A batalha pela boa forma
A virada do ano é o momento das promessas e decisões, entre elas a de perder peso, um desafio complexo, árduo e, muitas vezes, cruel. Ainda assim, é crescente o número de cariocas que vencem a guerra contra a balança
O dia 31 de dezembro é uma data marcada pelos grandes planos, como encontrar um novo emprego, trocar de cidade, livrar-se de dívidas, casar-se ou adotar um estilo de vida mais saudável. De todos eles, o último é provavelmente o único que depende exclusivamente da própria pessoa. Talvez por isso mesmo seja um dos mais difíceis de concretizar. E não é só uma questão de força de vontade ou de decisão. Nossa biologia conspira contra o esforço de fechar a boca e vencer a preguiça. A ciência explica o fenômeno: em sua insaciável busca por recompensas, o cérebro transforma atividades rotineiras em necessidades incontornáveis, feitas quase que automaticamente, como um vício. Por mais que desejemos ardentemente uma silhueta esbelta, a mente clama por todas as comidas engordativas que nos habituamos a consumir. “Comer é algo extremamente prazeroso para o ser humano, mexe com inúmeros sentidos e é um importante fator de socialização”, explica o cardiologista Cláudio Domênico, autor do livro Te Cuida! Guia Prático para uma Vida Saudável. “É preciso romper o ciclo nefasto que leva à alimentação excessiva e à obesidade”, alerta. A boa notícia é que, apesar de dura, a briga contra a balança pode ser vencida. Nesta primeira edição de 2013, VEJA RIO pretende oferecer um estímulo a seus leitores e mostrar que não só é possível abandonar o sedentarismo e os maus hábitos alimentares como também deixar para trás os quilos extras acumulados ao longo dos anos.
Confira nos links a seguir todas as reportagens desta edição especial de saúde:
Diário de uma ex-gorda: repórter conta como foi a batalha de perder 45 Kg em sete meses
Malhar é a maior diversão: as novidades das academias cariocas para perder calorias se divertindo
Prazer sem culpa: sete chefs estrelados ensinam a preparar receitas light saborosas
Por mais hercúleo que pareça, o desafio de conquistar uma vida mais saudável tem sido vencido por muitos cariocas. Uma pesquisa anual realizada pelo Ministério da Saúde mostra que o índice de obesos entre a população caiu nos últimos dois anos. Em 2009, o Rio chamou atenção ao tornar-se a metrópole com o maior porcentual de gordinhos do país: 18% da população foi enquadrada como obesa e 50% tinha peso acima do normal (com índice de massa corporal, o IMC, igual ou superior a 25). No ano passado, o levantamento mostrou que o porcentual de pessoas com a modalidade mais grave da doença havia caído para 16,5%. Ainda assim, há motivo para preocupação, pois o índice de sobrepeso continua praticamente o mesmo, entre os mais altos do Brasil (veja o quadro). “A combinação de stress, refeições irregulares, sedentarismo e grande oferta de alimentos industrializados, que agora estão acessíveis a uma camada maior da população, criou o ambiente perfeito para engordar”, aponta Fabiano Serfaty, responsável pelos ambulatórios de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Osteoporose do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (Iede).
As tentações para os cariocas que tentam vencer a guerra contra a balança brotam por todos os lados. Para começar, a cultura do botequim, com a sua fartura de bebidas e petiscos calóricos, é um tormento contínuo. Quem toma um chope (a tulipa de 300 mililitros tem 180 calorias) dificilmente fica no primeiro copo. Somados os acompanhamentos clássicos, como pastéis, bolinhos, linguiças e afins, uma passagem pelo boteco pode render 2?000 calorias. Detalhe: quem acumula diariamente 400 calorias além do que necessita terá adicionado, ao final do mês, 1,5 quilo ao seu peso. Por ano, são 17 a mais. A aritmética da gordura fica mais perversa quando se leva em conta que, para perder cada quilo extra, é preciso queimar 7?700 calorias. Haja calçadão e academia.
A falta de resultados na combinação dieta e exercícios é extremamente frustrante, a ponto de muitos apelarem para remédios e procedimentos cirúrgicos como forma de conter o peso. No entanto, nem mesmo as medidas mais drásticas funcionam se não houver uma mudança de comportamento. Um terço dos pacientes submetidos à redução de estômago volta a engordar. “A dieta é fundamental para o emagrecimento”, afirma o endocrinologista Serfaty. “Pode-se dizer que um programa de perda de peso bem-sucedido é composto de 80% de reeducação alimentar e 20% de malhação.” Já na fase de manutenção, a proporção se inverte, com as atividades físicas tomando a dianteira.
Até hoje, a ciência ainda não encontrou uma fórmula mágica para perder peso e manter a forma. Um bom ponto de partida é adotar um regime e uma rotina de exercícios que respeitem os limites e gostos próprios. Foi o que fez a atriz Débora Nascimento, a Tessália de Avenida Brasil. Aos 19 anos, depois de trabalhar como modelo no exterior, descuidou da alimentação e bateu nos 84 quilos. Hoje, ostenta 67 quilos muito bem distribuídos por 1,78 metro (e sem nenhum Photoshop na foto ao lado). Ela conseguiu o corpo desejado com um regime duro e um pesado programa de exercícios. “Sou boa de garfo e tenho muita tendência para engordar. Por isso, quando meto o pé na jaca, fico os três dias seguintes só na desintoxicação, com uma dieta à base de verduras, legumes, frutas e bastante líquido para compensar a comilança e manter o peso estável”, conta a atriz, que ainda sua a camisa com aulas de muay thai, corridas na praia, sessões de musculação e passeios de bicicleta de quatro a cinco vezes por semana. Débora, do alto de sua beleza, sabe que ninguém alcança a boa forma deitada no sofá.