Dez livros em que o Rio de Janeiro é um dos protagonistas
Muito mais do que um belo - ou perigoso - cenário, a cidade serviu de inspiração para diversos escritores. Confira a seleção de VEJA Rio
Muito além da paisagem estonteante, com morros, praias, lagoas e cachoeiras, o Rio de Janeiro exerce um fascínio sobre os próprios cariocas, turistas e pessoas que sonham conhecer a cidade por causa das novelas, dos filmes e dos livros que se passam na capital fluminense.
O Rio, apesar de castigado e assolado pela corrupção, ainda tem um magnetismo e vocação para brilhar como cenário e como protagonista. VEJA Rio selecionou uma lista de dez livros de ficção que se passam na Cidade Maravilhosa e enchem o leitor de vontade de explorar bairros, ruas e a noite carioca. Confira abaixo.
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Glória – Victor Heringer | clique aqui para comprar
Antes mesmo de completar 30 anos, o escritor Victor Heringer foi tido como promessa da literatura brasileira. No entanto, ele optou por sair de cena, mas deixou um livro de poemas e dois romances. Glória, o mais robusto deles, conquistou o segundo lugar no Prêmio Jabuti na categoria romance. O livro conta a história da pitoresca família Alencar Costa e Oliveira. Os personagens falam o oposto do que querem dizer ou repetem as mesmas frases até que passem a ter outro sentido. Ninguém da linhagem morre de doença ou de acidente: eles vão dessa para uma melhor por desgosto. Com erudição, graça e inventividade, Heringer traça o destino de três irmãos completamente diferentes um do outro ― Daniel, Abel e Benjamin. O estilo que lembra Machado de Assis se funde ao cotidiano carioca do século XXI, quando as formigas invadem o bairro da Glória e os personagens frequentam uma sala de bate-papo virtual em que a palavra de ordem é a ironia. Editora: Companhia das Letras.
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Dom Casmurro – Machado de Assis | clique aqui para comprar
Clássico imperdível para quem quer conhecer melhor o período do Realismo na literatura brasileira. A engenhosa dúvida lançada por Machado de Assis na virada do século XIX para o XX não deve ser respondida, e sim admirada. Narrado em primeira pessoa por Bentinho – o próprio Dom Casmurro – o livro perpassa toda a vida do protagonista e seu relacionamento com Capitu – que tem olhos de cigana oblíqua e dissimulada -, a amizade com Escobar e a eterna desconfiança: teria a esposa o traído com o seu melhor amigo? Domínio público.
Ao Som do Mar e à Luz do Céu Profundo – Nelson Motta | clique aqui para comprar
O jornalista e produtor musical Nelson Motta também é um romancista de mão cheia. Neste livro, ele remexe o próprio baú de memórias afetivas para contar uma história que mistura amor, suspense, erotismo e humor. No vibrante Rio de Janeiro de 1960, a chegada de uma garota americana louca por futebol, carnaval e lança-perfume muda a vida do pacato Bairro Peixoto. É para esse recanto de Copacabana que se muda a família do coronel Kleber Ferreira, para realizar o sonho da mulher, Eva. Muito bonita mesmo na casa dos 40 anos, ela abre uma loja de doces na Galeria Menescal – ponto de encontro e passagem entre as duas principais avenidas do bairro – e se apaixona por um delegado bonitão e cafajeste. Editora: Suma de Letras.
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A Hora da Estrela – Clarice Lispector | clique aqui para comprar
Último livro da escritora, A Hora da Estrela é também uma despedida. Lançada pouco antes de sua morte em 1977, a obra conta os momentos de criação do escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice) narrando a história de Macabéa, uma alagoana órfã, virgem e solitária, criada por uma tia tirana, que a leva para o Rio de Janeiro, onde trabalha como datilógrafa. Macabéa é uma mulher solitária que gosta de ouvir a Rádio Relógio. Feia, magra, sem entender muito bem o que se passa à sua volta, é maltratada pelo namorado e pela colega Glória. Os dois acabam juntos, enquanto Macabéa, sozinha, continua a viver sem saber por que está vivendo, sem pensar no futuro nem sonhar com uma vida melhor. Até que um dia, seguindo uma recomendação de Glória, procura a cartomante Carlota. Editora: Rocco.
