Vamos passear no cemitério?
Acredite: visitar o Cemitério São João Batista é um programa legal e surpreendente
Paris tem o Père-Lachaise, a última morada de personalidades como a cantora Edith Piaf, a diva Maria Callas, o escritor Marcel Proust, o dramaturgo Molière, o compositor Chopin e o roqueiro Jim Morrison. Viúvas do Muro de Berlim costumam reverenciar o filósofo Karl Marx no Highgate, em Londres. Quem visita Buenos Aires não dispensa uma passagem pelo La Recoleta, onde repousa a lendária primeira-dama argentina Evita Perón. O hábito não é muito comum no Rio, mas os dois principais cemitérios da cidade exibem, como nenhum outro do Brasil, um conjunto notável de jazigos, mausoléus e esculturas que merece ser visto. Eles formam verdadeiros museus a céu aberto. Se quase 1 milhão de pessoas vão anualmente ao Père-Lachaise, o São João Batista, em Botafogo, atrai o modesto número de 72 000 ? excluindo as quase 120 000 que passam por lá no Dia de Finados. Entre os cerca de 40 000 jazigos, distribuídos por uma área de 38 000 metros quadrados, estão nomes célebres como os cantores Carmen Miranda, Cazuza, Vicente Celestino e Clara Nunes ? os mais visitados no Dia de Finados, ao lado do inventor Santos Dumont ?, além de presidentes da República, figuras históricas, nobres da época do império, conhecidas famílias fluminenses e até os assim chamados imortais da Academia Brasileira de Letras.
Muitos túmulos de anônimos e famosos representam belos exemplos de arte sacra. São trabalhos cuidadosamente esculpidos em mármore, bronze e granito, que adornam as quadras mais nobres. Com o auxílio de um guia, é possível identificar estilos artísticos variados e esculturas de nomes importantes do gênero, como Heitor Usai e Rodolfo Bernardelli, autor das obras que enfeitam o topo do Teatro Municipal, no Centro. “Há belas sepulturas neoclássicas, neogóticas, art déco, art nouveau e ecléticas”, enumera o professor e arquiteto especialista em história da arte Milton Teixeira, que durante dez anos conduziu visitas guiadas ao local.