andar de bicicleta”, lembra Dinis. “Outra meta estratégica da CET-Rio é a conexão de 100% das nossas estações de transportes de média e alta capacidade (trem, metrô, BRT) à malha cicloviária”. 

A integração entre ciclovias, ciclofaixas e veículos coletivos sublinha a perspectiva de uma mobilidade urbana mais eficiente, sustentável, econômica, saudável, em que as pedaladas se intercalem com ônibus, trem e/ou metrô. Para a secretária municipal de Transportes, Maína Celidonio, essa conexão tende a impulsionar a substituição do transporte particular pelo transporte público:

 “A ideia é exatamente a gente ter essa integração. Não só o trajeto inteiro, mas ter a intermodalidade: a pessoa pega um outro modal e complementa com a bicicleta. Nesta proposta, a ciclovia é cada vez mais usada não só para o lazer, mas para a mobilidade diária. A ciclovia ganha status de modal, a partir da conexão com a rede de transporte de massa”.

A meta é implementar 54 conexões em 2022, 25% do total de integrações previstas pela Secretaria de Transportes. O restante será implantado até 2024.  Parte delas está vinculada à expansão e à recuperação de ciclovias. 

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A Prefeitura ainda não consolidou um diagnóstico sobre pontos e locais prioritários da reforma. Estão programadas medidas como a instalação de lâmpadas de led, poda de árvores e redução da velocidade máxima em alguns trechos da cidade, para melhorar segurança.

As medidas correspondem a uma parte das mudanças cobradas ao poder público em resposta ao aumento progressivo do uso de bicicletas, desde o início dos anos 2000. Apesar de o Rio ter uma das maiores malhas cicloviárias do país, ciclistas experientes e iniciantes relatam dificuldades para cultivar o hábito das pedaladas, como lazer, esporte ou deslocamento urbano. Os obstáculos vão de pistas esburacadas e mal iluminadas até lapsos de civilidade no trânsito. O professor de inglês Paulo Cesar conta que reduziu as pedaladas por problemas como postes no caminho:

“Aprendi a andar de bicicleta quando era pequeno, na rua. Hoje em dia quase não ando mais de bike, porque as ciclovias onde eu moro (Ilha do Governador) têm postes em alguns pontos, o que dificulta a passagem. A falta de poda das árvores também atrapalha. Além de deixar o trajeto escuro, folhas e galhos invadem a pista e somos obrigados a desviar. Outra dificuldade é a má educação em pistas compartilhadas. Meu filho sempre me pede para andar de bicicleta com ele. Mas o fato de precisar dividir o espaço com os carros, em alguns trechos, impossibilita os passeios”.    

O atleta, instrutor de ciclismo e jornalista Vinicius Zimbrão ressalta a necessidade de melhorar a educação tanto de motoristas quanto de ciclistas. A consolidação da bicicleta como meio de transporte carioca depende de uma convivência mais amadurecida entre esses grupos, assim como aperfeiçoamentos estruturais e logísticos.  

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“O Rio tenta ser uma cidade amiga da bicicleta, mas ainda não conseguiu. Teve uma iniciativa política favorável por conta da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, mas a gente vê algumas ciclovias mal acabadas, que passam entre bares e árvores. Outro ponto é a educação, para que ciclistas, motoristas e pedestres convivam bem. Isso precisa ser ensinado desde pequeno”, reforça Zimbrão.

Foto mostra ciclista andando de bike à noite
Vinicius Zimbrão: “O Rio tenta ser uma cidade amiga da bicicleta, mas ainda não conseguiu” (./Reprodução)

Tornar o Rio mais amigável às bicicletas é um desafio movido por ganhos à saúde, ao tráfego, à sustentabilidade. O especialista em mobilidade urbana Victor Andrade, coordenador do Labmob/Prourb e professor da UFRJ, considera positivo o aumento do uso das bikes, mas assinala a necessidade de o poder público aprimorar as conexões entre ciclovias e outros modais de transporte e melhorar a segurança para ciclistas e pedestres:

“Os estudos desenvolvidos pelo Labmob apontam algumas questões que são prioritárias para o ciclista. A primeira delas é a segurança viária. A gente precisa ter um desenho de cidade mais adequado ao ciclista e ao pedestre. Cidades no mundo inteiro já constataram que a mobilidade ativa, ou seja, a mobilidade a partir da propulsão humana, precisa ser prioritária. Outra prioridade é rever a velocidade máxima dessas vias. A gente observa hoje velocidades máximas mortais”, alerta o pesquisador.

O risco de compartilhar, ou disputar, espaços com carros assombra muitos dos que pedalam diariamente, por diversão, trabalho ou esporte. O atleta amador Arthur Werneck prefere treinar de manhã cedo, mas convive com o medo constante de ser assaltado ou sofrer algum acidente: 

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“Precisamos acordar de madrugada para podermos praticar com um pouco mais de segurança, principalmente em grupos grandes e com batedor (moto acompanhando). Quanto mais tarde saímos para a ruas, mais perigoso fica, porque o trânsito se intensifica e a maioria dos motoristas não respeita a distância mínima de um metro e meio para o ciclista. Por outro lado, se saímos muito cedo, corremos risco de assaltos, que acontecem regularmente”, relata.

Foto mostra ciclista andando à beira-mar
Arthur Werneck: “Quanto mais tarde saímos para a ruas, mais perigoso fica” (./Reprodução)

As bicicletas são adotadas cada vez mais também para o deslocamento entre casa e trabalho. Ciclista há 17 anos, Igor Ramon pedala todos os dias do Cosme Velho, onde mora, até o escritório em Botafogo. Ele intercala ciclovias, ciclofaixas e ruas no trajeto de aproximadamente 12 quilômetros. 

“Gosto de ir trabalhar de bicicleta. Só vou de moto quando estou muito cansado. Pedalo entre 50 e 70 quilômetros por semana. Nesse caminho, alterno a ciclovia com a rua. Hoje o maior problema é dividir o espaço com carros e ônibus”, avalia.

* Vitória Lemos, estudante de jornalismo da PUC-Rio, sob supervisão de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.

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