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Remoção de árvores intensifica ilhas de calor, alertam especialistas

Comlurb esclarece que a retirada legal de árvores é feita quando ela está morta, quando a sua manutenção é arriscada ou por risco de colapso estrutural

Por Guilherme Frota
Atualizado em 25 jun 2024, 17h24 - Publicado em 24 jun 2024, 17h20
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Poda de árvore: serviço deve ser realizado apenas pela Comlurb (Marco Antonio Rezende/Divulgação)
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A região de Guaratiba, na Zona Oeste, atingiu, em março deste ano, a sensação térmica de 62,3°C – a maior registrada desde 2014, quando o sistema do Alerta Rio começou a fazer medições.

O recorde retrata o aquecimento progressivo da atmosfera. Especialistas alertam que a retirada da vegetação e a urbanização desordenada têm acelerado a formação de ilhas de calor.

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O fenômeno deriva de diversos fatores, a maioria deles ligada à influência humana. Com a autoridade de quem monitora o clima no Rio há 25 anos, o professor e pesquisador da UFRJ Andrews Lucena lembra que as variações de temperatura associam-se, entre outros aspectos, a condições geográficas. Ele explica por que o calor, ou a sensação de calor, se intensificou em Guaratiba: “O ar que desce é quente e fica parado. Ele entra na Serra do Mendanha e fica retido pela Pedra Branca. Aquela área recebe ventos predominantemente do Norte, que costumam ser mais quentes. O bairro também está próximo a um grande corpo hídrico, a Baía de Sepetiba, o que aumenta a umidade”, resume.

Tais condições geográficas e urbanísticas contribuem para transformar o local num bolsão de calor, o que se torna progressivamente comum nas grandes cidades. Por amenizar o aquecimento, as árvores mostram-se ainda mais importantes nesses locais próximos ao semiárido.

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O mapa do calor do Rio, apresentado pela Prefeitura em novembro do ano passado, reforça uma percepção histórica: as principais ilhas de calor da cidade ficam na Zona Norte, em regiões como o Complexo do Alemão, Complexo da Maré e em bairros como Ramos e Pavuna, além de Bangu, na Zona Oeste. Não por coincidência essas áreas têm, como dizem os técnicos, baixa cobertura vegetal.

Fora o benefício à qualidade do ar, com a absorção de gás carbônico, árvores estabilizam a umidade do ar e abafam a poluição sonora dos centros urbanos. O aumento das áreas redes é tradicionalmente dificultado por barreiras políticas, econômicas, mas também socioculturais. O arquiteto e urbanista Roberto Rocha, um dos artífices da Fundação Parques e Jardins, pondera que a arborização está diretamente ligada ao relacionamento entre o cidadão e o espaço urbano. “Carioca gosta de árvore, mas na porta do vizinho. Pensa que, em frente ao próprio prédio, a árvore vai entupir um cano, vai tapar a luz do poste, vai sujar a calçada”, analisa Rocha.

Seja na calçada, seja em casa, as plantas ativam benefícios ecológicos, sociais, psicológicos. Por exemplo, diminuindo o impacto das chuvas sobre o solo e auxiliando a drenagem urbana, com a redução da velocidade com a qual chegam as águas das chuvas, já que ficam temporariamente retidas pelas copas das árvores.

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Além disso, quem mora perto de áreas verdes é 36% menos propenso a transtornos psíquicos, como a depressão. Essa vantagem preventiva é constatada por um estudo da Universidade da Califórnia e aplica-se, em especial, a adolescentes e idosos.

A expansão desordenada sistematicamente ameaça o verde. Levantamento do RJ1, da TV Globo, contabiliza crescimento de 180% no número de autorizações para remoção de árvores na capital fluminense. Quase 12000 foram retiradas apenas em 2023, um recorde nos últimos oito anos. “Com o avanço constante de construções na Zona Oeste, área com um processo de expansão mais acelerado, o desmatamento fica maior”, ressalta Rocha.

A remoção legal de uma árvore exige autorização do poder público. Depois do pedido feito à Comlurb ou diretamente à prefeitura, providencia-se um licenciamento ambiental da área. Em 2021, tal responsabilidade migrou da Secretaria de Meio Ambiente para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Econômico.

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O engenheiro florestal Marcello Deschamps, integrante da Coordenadoria de Manejo Arbóreo da Comlurb, esclarece que a retirada legal de árvores em logradouros públicos é feita quando ela está morta, quando a sua manutenção passa a ser arriscada ou quando se identifica risco de colapso estrutural, avalizado por laudo técnico. Já a remoção para obras privadas precisa ser autorizada pela Fundação Parques e Jardins, vinculada à prefeitura.

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O poder municipal espera resguardar a preservação das árvores urbanas e equilibrar ecossistemas cariocas a partir do Monitoramento Contínuo de Cobertura Vegetal da Cidade do Rio. Lançado em março – com o custo de R$ 1 milhão, segundo a ex-secretária de Meio Ambiente, Tainá de Paula – o programa busca monitorar e sistematizar informações relativas, prioritariamente, a áreas remanescentes de Mata Atlântica, para equilibrar ecossistemas cariocas.

“Vamos acompanhar todas as áreas verdes da cidade. Os remanescentes de Mata Atlântica são o nosso foco, mas evitar perda de cobertura vegetal urbana em bairros já arborizados é também uma meta. Todos os bairros com ilhas de calor, como Centro, Irajá, Bangu, Campo Grande e Pedra de Guaratiba, perderam áreas verdes significativas ao longo dos anos”, observa Tainá.

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Inspiração paulistana

O Rio mostra-se atrasado em relação à cidade de São Paulo, uma das mais arborizada do país. Para diminuir os impactos do calor, a prefeitura da capital paulista oferece mudas de árvores para cidadãos plantarem em regiões carentes de verde. Basta acionar o portal de atendimento SP 156, pelo site ou aplicativo do governo.

Uma árvore madura, salienta Roberto Rocha, equivale a até oito mudas plantadas. O biólogo Ricardo Cardim, líder do programa Floresta de Bolso, aponta uma urgência para esverdear áreas urbanas:

“Se a gente não esverdear com critério as nossas cidades, reestruturar a biodiversidade nativa, elas se tornarão inabitáveis daqui a algumas décadas”, alerta Cardim, mestre em Botânica pela USP.
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Este conteúdo integra o conjunto de repórtagens em texto, áudio e vídeo feitas por estudantes de Jornalismo da PUC-Rio, sob orientação dos professores Adriana Ferreira, Alexandre Carauta, Chico Otavio, Creso Soares Jr., Giovanni Faria e Luís Nachbin.

A edição do site de VEJA Rio é de Marcela Capobianco.

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