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Os executivos entram em campo

Empresários de renome formam uma chapa para concorrer à presidência do Flamengo

Por Sérgio Garcia
Atualizado em 5 jun 2017, 14h22 - Publicado em 26 set 2012, 17h19

Um termo muito usado para descrever a sede da Gávea é Afeganistão, tal sua permanente conflagração. Com a proximidade de uma eleição presidencial no Flamengo, como agora, o terreno fica ainda mais minado. É sob esse alto teor bélico que entra em cena uma tropa de elite do mundo dos negócios, disposta a comandar o clube mais popular do Brasil. Um grupo de altos executivos se juntou numa chapa, que tem o chamado núcleo duro composto de onze pessoas. Entre elas, o sócio-diretor do Grupo EBX, Flávio Godinho, o presidente da Sky, Luiz Eduardo Baptista, o presidente da Visa do Brasil, Rubén Osta, e o economista Carlos Langoni, diretor da Fundação Getulio Vargas. Na cabeça da chapa, está o economista Wallim Vasconcellos, ex-dirigente do BNDES, e seu candidato a vice é o peso pesado do setor petrolífero Rodolfo Landim. O que teria levado esses profissionais a dedicar parte de seu precioso tempo ao rubro-negro? “Nós nos sentíamos culpados por termos sucesso na vida profissional e não revertermos de alguma forma essa experiência para o Flamengo, que é a nossa paixão”, afirma Baptista.

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O movimento é recente e nasceu espontaneamente. Há três meses, a partir de uma conversa de Flávio Godinho com um amigo, surgiu a ideia de juntar “gente do bem” para ingressar na política do clube. Godinho falou com Landim, que procurou Wallim, que por sua vez contatou Langoni, e o assunto chegou ao publicitário Sérgio Brandão, CEO da agência G2 Brazil, e a David Zylbersztajn, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo. Assim a corrente cresceu, chegou-se ao consenso em torno dos nomes e foi lançada a candidatura. A posição do time, na rabeira do Campeonato Brasileiro, serviu para acelerar o processo. “Nosso objetivo é implantar um novo modelo de gestão, com executivos bem remunerados e que tenham metas a cumprir, como ocorre em qualquer empresa”, explica Wallim. O cânone do grupo é o livro A Bola Não Entra por Acaso, em que o ex-cartola do Barcelona Ferran Soriano conta como o clube catalão superou as dificuldades financeiras da década passada para se transformar na potência futebolística mais invejada do planeta.

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Mal iniciaram a campanha, Wallim, Landim e cia. depararam com o mundo à parte que é um clube, em especial o Flamengo, em que o jogo de poder não necessariamente reflete o universo aqui fora. Apesar de ter 30 milhões de apaixonados e simpatizantes pelo país, o vermelho e preto conta com apenas cerca de 10?000 sócios, dos quais menos de 6?000 estão aptos a votar no pleito previsto para dezembro, mas ainda sem data estipulada. O colégio eleitoral é heterogêneo: embora seja, em sua grande maioria, composto de torcedores de futebol, reúne também moradores das redondezas e atletas olímpicos. Diante do reduzido contingente, um estridente baixo clero de sócios pode decidir a eleição. A tática do grupo de executivos é convencer o maior número de pessoas a comparecer à votação. Na eleição da presidente Patricia Amorim, em 2009, o quórum esteve abaixo de 2?400 eleitores. O intuito é ampliá-lo para algo em torno de 3?000. “O Flamengo ficou muito tempo nessa situação porque eram sempre os mesmos votando nos mesmos. É preciso renovar o colégio”, prega Wallim, que tão logo se lançou em campanha recebeu as boas-vindas ao Afeganistão. Seu grupo foi acusado de falta de vivência do clube e ele, pessoalmente, de não ter cumprido o tempo mínimo de sócio previsto no estatuto para se lançar candidato. “Nossos problemas têm de ser resolvidos internamente, sem que seja preciso vir alguém de fora”, critica o empresário Jorge Rodrigues, um dos postulantes à presidência. “Eles antes deveriam fazer um estágio para conhecer o dia a dia do clube. Quem sabe daqui a três anos estejam preparados para assumir?”

Graças a uma conjunção de fatores que vão da realização da Copa do Mundo à estabilidade financeira do país, o futebol brasileiro vive uma fase de bonança (veja o quadro). Revigorada pela verba de um novo acordo com a TV, a receita rubro-negra pode ultrapassar a faixa de 1 bilhão de reais, somadas as próximas seis temporadas. Apesar de faturar como nunca, o Flamengo se vê sempre às voltas com problemas financeiros, herdados de administrações passadas. Vira e mexe estoura na Gávea um papagaio de cifras colossais. Neste mês, o clube perdeu em segunda instância uma ação movida pelo Consórcio Plaza, que cobra uma dívida de 58,5 milhões de reais remanescente dos anos 90. “A cada hora surge um novo problema. O Flamengo não é o mundo em que esses empresários estão acostumados a viver. Queria ver como eles reagiriam aqui dentro”, alerta Cacau Cotta, vice-presidente de administração e do Fla-Gávea, que destaca a ampla reforma na sede e a construção do centro de treinamento Ninho do Urubu como bons trabalhos da gestão de Patricia Amorim, feitos com muita dificuldade devido às intermináveis penhoras de verba.

A despeito do previsível desgaste, sem a devida contrapartida pecuniária, o cargo de presidente do Clube de Regatas do Flamengo atrai uma dezena de pré-candidatos, que incluem desde torcedores até velhas lideranças da Gávea. Independentemente das urnas, porém, a mobilização de empresários bem-sucedidos é uma boa notícia. Afinal, eles trazem introjetada a importância da responsabilidade fiscal na hora de tocar um negócio. “O futebol gera 300?000 empregos e movimenta 11 bilhões de reais por ano no Brasil, mas a estrutura de gestão e governança da maioria dos clubes ainda é do século XIX”, avalia Pedro Trengrouse, professor da FGV especializado em gestão esportiva. Quem sabe a mudança está prestes a começar?

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