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Escola de princesas

Curso de etiqueta para crianças tem fila de espera e atrai pais que pagam 790 reais para que seus filhos deem os primeiros passos na arte das boas maneiras

Por Letícia Pimenta
Atualizado em 5 jun 2017, 14h32 - Publicado em 16 Maio 2012, 18h44

Transmitir bons modos à garotada é tarefa árdua, que exige disponibilidade e persistência. Com os pais fora de casa o dia inteiro, essa incumbência vem sendo compartilhada, às vezes sem muito sucesso, com a escola, os parentes mais próximos e as babás. O processo de terceirização na educação dos pequenos é tão intenso que deu origem agora a um novo serviço: o professor de etiqueta infantil. Trata-se de uma novidade com acesso bastante restrito. O curso custa 790 reais, mas o preço parece não afugentar a clientela. Oferecidas pela consultora Danielle Stipp Melamed, que está no mercado carioca há apenas quatro meses, as aulas de boas maneiras para pimpolhos têm fila de espera até junho. “De início, a demanda é sempre das mães. Mas, depois que as atividades começam, as crianças adoram”, revela Danielle, que dá aulas para executivos.

Nestes tempos de permissividade excessiva, em que a pouca idade é usada como um salvo-conduto para qualquer exagero, estabelecer regras desde cedo é altamente recomendável. Pena que muitos não façam isso. Atitudes como respeitar os mais velhos, não falar de boca cheia durante as refeições, agradecer e pedir licença, premissas básicas da boa educação, nem sempre são repetidas pelos pequenos. As lições da consultora visam a preencher essa lacuna. Seu amplo escopo de atuação vai desde o ritual de tornar rotineiro o uso de “por favor” e “obrigado”, expressões muitas vezes apagadas do vocabulário mirim (e adulto, infelizmente), até incutir normas de comportamento em espaços públicos, passando pelo ensino da forma correta de esgrimir garfo e faca à mesa. Advogada da área criminal, Danielle viveu em Portugal durante quinze anos com o marido e os filhos trigêmeos, de 10 anos, até se mudar para o Rio, em 2010. Autodidata na arte da etiqueta e entusiasta do tema, ela resolveu transformar seu hobby em atividade profissional. Os primeiros alunos foram seus próprios filhos e os das amigas. Com os elogios, teve a certeza de que havia um mercado a ser explorado e criou um método de ensino.

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Direcionado a alunos de 5 a 10 anos, o curso tem carga horária de seis horas e as aulas são sempre ministradas na residência da criança, para grupos de até quatro aprendizes. Por meio de noventa ilustrações associadas a pequenos textos rimados, a professora ensina a eles o comportamento ideal em cada circunstância. Entre elas, festinhas de aniversário e viagens de avião. O módulo de boas maneiras à mesa costuma ser o mais valorizado pelos pais. Ele inclui regras de postura corporal, manuseio de talheres, a maneira de se servir em um coquetel e de ingerir, sem perder a classe, alimentos complicados, a exemplo de alface, milho, caviar e escargot, mesmo que os dois últimos não sejam exatamente iguarias infantis. A principal diferença em relação à apostila dos adultos é o item sobre degustação de balas. Danielle mostra como pegar jujubas no pote, uma a uma, sem afobação. Para quem quer se aprimorar só nas regras à mesa, há um curso à parte, de três dias.

Embora o curso tenha lá seus exageros, e não é só o preço, sua forma de abordar preceitos da convivência civilizada tem feito a cabeça dos pais. A economista Viviane Brandão é uma das que se dizem satisfeitas. Profissional do mercado financeiro, ela tem uma agenda de trabalho puxada, e quase não lhe sobra tempo para acompanhar de perto a rotina dos filhos, Rafaela, de 10 anos, e Antonio Pedro, de 9. Depois de se impressionar com o comportamento impecável de dois amiguinhos da menina em um jantar, Viviane incentivou Rafaela a ingressar no curso. “Santo de casa não faz milagre. Mesmo que a gente repita quinhentas vezes, eles aprendem mais rápido e melhor quando alguém de fora fala”, afirma. Não custa lembrar, porém, que nada exime os pais da missão de educar as crianças. “A influência deles é maior do que qualquer aula, principalmente nos sete primeiros anos, quando os filhos tendem a imitá-los em tudo”, alerta a educadora Tania Zagury. Ou seja: se vocêr não tiver 790 reais para gastar com aulas de etiqueta, experimente dar um bom exemplo em casa.

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