Como objetos sacros podem ter sido desviados de igrejas tombadas no Rio
Quem suspeitou da procedência das peças foi o provedor da Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, no Centro, que avisou ao Iphan
A Polícia Federal e a superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) investigam a origem de objetos de arte sacra que estavam à venda em um leilão. Há suspeita de que elas tenham sido furtadas de pelo menos duas igrejas do Rio e da catedral de Belém, todas tombadas, há décadas, ou vendidas de forma irregular, informou o jornal O Globo.
Ao encontrar as peças, o provedor da Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, no Centro, Claudio Castro, avisou ao Iphan. Cinco delas foram identificadas por ele como itens desaparecidos do acervo há quarenta anos. O santuário, que data do século XVIII, ficou fechado por quatro anos e foi reaberto em junho deste ano após passar por obras de restauração.
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Os objetos que pertenceriam à igreja são três sacras (suporte de leitura com orações impressas) e um par de tocheiros de prata que integravam uma banqueta que ficavam no altar. “Ainda tem outras peças desaparecidas, que passam de cem, que estamos catalogando agora com base em um inventário feito em 1945”, contou Castro.
Entre as peças que estavam à venda, estão três sacras de prata com características idênticas às que aparecem em um catálogo on-line do Iphan de obras desaparecidas da Igreja Nossa Senhora do Monte do Carmo (que fica na Rua Primeiro de Março, no Centro, vizinha à Antiga Sé), datada do século XVIII. Uma delas era oferecida no leilão por lance mínimo de 18 mil reais.
Entre os demais itens, está um par de tocheiros com selos como pertencente à Catedral de Belém, com um lance mínimo de 90 mil reais. Eles seriam parte de um acervo maior da igreja e teriam sido furtadas por um homem que se passou por restaurador.
O leiloeiro Luiz Sérgio Pereira, da Dagmar Saboya Escritório de Arte, explicou ao Globo que os objetos foram oferecidos em leilão do acervo de clientes particulares, que a casa não suspeitou que pudessem ter sido desviadas de igrejas e que desconhece se os colecionadores sabiam que podem ter sido furtadas. “Retiramos as peças do leilão assim que notificados. Mas nos colocamos à disposição do Iphan e da PF para qualquer esclarecimento”, diz.
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O item que estava à venda por maior valor (lance inicial de 60 mil reais) é um par de colunas cuja origem o Iphan ainda vai rastrear. O que já se sabe é que o leiloeiro identificou erroneamente o objeto, como sendo do século XVIII e de estilo barroco.
“Se estas colunas forem originais, não são do estilo Barroco, mas sim do Maneirismo Luso-Brasileiro, tendo sido fabricadas anteriormente a 1650. Tamanha antiguidade redunda na raridade destes conjuntos — e quase todos existentes estão acautelados em igrejas tombadas com aproximadamente quatrocentos anos de existência ou mais“, afirma o Iphan em ofício enviado à PF.
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O superintendente do Iphan no Rio, Paulo Vidal, diz que o cadastro digital de objetos desaparecidos de igrejas tombadas é incompleto e que as peças irão passar por perícia, por serem patrimônio tombado. “A PF vai rastrear a procedência das peças e o Iphan vai periciar”, adianta.
Ele frisa que, com a passagem dos anos, fica difícil confirmar se foram subtraídos de forma criminosa. “Não descarto que muitas peças possam até ter sido vendidas por religiosos para financiar obras. Isso era muito comum no passado”, afirma.
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