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Patinetes voltam à cena e tornam a orla fechada aos domingos um percurso permeado de obstáculos

Junto a outros exemplares motorizados, como ciclomotores, bicicletas, patinetes, hoverboards e até skates elétricos, eles frequentemente ignoram as regras

Por Ines Garçoni
20 set 2024, 15h46
Domingo, 8 de setembro: pedestres dividem espaço com veículos motorizados na orla do Leblon
Domingo, 8 de setembro: pedestres dividem espaço com veículos motorizados na orla do Leblon (Fotos Daniela Dacorso/Divulgação)
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Ciclomotores, bicicletas, patinetes, hoverboards e até skates elétricos — um rápido passeio pelas ruas do Rio faz notar a diversidade de veículos motorizados que ascendem no asfalto carioca. Não é, porém, só a frota variada que chama a atenção, mas seu caótico, por vezes incivilizado, convívio com pedestres em busca de um momento de respiro, sobretudo nas vias interditadas aos domingos e feriados para servir de área de lazer, como o Aterro do Flamengo e a orla de Copacabana ao Leblon. Muitas pessoas, com razão, estão chiando diante dos exemplares que as ultrapassam em alta velocidade — com os patinetes, que retornaram à paisagem, em número considerável. “A gente fica aflita, numa preocupação enorme porque correm muito. O pessoal dos patinetes alugados, principalmente, não quer nem saber. Passam por cima”, queixa-se Maria Lucia Bodas, que caminhava com o marido, Daniel, na Avenida Delfim Moreira no primeiro domingo de setembro.

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Tamanha a bagunça que transcorre ao ar livre que a voz de uma turma que gostaria de ver a pista reservada apenas a quem caminha vem se tornando mais audível. “Todo veículo, sobretudo os motorizados, deveria ser proibido numa área que reúne tanta gente passeando. É um risco enorme”, queixa-se Natan Bernstein, que costuma levar a neta Júlia, de 3 anos, à praia. Com a ideia de pôr ordem na área, a Câmara de Vereadores sancionou no fim de agosto uma lei que estabelece regras de tráfego para esses veículos, incluindo as próprias bicicletas, demarcando onde podem circular, limites de velocidade, e estipulando multas que chegam a 1 000 reais para os infratores. Uma boa iniciativa.

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Pouco sabido é que, no papel, as normas já existiam — embora nem pareça mesmo, uma vez que a lei não se faz cumprir, a despeito das claras sinalizações nos canteiros centrais das avenidas Atlântica, Vieira Souto e Delfim Moreira. Um decreto de 1994 veta o uso de qualquer tipo de bike, mesmo sem ser elétrica, aos domingos e feriados nas vias fechadas ao lazer, à exceção dos modelos infantis, para crianças de até 8 anos (veja o quadro). “Tem placas enormes, mas o povo não cumpre. Eu acho que só fazendo doer no bolso”, acredita a bióloga Nadia Schroeder, que cultiva o hábito de andar na orla. A Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) diz que promove “ações constantes de conscientização” e que, num fim de semana, agentes abordam “mais de 300 ciclistas e condutores de patinetes elétricos sobre a proibição de circulação na pista destinada à área de lazer”.

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Maria Lucia e Daniel Bodas: medo da velocidade com que os patinetes circulam na via
Maria Lucia e Daniel Bodas: medo da velocidade com que os patinetes circulam na via (Daniela Dacorso/Divulgação)

Como se vê, não é o bastante para conferir à atmosfera à beira-mar aquela sensação de organização e paz aos andarilhos, para um passeio sem sobressaltos. “A resolução obriga os motorizados a circular apenas na via pública, mas eles andam a até 50 quilômetros por hora nas ciclovias e calçadas, e nada acontece”, enfatiza o empresário e ciclista Raphael Pazos, da Comissão de Segurança no Ciclismo, que sugere uma faixa exclusiva a essa frota nas áreas fechadas aos domingos. “A tecnologia avança, e a legislação não acompanha”, sublinha. A candidata a vereadora Antonia Leite Barbosa (PSD) tem posto a mão na massa, ao mobilizar na orla interditada a campanha Bike Aqui Não. Ela ressalta como a desordem leva ao congestionamento na própria ciclovia, gerando um indesejável desdobramento. “O ciclista se sente inseguro com a profusão de ciclomotores e acaba ocupando a faixa de lazer, destinada a pedestres”, alerta Antonia.

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O município está sujeito às determinações estabelecidas pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), atualizadas em julho de 2023 com normas para o uso das ciclofaixas em todo o Brasil, mas a prefeitura nunca chegou a definir se seriam aplicadas nestas praias. Agora, a partir da nova lei municipal, espera-se que as instâncias envolvidas façam valer um texto que propõe o básico — regras elementares de convívio para que todos tenham um bom domingo.

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