National Rio: menino da Cidade de Deus reproduz foto de afegã em revista
Davi Gonçalves, de 11 anos, viralizou na internet com seu olhar semelhante ao de Sharbat Gula, capa famosa da National Geographic em 1985
Após suas fotos viralizarem na internet, o menino Davi Gonçalves Augusto da Rocha Brito, de 11 anos, morador da Cidade de Deus, foi convidado para reproduzir a icônica foto da afegã Sharbat Gula na capa da revista National Geographic, de 1985. Orfã desde os 6 anos e refugiada no Paquistão, a menina tinha 12 anos quando foi fotografada pelo norte-americano Steve McCurry – e a imagem se tornou um ícone da fotografia contemporânea.
+ Imagens do Rio vão de cartões postais a livros didáticos da rede municipal
Com os olhos verdes marcantes, assim como Sharbat, Davi ficou conhecido após ter sido fotografado no portão da ONG Nóiz – Construindo um Futuro, que apoia famílias carentes da região, e logo ter o seu olhar comparado com o da afegã.
“Nós o conhecemos durante uma confraternização do projeto no fim do ano, quando ele bateu no nosso portão, ainda bem tímido. Eu fiz um clique dele, despretensiosamente, mas já enxergando o seu potencial, e postei na página da ONG. Nosso fotógrafo parceiro viu a foto e resolveu fazer um ensaio em estúdio, com roupas de brechó. Foi quando tudo começou“, conta André Melo, presidente do projeto e tutor de Davi, a VEJA RIO.
A repercussão das fotografias rendeu ao menino um contrato com a Agência Cintra e alguns primeiros trabalhos como modelo. Foi após fazer as fotos do menino para uma marca de roupas infantil, que a fotógrafa Mariana Revelles, da Abacaxi Fotografia, pensou em fazer o projeto “National Rio” e entrou em contato.
Para a sessão fotográfica, Mariana preparou um kit de pintura para ambos pintarem o painel de fundo do clique. Mesmo sendo mais retraído, Davi se soltou ao longo do ensaio, como mostra um vídeo publicado na rede social do estúdio (@abacaxifotografia) – e o resultado traz o registro de menino com olhar forte e também esperançoso.
“Da primeira foto para cá, já percebemos que o Davi tem um olhar bem mais feliz, que carrega muitas histórias e esperanças. E esse é apenas o começo. Embora ele tenha ganhado notoriedade com esses trabalhos, ele ainda vive de forma bem humilde sua família. Seu primeiro sonho é ter celular para jogar. Um dia ele quer se mudar com a família para uma casa melhor”, relata André Melo.
+ Mais de 700 mil eleitores do Rio estão com os títulos cancelados
Davi hoje mora com a mãe e mais dois irmãos em uma kitnet de somente um cômodo na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio. O seu quarto é na sala, onde ainda dorme com um ventilador precário. Em 2012, a família morava em um apartamento em Santa Cruz, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida. No entanto, após ter problemas com milicianos que comandavam a região, o pai de Davi foi morto. Diante do risco, a mãe resolveu voltar à Cidade de Deus com os filhos.
Apesar de estar matriculado do terceiro ano do ensino fundamental, o modelo mirim ainda não sabe ler nem escrever. Mas essa realidade em breve deverá ser transformada. Cadastrado na ONG Nóiz, o menino será alfabetizado com apoio da Soletrar, nova iniciativa idealizada pela instituição. Uma nova esperança para ele e outros pequenos.
“O Davi foi o impulsionador deste projeto, que já estava incubado, e dará apoio escolar às crianças de 6 a 12 anos. Descobrimos que há muitas crianças no local, infelizmente, com um nível de aprendizado muito baixo, incompatível com a série em que estão matriculadas”, diz André.
+ Para receber VEJA RIO em casa, clique aqui