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Terreno minado

Além da contaminação por explosivos, a área destinada a abrigar parte das instalações olímpicas e o novo autódromo da cidade enfrenta uma disputa ambiental

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 dez 2016, 14h58 - Publicado em 6 mar 2013, 20h01

Sede de importante base do Exército, o bairro de Deodoro, no subúrbio do Rio, ganhou súbita fama quando se decidiu que ali seriam disputadas provas de sete modalidades esportivas durante a Olimpíada de 2016. Além de instalações como o centro hípico, o parque de esportes radicais e a arena para esgrima, a região foi escolhida para receber o novo circuito automobilístico da cidade. Ele vai substituir o Autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá, demolido para dar lugar a um complexo poliesportivo, também parte do projeto olímpico. O plano inicial era que a pista estivesse pronta já em 2014, uma possibilidade que a cada dia se torna mais remota. Prevista para sair do papel a partir de 2010, a obra nem sequer tem prazo para começar. A indefinição ganhou força no último dia 11 de fevereiro, quando a Justiça estadual suspendeu a licença ambiental do empreendimento. Essa decisão foi tomada após uma liminar da Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público do Rio questionar a falta de estudos sobre a área, atualmente coberta por Mata Atlântica. Os promotores argumentam que o Instituto Estadual de Ambiente (Inea) aprovou a construção sem exigir garantias, e qualificaram o projeto como incompleto e sem detalhamento sobre o impacto da obra na fauna e na flora remanescentes na vizinhança. “Faltaram dados básicos, como apresentar outras opções de terreno para a criação do autódromo, o que é exigido por lei”, explica José Alexandre Maximino, promotor do Ministério Público.

O imbróglio ambiental em torno da obra do autódromo é mais um dos obstáculos que emperram a construção das instalações esportivas em Deodoro. Utilizado até então como campo de treinamento militar, o vasto terreno de 2 quilômetros quadrados cedido pelo Exército ao Ministério dos Esportes contém perigosos artefatos explosivos perdidos em meio à vegetação. Basicamente, são granadas não detonadas. O fato foi descoberto da pior maneira possível, em junho do ano passado, quando um recruta morreu depois de pisar em um desses objetos enquanto caminhava pela mata. Desde então, realiza-se uma complexa varredura no matagal. A investigação encontrou outros materiais perigosos, remanescentes de uma explosão da Central de Armamento e Munição do Exército, ocorrida há mais de cinquenta anos. Na ocasião, o paiol militar foi consumido por um incêndio que durou três dias e o barulho das explosões pôde ser ouvido a 50 quilômetros de distância. O prazo de seis meses para a conclusão da limpeza venceu no fim de fevereiro, mas o Exército informou que o trabalho deve prosseguir até o fim de junho e, enquanto o terreno não estiver seguro, não será permitido o acesso à área. “Não tínhamos dimensão do problema. Nem mesmo os militares sabiam dizer o que havia naquelas terras”, afirma Ricardo Leyser, secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento do Ministério dos Esportes e responsável pela coordenação das obras na região. O ministério, que está recorrendo da decisão judicial, também já iniciou a preparação de novos relatórios ambientais. “Como as instalações olímpicas de Deodoro não são complexas, o prazo para as obras ainda tem folga. Uma vez liberado o terreno, vai ser rápido”, acredita Leyser.

Se no caso da Olimpíada a margem de tempo é relativamente confortável para permitir ajustes de cronograma, a mesma situação não se repete quando se leva em conta outra ambição carioca: trazer de volta para o Rio o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1. Entre 1981 e 1989, o antigo autódromo da Zona Oeste teve papel de protagonista na história do automobilismo ao abrigar aguerridas disputas entre estrelas de primeira grandeza da modalidade, como o inglês Nigel Mansell, o francês Alain Prost e os brasileiros Ayrton Senna e Nelson Piquet. “As provas eram tão concorridas que a cidade arrecadava cifras equivalentes às do Carnaval”, recorda Cleyton Pinteiro, presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). É justamente por esse motivo que a prefeitura pretende recuperar a competição, hoje realizada na pista de Interlagos, em São Paulo. O cenário não poderia ser mais favorável, uma vez que o contrato entre a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), a organizadora do GP, e a prefeitura da capital paulista vence em 2014. “Com um circuito moderno, nós nos tornaríamos um concorrente imbatível, pois o Rio tem uma imagem muito mais atraente no exterior e vive ótimo momento econômico”, avalia Pinteiro. O problema é tirar o projeto do novo autódromo do papel e concretizá-lo a tempo de viabilizar a candidatura. Caso contrário, será preciso esperar até uma renovação de contrato, que pode acontecer apenas em 2020.

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