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Uma solução porca

Anunciada como um centro-modelo de tratamento de lixo, a unidade de Seropédica ainda não tem a área destinada a resíduos líquidos. O jeito encontrado é levar o chorume até uma estação distante, em Niterói

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 dez 2016, 14h56 - Publicado em 13 mar 2013, 18h44

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Inaugurada em 2011, a Central de Tratamento de Resíduos de Seropédica foi apresentada por autoridades estaduais e municipais como uma revolução no processamento do lixo no Rio. Ao custo de 224 milhões de reais, ela foi concebida com tecnologia de ponta, que incluía mecanismos capazes de compactar e isolar os rejeitos sem contaminar o meio ambiente. O projeto do complexo contemplava também a coleta e o tratamento do chorume, um líquido altamente tóxico proveniente da decomposição do lixo, que se infiltra no solo e polui os lençóis freáticos. Tudo apontava para uma mudança significativa no que existia até então. Durante três décadas, os resíduos gerados diariamente por milhões de pessoas eram depositados no Aterro de Gramacho, em Duque de Caxias. A céu aberto, eles produziam gases nocivos e o chorume que se formava escorria diretamente para a Baía de Guanabara.

As boas notícias, porém, se confirmaram apenas em parte. Quase dois anos após entrar em funcionamento, a Central de Seropédica está capenga. Até o momento não foi construída a prometida usina de tratamento de chorume, que seria capaz de transformá-lo em água limpa. Sem o equipamento, orçado em 35 milhões de reais, o jeito é recorrer a um artifício que tem efeito colateral danoso ao meio ambiente. Todos os dias, dezesseis caminhões-tanque transportam 110?000 litros de rejeitos de lá até a estação de tratamento de esgoto de Icaraí, em Niterói. Devido à carga tóxica, os veículos não podem passar pela Ponte Rio-Niterói. A solução é seguir pela Baixada Fluminense, num percurso de 150 quilômetros por estradas sinuosas, esburacadas e mal sinalizadas, o que aumenta o risco de acidentes. Ao chegar ao destino, o chorume é misturado ao esgoto e passa por novo tratamento, sendo em seguida lançado pelo emissário submarino na Baía de Guanabara. “Pedimos esclarecimentos aos órgãos envolvidos, mas não fomos atendidos”, protesta o vereador Henrique Vieira, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Niterói. “O tratamento desse tipo de resíduo é mais complexo que o do esgoto, e não sabemos qual é o impacto do despejo para o ecossistema marítimo.”

O recurso de transportar o chorume por rodovias não é em si um atentado ambiental. Em São Paulo, por exemplo, ele também é recolhido nos aterros de lixo e enviado a estações de tratamento. No entanto, a distância máxima percorrida é de 80 quilômetros, e essa logística era prevista nos projetos. Não é o caso de Seropédica. Em razão do descumprimento do plano original, a Ciclus, concessionária do novo aterro por vinte anos, foi multada em 255?000 reais no fim de fevereiro. Essa não foi a primeira punição. Em 2012, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) já havia fixado o pagamento de 100?000 reais e estipulara o mês de outubro como data-limite para a empresa se adequar. “Não vamos abrir mão de que todo o lixo seja tratado em Seropédica”, afirma Marilene Ramos, presidente do órgão. Agora, o cronograma foi estendido até dezembro de 2013. Ou seja: até lá, o despejo continua. De acordo com a empresa, o atraso ocorreu devido à falta de conhecimento do chorume gerado no Rio. “Fizemos estudos para saber que tipos de poluente são encontrados. Com base nessas pesquisas, vamos implantar uma usina com a tecnologia ideal”, diz Priscila Zidan, superintendente de operações da Ciclus, que promete cumprir o prazo desta vez. A empresa também afirma que o impacto na já poluída Baía de Guanabara é mínimo. “É removida quase a totalidade de poluentes”, destaca. Apesar do argumento, a Câmara de Niterói fará uma audiência pública e planeja enviar especialistas para testar a qualidade da água na saída do emissário. Afinal, nosso cartão-postal não é esgoto.

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