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Laboratório de ideias

Exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) discute propostas arquitetônicas para o futuro em seis megacidades, entre elas o Rio

Por Louise Peres, de Nova York
Atualizado em 2 jun 2017, 12h51 - Publicado em 13 dez 2014, 00h00

 

As favelas fazem parte da paisagem carioca há pelo menos um século, e hoje são tão indissociáveis da imagem local quanto as curvas da Praia de Copacabana ou o pôr do sol no Arpoador. De tão explícita e chocante, a desigualdade social entre a cidade formal e aquela dependurada nos morros fez com que merecêssemos posição de destaque em uma exposição em cartaz no prestigioso Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa). O contraste entre a opulência dos bairros da Zona Sul e as condições precárias de morros levou à inclusão da capital fluminense na recém-inaugurada mostra Uneven Growth: Tactical Urbanism for Expanding Megacities (em tradução livre, algo como Crescimento Desordenado: Urbanismo Tático para Cidades em Expansão), que propõe soluções para fazer frente ao inchaço das grandes metrópoles do planeta. Além do Rio, foram selecionadas outras cinco megalópoles globais: Hong Kong, Istambul, Lagos, Mumbai (ex-Bombaim) e a própria Nova York. O objetivo, nos seis casos, é dar vazão à criatividade como forma de estimular projetos que façam aumentar a qualidade de vida de seus moradores. E, no nosso caso específico, melhorar as condições das comunidades pobres. “No Rio, as favelas não se situam apenas na periferia, afastadas do Centro. Elas têm de ser consideradas parte formal da cidade”, entende o português Pedro Gadanho, do departamento de arquitetura e design do MoMA, curador da mostra.

Para cada metrópole foram desenvolvidos projetos com foco em seus principais problemas. Hong Kong, por exemplo, receberia ilhas artificiais, ampliando dessa forma sua escassa área territorial. O Rio foi contemplado com a série Varanda Products. Trata-se de uma irreverente linha de artigos sustentáveis, bolados para aprimorar os momentos de lazer e o convívio social nos morros (veja na página 42). “Recebemos a missão de desenhar intervenções pequenas, baratas, mas que transformassem o modo de viver de determinado lugar. Nosso objetivo então foi privilegiar um traço essencial dos cariocas, que é o encontro, a socialização”, conta Pedro Évora, da RUA Arquitetos.

Sua equipe logo sentiu que era a oportunidade de consolidar o chamado “puxadinho” como um espaço de lazer típico da classe C. Tendo em mente o poder de consumo desse novo braço da classe média, sofás acopláveis em caixas-d’água, varandas pantográficas removíveis e um chuveiro coletivo que reaproveita água da chuva (curiosamente chamado de Papaya Umbrella) foram algumas das 22 invencionices concebidas pelo escritório carioca em parceria com um grupo da ETH, universidade suíça, bem nutrida de experts em engenharia, matemática e tecnologia.

Apetrechos de design sofisticado podem até servir ao propósito de conferir um charme extra às lajes da cidade, que viu sua primeira favela tomar forma em 1897, quando soldados vindos de Canudos, na Bahia, se alojaram em barracos no Morro da Providência. O problema das moradias precárias, no entanto, continua presente na realidade carioca e deve ganhar proporções ainda maiores e alarmantes. Entre os números usados na exposição, destaca-se o coeficiente de desigualdade social — e nesta triste estatística o Rio deve atingir, antes de 2030, a marca de 54 pontos, numa escala de 0 a 100. Seria a pontuação mais alta entre as cidades participantes da exposição, mesmo ao lado das miseráveis Mumbai, na Índia, e Lagos, na Nigéria.

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Outro item abordado na mostra diz respeito ao preço exorbitante dos aluguéis, e, nesse quesito, Rio e Nova York é que caminham juntas. “São cidades que, nesse cenário particular, estão no mesmo processo. Nas duas há o contraste entre enormes apartamentos de luxo, caríssimos e às vezes ocupados por um único morador, e a pobreza urbana, com pessoas vivendo em condições insalubres, famílias inteiras num único quarto. Ambas necessitam de políticas consistentes de moradias alternativas”, alerta o pesquisador Thomas Angotti, professor de questões urbanas e planejamento do Hunter College e da City University of New York (CUNY). Enquanto soluções definitivas não chegam, o design serve para, ao menos, tornar mais humano o dia a dia de quem é obrigado a viver nos morros.

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