Floresta de bolso é uma das alternativas para conter aquecimento global
Além dos benefícios ecológicos, as 'ilhas verdes' favorecem a vida social e até a saúde mental da população
As florestas de bolso revelam-se um potente aliado para conter ou aliviar o aquecimento global. Correspondem ao reflorestamento de pequenas áreas urbanas, em geral abandonadas. Há muito adotado nos Estados Unidos, esse tipo de ilha verde estreou na capital fluminense em 2022: terminado o Rock in Rio, espécies da Mata Atlântica foram replantadas em 5000 metros quadrados do Parque Olímpico, onde antes havia lixo e entulho.
A floresta de bolso no Parque Olímpico deriva do projeto desenvolvido pelo biólogo e paisagista Ricardo Cardim para entender a regeneração da Mata Atlântica sem o contato humano. A experiência reproduz dinâmicas regenerativas naturais das espécies nativas.
Depois dos ensaios iniciados há 13 anos, em ambientes privados, Cardim montou, em 2016, na capital paulista, a primeira floresta de bolso do país. Hoje a cidade de São Paulo acolhe 18 delas. O biólogo destaca o papel dos mutirões voluntários, com 500 participantes por vez, para difundi-las:
“A experiência do mutirão é maravilhosa. A gente tem uma troca muito legal. A floresta de bolso é, antes de tudo, uma máquina de educação ambiental. Ela mostra que a floresta nativa e a biodiversidade podem conviver em harmonia com as cidades modernas”.
O professor de Biologia da PUC-Rio Richieri Antonio Sartori sublinha a importância de o reflorestamento alinhar-se à vegetação nativa. Espécies estrangeiras – não necessariamente de outro país, mas de outra região – podem tornar-se invasoras, desequilibrando o ecossistema:
“Quando vamos para outro país, muitas vezes temos dificuldade de nos adaptar a culturas diferentes. Podemos imaginar a mesma dificuldade quando plantas estranhas são inseridas numa vegetação local”, compara.
Uma vez ajustada ao ecossistema, acrescenta Sartori, a floresta de bolso agrega benefícios ecológicos e sociais. Aproxima-se, assim, dos chamados pocket parks (parques de bolso, em tradução literal), que transformam áreas abandonadas em pontos de convivência e preservação ambiental. Alia-se também aos esforços para frear o aquecimento do planeta:
“A gente teve 62 graus de sensação térmica em Guaratiba há um tempo. Isso mostra que, se não esverdearmos as nossas cidades, com critério, se não preservarmos a biodiversidade nativa, elas se tornarão inabitáveis daqui a algumas décadas”, alerta Cardim. Ele planeja estender este modelo florestal a outros bairros do Rio, principalmente na Zona Oeste.
“Além dos benefícios ecológicos, a floresta de bolso favorece a vida social e até a saúde mental da população. Vários artigos científicos comprovam isso. As pessoas que moram perto de áreas verdes têm uma quantidade muito menor de problemas de saúde, sobretudo psicológicos”, acrescenta.
Outro atributo desse tipo de floresta é a manutenção simples – “principalmente se for plantada em época de chuva”, explica Cardim. Se o plantio transcorrer em época de seca, talvez seja necessária uma irrigação até que as copas das árvores se fechem.
O auxiliar administrativo do Parque Olímpico Pedro Augusto conta que a manutenção da floresta ali é mensal. Resume-se, em geral, à poda das plantas para evitar o acúmulo de mosquitos.
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Os impactos positivos e a relativa facilidade de instalação e manutenção apontam para o avanço das florestas de bolso no país. Cidades como Maceió, em Vitória, Goiânia, Porto Alegre e Curitiba já abrigam um exemplar. Cardim ressalta que importância socioambiental dessas florestas aumenta com o tempo, pois elas contribuem para o equilíbrio ecológico a longo prazo:
“Quanto mais envelhecem, mais produzem. As árvores ficam maiores, com maior biomassa, e trazem pássaros e outros habitantes, reforçando a biodiversidade. É uma evolução constante e progressiva”.
Sartori concorda que, mesmo em menor escala, as pequenas áreas verdes fazem a diferença tanto em termos ecológicos quanto sociais. Ele pondera que a vegetação pode demorar a crescer, o que varia de acordo com a espécie. Sugere mesclar os dois tipos de plantas: as que crescem rapidamente e as que demoram. O importante, frisa o especialista, é plantar logo: “Quanto mais tempo a gente leva para fazer o reflorestamento, mais tempo ele demora a se desenvolver”.
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Este conteúdo integra o conjunto de repórtagens em texto, áudio e vídeo feitas por estudantes de Jornalismo da PUC-Rio, sob orientação dos professores Adriana Ferreira, Alexandre Carauta, Chico Otavio, Creso Soares Jr., Giovanni Faria e Luís Nachbin.
A edição do site de VEJA Rio é de Marcela Capobianco.