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Crivella vira alvo de pedidos de impeachment após reunião em Botafogo

Declarações durante encontro no Palácio da Cidade foram interpretadas como oferta de privilégios a igrejas

Por Saulo Pereira Guimarães
Atualizado em 9 jul 2018, 12h49 - Publicado em 6 jul 2018, 18h48
Marcelo Crivella - live Facebook - internet
(Aline Massuca/Folhapress)

Café da Comunhão. Assim batizada, a reunião realizada por Marcelo Crivella no Palácio da Cidade na última quarta (4) está no centro de uma polêmica que deve agitar a cidade nos próximos dias. O encontro durou pouco mais de 1 hora, contou com a presença do pré-candidato a deputado federal Rubens Teixeira e serviu para o prefeito dar declarações que foram interpretadas como oferta de privilégios a igrejas, após serem gravadas e tornadas públicas pelo jornal O Globo. Por conta da situação, parlamentares da oposição se articulam para pedir o impeachment por improbidade administrativa.

Facilidades em relação à marcação de cirurgias e resolução de problemas vinculados a IPTU foram algumas das vantagens oferecidas. Apontada como funcionária há 15 anos do bispo licenciado da Igreja Universal, uma mulher chamada Márcia é indicada como agendadora de operações de vista em hospitais federais para a plateia de pastores. “Se os irmãos tiverem alguém na igreja com problema de catarata, se os irmãos conhecerem alguém, por favor, falem com a Márcia. É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, vai encaminhar e, daqui a uma ou duas eles estão operando”, diz Crivella. “Tem pastores que estão com problemas de IPTU. Igreja não pode pagar IPTU, nem em caso de salão alugado. Mas, se você não falar com o doutor Milton, esse processo pode demorar e demorar”, afirma em outro. “Vamos aproveitar esse tempo que nós estamos na prefeitura para arrumar nossas igrejas”, chega a defender o prefeito

Em sua conta no Twitter, o vereador Tarcísio Motta, do PSOL, compartilhou um trecho da gravação do evento:

A situação fez com que pelo menos três parlamentares começassem a trabalhar em pedidos de impeachment contra Crivella. Um deles é Paulo Pinheiro, do PSOL. Seu gabinete enviou ao Ministério Público um pedido de abertura de investigações por conta do encontro suspeito. O entendimento é que houve uso do cargo para oferta de vantagens a segmentos privados específicos, o que é ilegal. “O slogan de campanha de Crivella muidou. Não é mais cuidar das pessoas. É cuidar das suas pessoas”, brinca o vereador. Já Teresa Berger (PSDB) marcou para a próxima segunda (09) uma reunião na Câmara Municipal para discutir a convocação extraordinária dos parlamentares em função da situação.  “Nunca vi nada semelhante na administração pública”, comenta a ex-secretária de assistência social. Caso seja confirmada, a volta às atividades do plenário em meio às férias pode ser o 1º passo nas discussões sobre um pedido de impeachment. O retorno dos nobres ao trabalho não implicaria em novos gastos para o Município, já que suas equipes seguem trabalhando apesar do recesso. Também no Palácio Pedro Ernesto, Átila Alexandre Nunes (MDB) também deve pedir o afastamento de Crivella e acionar o Ministério Público. Seu pai, Átila Nunes, é deputado na Alerj pelo MDB e criticou a reunião da última quarta. “Ao que tudo indica, ele usa a máquina da prefeitura para alavancar a religião dele”, afirmou.

A acusação de favorecimento a grupos evangélicos é negada pela prefeitura. “Desde o início de sua gestão, o prefeito Marcelo Crivella já recebeu os mais diversos representantes da sociedade civil, para tratar dos mais variados assuntos, tanto em seu gabinete quanto no Palácio da Cidade”, diz o órgão em nota (leia o texto na íntegra ao fim da reportagem). De acordo com assessores, o encontro era aberto, contou com a presença de outras pessoas além de membros de igrejas e foi realizado em um espaço com capacidade para 200 pessoas. Isso impossibilitaria a presença de 250 convidados, conforme noticiado pela imprensa. Além disso, eles afirmam que Márcia e outros facilitadores apontados por Crivella no encontro não estão a serviço apenas dos religiosos, mas de todos cidadãos, e não têm como interferir na  fila do Sisreg, sistema que ordena as cirurgias feitas pelo Município.

Explicações à parte, a novidade chega no pior momento possível. No mesmo dia do encontro, Paulo Messina pediu demissão da Casa Civil. Apelidado de primeiro-ministro, o principal articulador do prefeito na Câmara teria pedido para deixar o governo após uma longa disputa de influência no governo com o secretário de educação César Benjamin. Formada por várias tramas, a novela promete se manter quente nos próximos capítulos.

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Leia a nota completa enviada pela prefeitura:
A Prefeitura do Rio informa que a reunião citada teve como objetivo prestar contas e divulgar serviços importantes para a sociedade, entre eles o mutirão de cirurgias de catarata e o programa sem varizes.  A Prefeitura conta, inclusive, com o apoio dos meios de comunicação para ampliar essa divulgação.

Desde o início de sua gestão, o prefeito Marcelo Crivella já recebeu os mais diversos representantes da sociedade civil, para tratar dos mais variados assuntos, tanto em seu gabinete quanto no Palácio da Cidade.

Vale lembrar que, ao final do governo passado, parte da imprensa foi convidada para uma festa, essa sim com todas as pompas e circunstâncias, nas dependências do mesmo Palácio da Cidade, em que foi servido champanhe à vontade. Só esse evento custou cerca de R$ 200 mil aos cofres do município.

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