O Pará é pop: cidade guarda pérolas com atmosfera paraense
No embalo da COP30, a cultura amazônica invade a cidade com sabores, ritmos e celebrações que unem o Norte e o Sudeste
Toalhas de chita, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, pinturas marajoaras nas paredes e um apetitoso aroma de peixe assando sobre carvão. Esse é o cartão de visitas do Pescados na Brasa, que atrai gente de toda a cidade ao Riachuelo, na Zona Norte. O cardápio recheado de clássicos, como o pato no tucupi, a maniçoba e o tacacá, fizeram do reduto um ponto de encontro de apaixonados pelo Pará, que uma vez por mês aproveitam a roda de carimbó, no meio da rua. “As primeiras edições juntavam no máximo cem pessoas. Hoje, vêm mais de 1 500”, conta Adriana Veloso, dona da empreitada ao lado do marido, José Maria. Após cinco anos de sucesso, o casal inaugurou, em março, uma filial no Leblon, evidenciando o apelo da cultura e dos sabores do segundo maior estado do país. Enquanto as discussões sobre a emergência climática ocupam Belém, sede da COP30, o Rio guarda pérolas com atmosfera paraense. “Até os anos 1990, o Pará era distante. Essa solidão criou uma forma muito própria de viver e fazer música, comida, arte. Quando a TV e a internet começaram a mostrar o que fazemos, o público do Sudeste se encantou”, analisa o professor universitário e carnavalesco Milton Cunha, nascido na capital paraense.
Cada vez mais pop, o estado do Norte cruzou divisas e passou a ocupar palcos, museus e centros culturais Brasil afora, com artistas como Gaby Amarantos, fenômeno nacional do tecnobrega, e Dona Onete, que aos 86 anos teve sua trajetória contada no documentário Dona Onete: Meu Coração Neste Pedacinho Aqui, de Mini Kerti, exibido no Festival do Rio. “O sucesso da cultura amazônica é resultado de uma trajetória de resistência. A projeção nacional tem raízes em Fafá de Belém, que pariu a fórceps o orgulho de ser paraense”, ressalta Milton Cunha.
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No Méier, a Livraria Belle Époque, comandada por Rachel Xavier, realiza um festival mensal, ocupando o asfalto, com grupos de carimbó, DJs e oficinas. A Amazônia também é o foco da exposição de longa duração Festas, Sambas e Outros Carnavais, em cartaz a partir deste sábado (8) no Museu do Pontal. “Desde a abertura da nova sede, em 2021, colocamos essa rica região como ponto principal de nossas pesquisas”, diz Angela Mascelani, curadora do Museu do Pontal. A coletiva apresenta ritmos e festas locais, como o Círio de Nazaré e o Carnaval das Águas, além das famosas aparelhagens retratadas nos quadros de Maria José Batista, da periferia de Belém.
Um dos principais símbolos da cultura carioca, a Marquês de Sapucaí exibiu, em 2025, o belíssimo desfile da Grande Rio sobre as pororocas parawaras, que rendeu o vice-campeonato à agremiação. A carimbozeira Andréia de Vasconcelos preparou alguns integrantes — incluindo a então rainha de bateria, Paolla Oliveira — e desfilou junto aos ritmistas, executando a levada típica. “O carimbó é mais que uma dança. Trata-se de uma cultura potente e completa, para ser vivenciada ao ar livre, com o pé no chão”, define Andréia, que às quartas, às 19h, ministra aulas da dança regional na Fundição Progresso.
O flerte entre as gastronomias carioca e paraense é antigo. Fundado em 1955, em Copacabana, o Arataca é pioneiro na venda do açaí puro, sem adição de xaropes, como mandam os costumes ribeirinhos. Outro velho conhecido dos cariocas é o Tacacá do Norte, desde 1973 no Flamengo. Na sorveteria Benza, descendente da sexagenária Cairu, é possível experimentar o sabor mestiço, que combina tapioca e açaí. “Cada colherada conta a história do Brasil”, resume a sócia Anna Carolina Costa. “É uma honra mostrar a riqueza da minha terra diante da Baía de Guanabara”, afirma Saulo Jennings, que abriu uma filial carioca da Casa do Saulo no Museu do Amanhã.
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O chef, aliás, se recusou a assinar o menu vegano do Earthshot Prize, iniciativa comandada pelo príncipe William, de Gales, já que sem pirarucu não se faz um legítimo banquete paraense. A realeza nem imagina o que perdeu.
Eu vou tomar um tacacá (e muito mais): da comida à dança, uma rota pelas maravilhas amazônicas
Livraria Belle Époque. A próxima edição do festival Carimbó Suburbano acontece em 6 de dezembro, a partir das 12h. Rua Soares 50, Méier. Seg. a sex. 10h/19h (sáb., 10h/17h. Fecha aos domingos). @livrarabelleepoque.
Museu do Pontal. A mostra Festas, Sambas e Outros Carnavais joga luz a manifestações populares como o Círio de Nazaré. Avenida Célia Ribeiro da Silva Mendes, 3 300, Barra da Tijuca. Qui. a dom. 10h/18h. Entrada gratuita. @museudopontal.
Benza. Sorveteria com sabores típicos. Rua Xavier da Silveira, 45, Copacabana. Seg. a sáb. 10h30/19h (dom. 11h/18h). Mais dois endereços. @sorveteriabenza.
Tacacá do Norte. A casa serve o típico açaí. Rua Barão do Flamengo, 35, Flamengo. 11h/23h. @tacaca_do_norte.
Casa do Saulo. Gastronomia da Amazônia com insumos de pequenos produtores. Museu do Amanhã. Praça Mauá, 1, Centro. 11h/18h (fecha qua). @casadosaulomuseudoamanha.
Fundição Progresso. Oficinas da dança de roda regional são comandadas por Andréia de Vasconcelos. Rua dos Arcos, 24, Lapa. Quartas-feiras, 19h. Inscrições pelo (21) 99772-5305 e aturiacarimbo@gmail.com. @fundicaoprogresso.
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