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Bafafá no Chopin

Gestão linha-dura divide o prédio, ameaçado agora por greve de porteiros

Por Bruno Chateaubriand
Atualizado em 5 jun 2017, 14h32 - Publicado em 30 Maio 2012, 18h56
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sociedade-03.jpg (Redação Veja rio/)
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Notório por suas festas arrasa-quarteirão que sempre foram um manancial de fofoca e confusão, o edifício Chopin passa por uma reforma não em sua estrutura, mas em sua alma. Desde que se tornou síndico do prédio residencial mais badalado de Copacabana, no ano passado, o discretíssimo empresário Antonio Cereto iniciou um processo de mudanças que causou um racha entre os moradores. De um lado está a turma do agito, que chama o gestor de linha-dura e critica as novas regras, por serem contrárias à vocação do endereço, onde a noite nunca teve hora para acabar. Entretanto, o administrador não está isolado em sua cruzada. Conta com o apoio irrestrito de uma ala de condôminos que veem nas medidas uma moralização muito bem-vinda. Com os embalos estrondosos à míngua, quem tem feito barulho no Chopin são seus empregados, que ameaçam entrar em greve e aumentar ainda mais a temperatura ambiente. Os motivos da paralisação seriam um suposto atraso salarial e a falta de pagamento de horas extras, algo que é negado pelo gerente do condomínio, Mário Henrique Moreira. “Estamos com tudo em dia”, garante ele. “Sempre há um ou outro insatisfeito. Não dá para agradar a todos.”

Símbolo patente da vida glamourosa e notívaga que envolve o imóvel, a socialite Narcisa Tamborindeguy faz troça da situação. “Greve de quê? De fome?”, pergunta, antes de se mostrar solidária com os empregados, um contingente de 27 pessoas, entre porteiros, faxineiros e garagistas. “Sem alguém na entrada, agora, sim, isto aqui vai virar um circo”, debocha. Durante cerca de duas décadas, o edifício teve um único síndico: o empresário César Thomé, que mora lá desde a infância. Tido como uma figura simpática pelos vizinhos, optou por uma gestão flexível em relação às celebrações. No réveillon, data em que chegava a ocorrer uma dezena de festas no condomínio, capazes de atrair uma multidão de 3 000 pessoas, a própria administração tratava de contratar seguranças e distribuir pulseiras para identificar os convidados. Apesar do esforço para pôr ordem na casa, nessas ocasiões não raro o caos imperava, com falta de energia, elevadores enguiçados e intenso vaivém pelas escadas. “Não tenho queixa da atual gestão. Aqui estava uma bagunça”, afirma o empresário Humberto Saade, que mora lá há sete anos. “O Cereto só está fazendo melhorar. Acabou, por exemplo, com a chacrinha dos funcionários na portaria.”

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Construído em 1956, o edifício de número 1782 da Avenida Atlântica foi uma iniciativa do empreendedor Henryk Spitzman Jordan, que residiu em uma das coberturas com a mulher, a socialite Josefina Jordan. Antes de a obra começar, foi preciso demolir a Pedra do Inhangá, uma imensa rocha colada ao Copacabana Palace. Dividido em três blocos, batizados de Chopin (a parte da frente), Prelude e Balada, o prédio tem doze pavimentos e sessenta unidades, todas com vista para o mar e área interna que varia de 250 a 1?000 metros quadrados. No mercado, o preço delas fica entre 3,7 milhões e 18 milhões de reais. Com apartamentos de alto luxo e vizinho do hotel que é sinônimo de requinte, o imóvel desde sempre seduziu poderosos. Ali residiram o presidente João Goulart e a primeira-dama Maria Teresa, o magnata das comunicações Adolpho Bloch e o empresário Alfredo Saad, cuja cobertura tinha um quarto especial para receber seu amigo Pelé. Saad fez história no endereço não só por hospedar o rei do futebol como também pelos lautos embalos que costumava promover nas passagens de ano.

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Por obra de seus bons anfitriões, o Chopin passou a ser considerado o endereço residencial mais animado da Zona Sul. Essa imagem se consolidou nos anos 80, com as recepções que a socialite Regina Marcondes Ferraz organizava em seu apartamento, e se estendeu pelas décadas seguintes. “Assim que chegamos, isto aqui era calmíssimo”, recorda a socialite Alice Saldanha Tamborindeguy, que comprou seu imóvel ainda na planta. Uma de suas filhas, Narcisa, foi peça-chave para a fama que o edifício adquiriu, promovendo festas de arromba que contavam com a presença de baterias de escola de samba e até engolidores de fogo. Uma agitação, por ora, arrefecida. “O prédio já teve uma época com muito mais eventos. Hoje eles não são tão frequentes assim”, testemunha a aposentada Rachel Krumholtz, residente no 6º andar há mais de meio século. Esta fase mais normativa goza de toda a simpatia de uma condômina famosa. “O novo síndico está pondo ordem. Ele apenas segue o estatuto”, diz a atriz Maitê Proença. Entre o sossego do adágio e o alvoroço do allegro, o Chopin busca harmonia.

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