Quem nunca entrou em um restaurante onde o som ambiente estava alto demais ou destoava por completo da proposta do lugar? Para os que já passaram por essa experiência, temos uma boa notícia: chefs e restaurateurs estão se dando conta de que, assim como a decoração, a iluminação e o serviço prestado pelos garçons, além naturalmente da comida, a trilha sonora é determinante para uma refeição agradável. Diante da missão de harmonizar pratos e música, Zé Márcio Alemany desponta como o profissional mais requisitado desse mercado no Rio. Do Duo ao Burger King, do Mr. Lam ao Pizza Hut, do Irajá ao Informal, ele é responsável pelas playlists que tocam em mais de 120 estabelecimentos. “O Zé consegue mesclar muita coisa diferente de uma maneira harmônica. Ele vai do uruguaio Jorge Drexler cantando Chico Buarque até clássicos do baião sem perder a mão”, atesta um de seus clientes, o cozinheiro Felipe Bronze, dono do Oro.
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Pode até parecer fácil brincar de montar trilhas, mas para concluir cada seleção Alemany demora, em média, de sete a dez dias. Antes de pôr a mão na massa de fato, ele faz uma grande pesquisa, que começa pelo cardápio. “É minha principal fonte de informações e de inspiração. A partir das receitas, das técnicas usadas, da nacionalidade dos ingredientes, crio uma identidade musical para cada lugar”, explica. Assim, para acompanhar os temakis preparados em ritmo de fast-food do Koni Store, optou pela batida inquietante da música eletrônica. Até porque a ideia ali é que o comensal entre, mas não permaneça por muito tempo. No Gero, o som precisava ser mais calmo, quase relaxante, um discreto e agradável pano de fundo para receitas reconfortantes, como massas e risotos. Ele foi de bossa nova com versões em italiano. Não raro, durante esse processo, Alemany precisa explicar a seus clientes que o gosto pessoal deles nem sempre se adéqua ao espaço. “Já me pediram até para incluir a música de sedução do José Mayer na novela das 9”, conta.
Antes de se especializar em trilhas gastronômicas, Alemany caiu na estrada. Foi roadie do Paulinho Moska e teve sua própria banda. “Quando senti que precisava de algo fixo, trabalhei numa loja de discos, onde pude conhecer coisas novas e ampliar meu repertório”, lembra. Por insistência dos pais, que não viam com bons olhos a carreira de baterista, cursou publicidade e passou por um estúdio no qual produzia comerciais, mas cansou de “vender promoções de supermercados”. Para voltar a trabalhar com música, decidiu abrir em 2007 a própria empresa, com foco no atendimento de bares, restaurantes e hotéis. O negócio deu certo e virou um dos braços da Rádio Ibiza, agência pioneira na produção de trilhas. “Eles me deram o suporte necessário para atender mais gente. De trinta clientes, pulei para 100”, diz o músico, que acaba de tirar do forno sua mais nova seleção, para a reabertura do estrelado Olympe.