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Encrencas a galope

Os sócios da Hípica são surpreendidos com a notícia de uma dívida milionária de IPTU e o bloqueio da conta bancária do clube

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 14h27 - Publicado em 1 ago 2012, 17h33
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Poucos clubes da cidade experimentaram uma transformação tão radical quanto a Sociedade Hípica Brasileira, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Até o ano passado, era impossível para alguém que visitasse as instalações não sair decepcionado com a má conservação dos prédios e a penúria da estrutura de lazer – a comida do restaurante, por exemplo, era sofrível. Não à toa, o corpo de associados, que nos bons tempos reuniu 600 sobrenomes de peso da sociedade carioca, viu-se reduzido a apenas 200 titulares. Hoje, a situação é outra. Um amplo programa de obras, ainda em execução, deu sangue novo ao lugar, com a construção de quadras de tênis de saibro e academia de ginástica, reforma da piscina e renovação do restaurante. Tamanha metamorfose credenciou o presidente da entidade, Carlos Palermo, a disputar a eleição no vizinho Jockey Club, que ele venceu com folga em maio passado. Poucos dias depois da vitória, no entanto, uma bomba estourou entre as cocheiras da agremiação com reverberações sentidas até hoje. No dia 5 de junho, a Justiça penhorou a conta bancária da instituição, cujo saldo beirava 1,3 milhão de reais. Motivo: uma dívida de 14 milhões de reais referente a IPTU atrasado.

A notícia foi recebida com estupefação no clube hípico, frequentado por empresários, banqueiros e autoridades como o governador Sérgio Cabral. Engenheiro por formação, Palermo sempre foi reconhecido como um gestor competente, que ajudou a entidade a sair do vermelho. Embora o programa de reformas tenha sido capitaneado por um grupo de sócios notórios, ele é quem está à frente da entidade há quatro mandatos. Associados familiarizados com os bastidores da instituição o responsabilizam por não dar a devida importância à dívida com a prefeitura. “As contas eram guardadas na gaveta e ele se limitou a compartilhar o caso com o pessoal do jurídico. Só soubemos desse imbróglio agora”, diz um sócio eminente que prefere não se identificar. Há duas semanas, foi realizada uma reunião com todo o conselho na qual Palermo, que acumula o comando da Hípica e do Jockey, expôs o caso detalhadamente. “Nós até sabíamos que havia essa pendência, mas não imaginávamos que a situação chegaria ao ponto de a conta ser bloqueada”, reconhece Luís Fernando Monzon, presidente do conselho deliberativo e filho de Fernando Monzon, cavaleiro consagrado do hipismo brasileiro.

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O problema da dívida é complexo e deve se tornar uma espécie de herança maldita para o sucessor de Palermo (ele já anunciou que pretende dedicar-se apenas ao Jockey quando encerrar seu mandato, em novembro). Até 1999, a sociedade esteve isenta do tributo, como os demais clubes da Zona Sul – a situação mudou quando uma lei municipal acabou com o benefício. Pouco depois de a primeira notificação de cobrança chegar, o clube, à época presidido por Palermo, solicitou uma nova dispensa de pagamento sob a alegação de que as instalações são tombadas. O problema é que a concessão municipal foi apenas provisória. Para conseguir a proteção permanente, seria necessário cumprir uma série de requisitos, alguns bem complicados. “Era impossível atender a todas as exigências. Havia absurdos, como ter de demolir a estrutura onde fica o nosso júri de campo, algo totalmente inviável para um clube hípico”, alega Palermo. Como a entidade só conseguiu o tombamento definitivo em 2010, criou-se ao longo dos anos um efeito bola de neve: nenhuma fatura foi paga, a dívida não parou de acumular-se e o caso foi parar na Procuradoria-Geral do Município, que conseguiu a execução na Justiça.

A Sociedade Hípica Brasileira é um dos principais centros de formação de cavaleiros do Brasil. Mais de quinze atletas que começaram a montar ali disputaram ao menos uma Olimpíada, entre eles Nelson Pessoa Filho (pai de Rodrigo Pessoa, medalha de ouro nos Jogos de Atenas em 2004), considerado por muitos o melhor cavaleiro brasileiro de todos os tempos. Desde 2008, o clube sedia o Athina Onassis Horse Show, o maior evento de hipismo da América Latina, que terá mais uma edição em outubro. Felizmente, os advogados da Hípica já conseguiram o desbloqueio de 50% do valor, mas a conclusão da reforma nas instalações foi prejudicada pela falta de recursos. Nem as finanças nem os salários dos funcionários foram comprometidos”, defende-se Palermo. Mesmo assim, foi um coice e tanto para quem achava que os tempos sombrios estavam definitivamente enterrados no passado.

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