Essa Gente – Chico Buarque | clique aqui para comprar
Um escritor decadente enfrenta uma crise financeira e afetiva enquanto o Rio de Janeiro colapsa à sua volta. Tragicomédia urgente, o romance é o mais recente de Chico Buarque (lançado no final de 2019) e traz como pano de fundo os embates políticos que borbulham por todo o Brasil. Há alguns pontos de contato entre Chico e o protagonista do livro. O escritor Manuel Duarte tem o sobrenome de perfil vocálico idêntico e gosta de bater perna nos arredores do Leblon. Contudo, o leitor logo descobre que isso conduz a um dos muitos becos sem saída da trama. Autor de um romance histórico que se tornou best-seller nos anos 1990, Duarte passa por um deserto criativo e emocional num Rio de Janeiro que sangra e estrebucha sob o flagelo de feridas sociais finalmente supuradas, ostensivas. Editora: Companhia das Letras.
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Agosto – Rubem Fonseca | clique aqui para comprar
Numa trama que costura elementos ficcionais com um período histórico marcante do Rio e do país, o livro de Rubem Fonseca joga luz a acontecimentos que marcaram a sociedade carioca e culminaram no suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954. Os primeiros fatos que aparecem no livro são reais: o atentado a Carlos Lacerda na Rua Tonelero e a morte do então presidente no Palácio do Catete. Na parte ficcional, o espectador se afeiçoa ao o narrador e protagonista, Comissário Mattos, que acompanha a investigação sobre o suicídio do estadista. Editora: Agir.
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Fim – Fernanda Torres | clique aqui para comprar
Em seu primeiro romance, a atriz e cronista Fernanda Torres se firma como escritora ao contar a história de um grupo de cinco amigos cariocas. Eles rememoram as passagens marcantes de suas vidas: festas, casamentos, separações, manias, inibições, arrependimentos. Álvaro vive sozinho, passa o tempo de médico em médico e não suporta a ex-mulher. Sílvio é um junkie que não larga os excessos de droga e sexo nem na velhice. Ribeiro é um rato de praia atlético que ganhou sobrevida sexual com viagra. Neto é o careta da turma, marido fiel até os últimos dias. E Ciro, o Don Juan invejado por todos – mas o primeiro a morrer, abatido por um câncer. São figuras muito diferentes, mas que partilham não apenas o fato de estar no extremo da vida, como também a limitação de horizontes. Sucesso na carreira, realização pessoal e serenidade estão fora de questão – ninguém parece ser capaz de colher, no fim das contas, mais do que um inventário de frustrações. Ao redor deles pairam mulheres neuróticas, amargas, sedutoras, desencanadas, descartadas, conformadas. Editora: Companhia das Letras
O Beijo no Asfalto – Nelson Rodrigues | clique aqui para comprar
Arandir, um homem casado, beija a boca de outro homem, que acaba de ser atropelado, realizando assim seu último desejo antes da morte. Com o destaque do caso pela imprensa, Arandir se vê compelido a um destino que não consegue modificar. Escrita originalmente como uma peça de teatro, a obra foi lançada em 1960 e encenada no ano seguinte, com nomes como Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Ítalo Rossi e Suely Franco no elenco. Editora: Nova Fronteira.
Jantar Secreto – Raphael Montes | clique aqui para comprar
Um grupo de jovens deixa uma pequena cidade no Paraná para viver no Rio de Janeiro. Eles alugam um apartamento em Copacabana e fazem o possível para pagar a faculdade e manter vivos seus sonhos de sucesso na capital fluminense. Mas o dinheiro está curto e o aluguel está vencido. Para sair do buraco e manter o apartamento, os amigos adotam uma estratégia heterodoxa: arrecadar fundos por meio de jantares secretos e um tanto quanto exóticos, divulgados pela internet para uma clientela exclusiva da elite carioca. A partir daí, eles se envolvem em uma espiral de crimes. O livro foi lançado em 2016, quando Raphael Montes tinha apenas 26 anos. Editora: Companhia das Letras.
O Sol na Cabeça – Geovani Martins | clique aqui para comprar
Tido como a voz do novo realismo carioca, Geovani Martins foi bastante elogiado pelos treze contos de O sol na cabeça. A infância e a adolescência de moradores de favelas – o prazer dos banhos de mar, das brincadeiras de rua, das paqueras e dos baseados –, moduladas pela violência e pela discriminação racial. Está tudo lá. As angústias e dificuldades inerentes aos jovens que nasceram nas favelas e bairros menos favorecido da “Cidade partida”, ganham as páginas e os corações dos leitores. Em Rolézim, o conto mais hypado, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul.